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Sermão "A FIDELIDADE DO JUSTO" Dn 6 V 1-24

INTRODUÇÃO:


Neste dia, maravilhoso, quero falar de um homem chamado Daniel, um homem que era como nós. Este homem que num determinado momento da sua vida fez a diferença entre os demais. A sua vida é exemplo para nós até o dia de hoje, podemos tirar exemplos excelentes para os dias de hoje. Este simples homem assumiu posição de honra entre reis, pelo simples fato de servir com total fidelidade a Deus.

Sua fidelidade perante Deus marcou sua historia e as lições de vida que ele deixou, para nós, podem também mudar a vida de milhares de pessoas.

Não conheço a maneira que você chegou aqui ou por que tipo de problema que você pode estar passando. Mas posso lhe dizer com convicção que o mesmo Deus que livrou a Daniel na cova dos leões pode, de igual modo, livrar você da situação que você está passando.

Você pode estar aqui neste dia sem esperança alguma, sem expectativas de ver a luz brilhar na sua vida. Acusações podem ter maltratado você e quem sabe você está sendo vitima de uma punição que você não merecia e um sofrimento está lhe perturbando.

Eu creio que neste dia você pode ver um exemplo que Daniel deixou para mim e pra você. A nossa fidelidade perante Deus tem sido continua? A nossa fidelidade para com Deus tem sido diferente em meio aos problemas? Como podemos então tirar lições para nós?

Daniel mostrou uma única postura, a sua fidelidade permaneceu estável, independentemente da circunstancia pela qual passou. O livramento de Deus chegou no tempo devido, como recompensa da sua integridade.



1. ANTES DAS ACUSAÇÕES. (v 5b) “Jamais encontraremos algum motivo para acusar esse Daniel, a menos que seja algo relacionado com a lei do Deus dele”.

Daniel foi vitimado de acusações devido a sua vida de devoção a Deus. Não havia acusações contra o procedimento de Daniel, sua vida era de integridade e se destacava entre os outros governantes. Podemos notar no versículo quatro “Diante disso, os supervisores e os sátrapas procuraram motivos para acusar Daniel em sua administração governamental, mas nada conseguiram...”

A sua integridade perante Deus e os homens fizeram dele um exemplo o versículo continua dizendo “Não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente.”

Daniel foi acusado perante uma lei que os sátrapas pediram ao rei que fizesse para que pudessem ter algo para acusar a Daniel, no versículo sete podemos ver “Todos os supervisores reais, os prefeitos, conselheiros e os governantes concordaram em que o rei deve emitir um decreto...”

Neste decreto ninguém poderia buscar, nem adorar outros deuses num espaço de tempo de trinta dias. A sentença era que fossem jogados dentro de uma cova de leões aqueles que desobedecessem ao decreto.

Visto que Daniel tinha uma comunhão com Deus, ele orava três vezes ao dia ao seu Deus, o nosso Deus.

Daniel foi acusado pelos sátrapas. A sua comunhão para com Deus não impediu que as acusações chegassem até ele.

Aplicação: como tem sido a sua fidelidade para com Deus? Isso não quer dizer que você não pode ser acusado de uma forma ou de outra, quem são os teus acusadores? Será que você sabe de quem estou falando? Ou você pensa que estou lendo seus pensamentos? O que você deve fazer neste momento?

Permaneça com sua fidelidade para com Deus e o livramento ele trará sobre sua vida. Daniel tinha uma vida de devoção, de fidelidade, perante o Senhor de forma continua, assim devemos ter uma vida de devoção.

Jesus Cristo é a ponte que leva você a ter uma comunhão com o Senhor. Somente o Senhor Jesus é poderoso para perdoar seus pecados e fazer você ter uma comunhão com o Deus de Daniel.

Este dia é o dia de você tomar uma decisão. Se você ainda não tem uma comunhão com o Senhor. Aceite a Cristo Jesus como seu único e suficiente salvador e procure ter a comunhão que Daniel teve antes de quaisquer acusações.

2. DURANTE A PUNIÇÃO. (v 16) “Que o seu Deus, a quem você serve continuamente, o livre!”.

Como dissemos no inicio a fidelidade do Justo, no caso de Daniel, não impediu dele passar pela punição dos seus acusadores. Mas podemos perceber que a fidelidade de Daniel para com se Deus foi tão constante que ele não temeu a cova de leões. Levaram-no para cova. Este era a sentença daquele que desobedecesse ao decreto que não poderia ser revogado.

O que o rei decretava isso deveria ser feito. Não há relatos na bíblia que Daniel falou alguma coisa quando estava a caminho da cova.

Creio que o que fortaleceu Daniel naquele momento fora as palavras do rei Dario, no versículo dezesseis: “Que o seu Deus, a quem você serve continuamente, o livre!”. Naquela mesma noite o próprio rei não conseguira dormir devido a angustia que estava passando, ele queria livrar a Daniel da cova, mas existe um Deus que livrou a Daniel na cova.

Esta era a grande diferença, a fidelidade de Daniel era tamanha que tanto faz como tanto fez, se fosse para vida ou para a morte, ele permaneceria fiel ao Senhor. Ele continuou firme e não negou a sua fé no Senhor dos exércitos.

Ele sofreu as conseqüências, a punição severa, a desobediência aos homens custou uma punição, mas a sua obediência ao Senhor Deus, sua fidelidade, resultou em vitoria. O Senhor livrou a Daniel dentro da cova dos leões.

Aplicação: neste dia não quero lhe falar de um Deus que vai te livrar dos teus problemas, mas sim, um Deus eu vai te livrar em meio aos teus problemas.

A situação que você não agüenta mais, e você está pensando em baixar os braços e dizer “chega!!!” e quem sabe está desiludido da vida, saiba de uma coisa, Deus está com você dentro da sua cova, qual é a sua cova hoje? O que tem te trazido desconforto e medo?

Saiba que Daniel passou pela cova, ele foi acusado e pagou pela desobediência ao decreto do rei. De igual modo quem sabe você foi acusado injustamente ou até mesmo justamente, e você está recebendo certa punição, creia que Deus está ao seu lado dentro dos seus problemas com você.

Quem sabe a sua cova tem sido o seu filho nas drogas ou seu esposo que lhe acusa de tantas coisas por causa da sua fidelidade para com seu Deus. No momento certo Deus traz a vitoria e livra seus servos dos momentos de provação e angustia.

O salmo 37 v 3-6 nos diz: “Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança... (v6) diz: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente.”

Não existe coisa melhor do que desfrutar das bênçãos que o Senhor nos prometeu, quem sabe não seria esta confiança que Daniel tinha no Senhor.

E você, tem sido fiel ao Senhor durante as suas provações? Se não tem sido desta forma, hoje é o dia de você se achegar mais a Deus com comunhão e fidelidade para que possais desfrutar da graça do Senhor em sua vida.

3. DEPOIS DO SOFRIMENTO. (v 22) “O meu Deus enviou o seu anjo, que fechou a boca dos leões. Eles não me fizeram mal algum, pois fui considerado inocente a vista de Deus.”

Este é o melhor momento que uma pessoa pode vivenciar, quando a provação passou, quando a tempestade cessou, quando o vento forte se acalma. Quando você percebe que seu sofrimento chegou ao termino. Quando estamos livres de uma fase difícil. O que Deus promete chega na hora certa e sem atrasos, ele cumpre com que promete.

Tentei imaginar a alegria de Daniel quando ouviu as palavras do rei dizendo: “Daniel, servo do Deus vivo, será que o seu Deus, a quem você serve continuamente, pôde livrá-lo dos leões? ”

Daniel respondeu ainda dentro da cova, ele respondeu com respeito ao rei “Ó rei, vive para sempre!”

A fidelidade do justo fez a diferença e certamente sua vitoria teve um sabor de mel. Podemos ver a recompensa dos ímpios, daqueles que te procuram ver fracassando na caminhada cristã, sem mesmo que Daniel pedisse alguma coisa, Deus recompensou os seus acusadores, eles receberam o que desejavam a Daniel, eles foram degustados pelos leões, como diz o versículo 24:

“.. por ordem do rei, os homens que tinham acusado Daniel, foram atirados na cova dos leões, junto com suas mulheres e os seus filhos. Antes de chegarem ao fundo, os leões os atacaram e despedaçaram todos os seus ossos... ”

Eles foram aniquilados, e isso faz toda diferença na vida daquele que é fiel ao Rei dos reis. A sua fidelidade foi constante, antes, durante e depois da provação.

Aplicação: meus irmãos em Cristo Jesus, não pensem que nossa vida é somente de uma única vitoria, cada uma têm suas provações e a cada dia temos que carregar a nossa cruz. É certo que nos alegramos com a nossa vitoria ou com a do nosso irmão, mas temos que ser cientes de que o que fará a diferença na nossa vida é a nossa comunhão e fidelidade para com o nosso Deus.

Se hoje você pensa que não tem mais como você continuar na caminhada, pense bem, o Deus de Daniel está perto de você te dando cobertura e te diz que você pode confiar nele e ele agirá “Salmo 37: 5 ... entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.”

Quem sabe neste dia, que Deus criou, é o dia que ele está tirando você da cova dos leões da vida, das suas provações. E está recompensando seus acusadores. Lembre-se que não fora Daniel que fez sua vingança, mas foi simplesmente a justiça de Deus que foi estabelecida.

Daniel permaneceu fiel antes, durante e depois da sua provação.

Conclusão: Que possamos agir de igual modo meus amados, o juízo pertence a Deus, o que devemos fazer é permanecer com fidelidade perante o nosso Deus e diante dos homens assim como Daniel fora, e certamente ele deixará claro como a alvorada que somos justos!

Meus amados irmãos, que neste dia, possamos chegar a uma decisão, aquele que procura ser justo, que continue sempre buscando a fidelidade para com Deus, sem parar, sem desistir da caminhada, e aqueles que estão indecisos acerca da sua fidelidade para com Deus, que tomem uma decisão de uma vez por todas e certamente receberão o livramento do Senhor no momento da sua provação.

Que a nossa fidelidade para com nosso Deus seja de forma continua, antes, durante e depois da provação.

Ev. Ruben GUEDES DOS ANJOS
http://www.facebook.com/rubenguedes

Objeções á Doutrina Calvinista

1ª objeção: Os propósitos de Deus não podem ser frustrados. Se Deus pretendeu, com a morte de Cristo, salvar a todos e nem todos se salvam, segue-se que Seu propósito foi frustrado. Sproul, em Eleitos de Deus, argumenta: “Os arminianos não têm razão verdadeira para crer que Jesus não morreu em vão. São deixados com um Cristo que tentou salvar a todos, mas na realidade não salvou ninguém.”[1] Resposta Se Deus pretendeu com a morte de Cristo realmente salvar, indiscriminada e incondicionalmente, a todos os seres humanos, certamente poderíamos dizer que os propósitos de Deus seriam frustrados, caso todos não se salvassem. Mas Deus enviou Jesus para prover salvação a todos, salvação esta que só é efetiva naqueles que crêem. Jesus veio remover os obstáculos que separavam o homem de Deus, tornando possível a sua salvação. Os arminianos não ensinam tal como expõem os calvinistas. [1] R. C. Sproul, Eleitos de Deus, p. 154. 2ª objeção: A Expiação Ilimitada leva ao Universalismo. Berkhof observa: “Deve-se notar também que a doutrina segundo a qual Cristo morreu com o propósito de salvar todos os homens leva logicamente ao universalismo absoluto, isto é, à doutrina que afirma que todos os homens são salvos de fato. É impossível que aqueles por quem Cristo pagou o preço, cuja culpa Ele removeu, se percam por causa dessa culpa. Os arminianos não podem parar no meio do caminho, mas devem ir até ao fim”[1] Resposta Berkhof parte do princípio de que os arminianos acreditam que, com a morte de Cristo, Deus pretendeu salvar todos os homens incondicionalmente, e, por essa razão, conclui que a crença na Expiação Ilimitada leva ao Universalismo. Devo concordar que esta seria uma conclusão inevitável caso a doutrina da Expiação Ilimitada verdadeiramente ensinasse dessa forma. Mas, como vimos, esta não é a expressão da verdade. Cristo morreu por todos os homens num sentido provisional, o que todo calvinista concorda, embora acrescenta que Cristo assegurou a salvação daqueles por quem Ele morreu. O importante aqui é entender que a expiação é provisional, quer acreditemos que Cristo assegurou a salvação daqueles por quem Ele morreu, quer acreditemos que Cristo tornou possível a salvação a todos os homens. Não há como conceber a expiação de outra forma: ela é provisional até ser aplicada. Certamente o calvinista insistirá, dizendo que, se Cristo assegurou a salvação daqueles por quem Ele morreu, então todos deveriam ser salvos, o que muito prontamente admitiríamos. Realmente se Cristo, na cruz, tivesse assegurado a salvação daqueles por quem Ele morreu, todos deveriam ser salvos. Mas essa alegação deve, primeiro, ser provada pelos calvinistas. Esta objeção despreza que os benefícios concedidos por meio de uma satisfação penal podem depender de certas condições a ser cumpridas da parte do ofensor. O simples fato de Jesus morrer por alguém não o libera automaticamente da condenação. Portanto, esta objeção só poderia ser lançada contra os arminianos se os mesmos sustentassem que Cristo morreu por todos os homens e, ao mesmo tempo, que Cristo assegurou a salvação daqueles por quem Ele morreu, ou, ainda, que a morte de Cristo libera automaticamente o pecador da condenação. [1] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 396. 3ª objeção: Se Cristo morreu por todos e nem todos se salvam, o sangue de Cristo foi derramado em vão. Resposta Em primeiro lugar, o sofrimento de Cristo não foi proporcional ao número de pessoas por quem Ele morreu. Para uma única pessoa ou para toda a humanidade, o sofrimento seria o mesmo. Não haverá o caso de uma parte do sofrimento de Cristo não ser aproveitada. Em segundo lugar, mesmo para aqueles que não serão salvos, Cristo não morreu inutilmente. Eles poderiam ter sido salvos, caso não rejeitassem essa oferta graciosa. A Bíblia em nenhum lugar afirma que as pessoas se perdem porque Cristo não morreu por elas, mas elas se perdem por causa da incredulidade, por rejeitarem o que Cristo fez na cruz em seu favor. Em terceiro lugar, a morte de Cristo por toda a humanidade foi um ato de generosidade da parte de Deus. Muitas pessoas certamente não irão se beneficiar da morte de Cristo, mas a sua recusa não diminui a glória de Deus por ter sido generoso e proporcionado salvação para elas também. 4a objeção: Se Cristo morreu por aqueles que vão para o inferno, qual benefício eles têm de Sua morte? Resposta Na época de Moisés, em uma certa ocasião, o povo de Israel murmurou contra Deus. Como castigo, Deus enviou várias serpentes entre o povo e muita gente morreu. No entanto, em Sua misericórdia, Deus também proveu uma serpente de bronze, para que todo aquele que olhasse para a serpente de bronze não morresse. Então disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente de bronze, e põe-na sobre uma haste; e será que todo mordido que olhar para ela viverá. Fez, pois, Moisés uma serpente de bronze, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, tendo uma serpente mordido a alguém, quando esse olhava para a serpente de bronze, vivia (Nm 21.8-9). Pergunto: qual o benefício que os israelitas picados pelas serpentes tiveram da serpente de bronze que Deus lhes proveu mas que eles se recusaram a olhar? Nenhum, obviamente, mas Deus obteve a glória por ser generoso o suficiente para prover para eles também. Da mesma forma acontece, como já foi dito na objeção anterior, com a morte de Cristo. Um ato de generosidade não é realizado somente quando se tem assegurado um resultado positivo. Os habitantes de Jerusalém não foram ajuntados, como Jesus queria (Mt 23.37); no entanto, mesmo sabendo que não conseguiria (por causa da obstinação do povo), Ele tentou. A maioria dos calvinistas acredita que o Evangelho deve ser pregado a todas as pessoas, porque, primeiramente, é uma ordenança divina. Sabemos que nem todos que ouvem o Evangelho serão salvos. Quais benefícios esses que perecem terão das boas-novas de Cristo? Nenhum benefício espiritual, certamente, mas o importante é que a glória de Deus foi declarada. 5a objeção: Quando Jesus morreu, várias pessoas se encontravam há muito tempo no inferno. Não seria ilógico Jesus morrer por elas, sendo que elas já foram condenadas? Resposta Da mesma forma poderia ser perguntado: quando Jesus morreu, várias pessoas se encontravam há muito tempo no céu. Não seria ilógico Jesus morrer por elas, sendo que elas já foram salvas? A falha desta objeção é que ela torna o decreto da expiação num decreto temporal, e não eterno. Talvez nem fosse necessário lembrar que Jesus é considerado “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Ap 13.8) 6a objeção: Por que Deus enviaria Jesus para morrer por aqueles que, em Sua onisciência, sabia que não receberiam essa provisão? Resposta Por que Deus mandou Noé pregar para pessoas que, em Sua onisciência, sabia que não aceitariam Sua mensagem? Por que Deus graciosamente favoreceu Adão sendo que, em Sua onisciência, sabia que ele não usaria esses dons para o seu próprio bem? Por um simples motivo: Deus é benevolente. 7a objeção: Haveria sinceridade da parte de Deus enviar Jesus para morrer por aqueles que Ele nunca pretendeu salvá-los? Resposta Haveria sinceridade da parte de Deus ordenar que o Evangelho fosse pregado a toda a humanidade, se Ele nunca pretendeu salvar toda a humanidade? O problema diante de nós é o mesmo e a solução é simplesmente esta: Deus pretende salvar a todos, mas não sem seu arrependimento e fé. Ninguém é dito estar fora da vontade salvífica universal de Deus. 8a objeção: Por que Deus enviaria Seu Filho para morrer por aqueles que Ele criou para condenar? Resposta E quem disse que Deus criou alguém para condená-lo? Deus não criou o homem para salvá-lo ou condená-lo, mas para a Sua própria glória. 9a objeção: As Escrituras apontam uma limitação muito definida quando falam daqueles por quem Cristo entregou Sua vida. Esses são freqüentemente chamados de “Suas ovelhas,” “Sua Igreja,” “Seu povo,” conforme Mt 1.21; Mt 20.28; Mt 26.28; Jo 10.15; Jo 15.13; Ef 5.23-26. Resposta Ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados (Mt 1.21). Os calvinistas acreditam que o verso faz referência aos eleitos, tratados aqui como “seu povo,” mas Mateus está falando da nação de Israel, não dos eleitos. A nação de Israel é que é tratada por Deus como “meu povo.” Uma Concordância Bíblica pode confirmar. Mas qual defensor da Expiação Limitada acredita que a nação de Israel é o único objeto da expiação de Cristo? Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20.28). Pois isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados (Mt 26.28). Jesus não está constrastando “muitos” com “todos,” mas “muitos” com “poucos.” Ele deu sua vida em resgate de muitos, não poucos. O mesmo contraste é visto em Rm 5.15, onde Paulo diz que, pela desobediência de Adão, morreram muitos. O apóstolo claramente não quis dizer que morreram muitos e não todos, mas muitos e não poucos. Afinal, as conseqüências do pecado de Adão sobreveio sobre todos, sem exceção. Calvino foi perspicaz o suficiente para perceber isso. Ele comenta sobre Mt 20.28: A palavra muitos não é colocada definidamente para um número fixo, mas para um número amplo; pois ele contrasta a si mesmo com todos os outros. E neste sentido é usado em Rm 5.15, onde Paulo não fala de qualquer parte dos homens, mas abrange toda a raça humana.[1] Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15.13). Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25). Quanto a Jo 15.13, há várias razões pelas quais essa passagem não favorece a doutrina da Expiação Limitada: 1) Jesus não está falando da extensão da expiação, mas da medida do amor de Cristo, como pode ser notado dos versos 9 ao 13. O amor é o tema central aqui. Se algo pode ser provado por este verso, não é que a expiação é limitada, mas que Jesus ama imensamente Seus apóstolos. 2) Jesus está utilizando uma ilustração para falar do Seu imenso amor pelos apóstolos. Ele não está divulgando uma doutrina expositivamente. E é consenso que uma doutrina que se apóia apenas em ilustrações tem uma base muito frágil. 3) A referência não é diretamente a Jesus mas a “alguém” (“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” v. 13). Jesus diz que uma pessoa que morre pelos seus amigos demonstra um enorme amor por eles, o maior exemplo de amor concebível entre os seres humanos. Ele contrasta, implicitamente, esta maior demonstração de amor entre os homens com a Sua iminente demonstração de amor, ainda maior, quando haveria de entregar a Sua própria vida pelos apóstolos, uma vez que, obviamente, o amor que Jesus estava para demonstrar na cruz era infinitamente maior ao que alguém poderia demonstrar morrendo pelos seus amigos, pois não foi quando éramos Seus amigos mas quando éramos Seus inimigos que Jesus morreu por nós (Rm 5.10). Em Jo 15.13 não caberia dizer “inimigos,” pois, como a referência não é a Ele próprio, mas a alguém, dificilmente Jesus diria que alguém doaria sua vida pelos seus inimigos, visto que jamais um ser humano morreria pelos seus inimigos. Entretanto, como diz o apóstolo Paulo, “poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer” (Rm 5.7). 4) Jesus está personalizando Seu amor pelos apóstolos. Mesmo se o verso estivesse falando da expiação, ele não traria nenhum problema para quem sustenta que Jesus morreu por todos, pois é natural, quando nos dirigimos a um grupo de pessoas, personalizarmos algo que também é comum a outros. Mesmo amando toda a nossa família, é comum, em certas ocasiões, particularizarmos esse amor por um membro específico, sem, contudo, implicar que não amamos os demais. 5) Os “amigos” de Jesus são seus apóstolos, não os “eleitos,” como os versos subseqüentes evidenciam. Se este verso serve de base para a doutrina da Expiação Limitada, ele é mais limitado do que gostariam seus defensores. Em Ef 5.25, os maridos são orientados a amar as suas mulheres na mesma medida em que Cristo amou a Sua igreja, a ponto de morrer por ela. Jesus (Jo 15.13) e Paulo (Ef 5.25) não estão querendo impor limites à expiação feita por Cristo, mas estão declarando que o amor de Cristo pelos Seus é imenso. Nos dois versos, o que está em vista é o amor de Cristo, não a expiação. Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas (Jo 10.15). Aqui também Cristo não está falando da extensão da expiação. Ele está contrastando a atitude do mercenário, que é abandonar as ovelhas tão logo vir o lobo, com a atitude dele, de dar a sua vida por elas. O que Jesus está querendo provar aqui é que Ele tem cuidado pelas Suas ovelhas, não que a expiação é limitada. Portanto, nenhum desses versos apresentados pelos calvinistas impõe qualquer limitação à extensão da expiação. [1] João Calvino, Calvin’s Commentaries, Comentários sobre Mt 20.28. 10a objeção: Jesus, em Jo 17, rogou unicamente pelos crentes, e seria impensável que Ele tivesse morrido por aqueles pelo quais Ele não intercedeu. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus (Jo 17.9). Berkhof pergunta: “Por que limitaria Ele a Sua oração intercessória, se de fato pagou o preço por todos?” (Teologia Sistemática, p. 396) Resposta Não há por que negar que a intercessão de Cristo por nós está intimamente ligada à expiação. É porque Cristo morreu por nós que Ele pode interceder a nosso favor. Mas disso não segue que, visto que esta intercessão (em Jo 17) foi restrita, a extensão da expiação também o é. Quatro pontos negligenciados pelos calvinistas são suficientes para responder esta objeção: 1 – Distinção entre o que é potencial e o que é de fato. Dizer que Deus proveu salvação em Cristo para toda a humanidade não é o mesmo que dizer que Deus salvará toda a humanidade. João diz que Jesus é o “Salvador do mundo” (1Jo 4.14), mas isso não quer dizer que Ele irá salvar todo o mundo, mas que, potencialmente, Ele é o Salvador de todo o mundo. Qualquer um que for a Cristo tem a promessa de ser bem recebido e obter a vida eterna. Qualquer calvinista acredita que a morte de Cristo lança as bases para a oferta genuína do Evangelho. Logicamente, esta oferta inclui a promessa de que, qualquer um que for a Cristo, será intercedido por Cristo em seu favor perante o Pai. Disto infere-se, também, que Cristo, potencialmente, é um sacerdote proporcionado para toda a humanidade. Novamente, não que Ele, de fato, intercede continuamente pelos pecados de toda a humanidade, mas que toda a humanidade tem a promessa de tê-lo como intercessor, bastando que se arrependa e creia. Até mesmo os escolhidos de Deus não têm Cristo como intercessor antes de terem-no recebido como Salvador. 2 – A intercessão em Jo 17 é para os crentes. Jesus claramente está fazendo uma intercessão em favor dos crentes, não meramente em favor dos eleitos, como tais. A intercessão de Cristo é para que os seus discípulos e “aqueles que... hão de crer” (v. 20) nele, “sejam um,” (vv. 11, 21-22), para que Deus “os livres do mal,” (v. 15) santifique-os “na verdade” (v. 17), e para que “sejam perfeitos em unidade” (v. 23). Cristo não está intercedendo a Deus para que os “eleitos” possam crer, mas pela unidade, preservação e santificação dos crentes. 3 – A natureza da intercessão. Como pôde ser visto, a intercessão de Cristo foi específica, para a unidade dos crentes. Certamente não poderia incluir toda a humanidade, pois como poderia Cristo rogar ao Pai para ser perfeito em unidade com aqueles que O rejeitam? Portanto, a limitação da intercessão se deve, não a alguma limitação na extensão da expiação, mas à natureza da intercessão. 4 – Não se diz que Cristo nunca tenha intercedido pelos réprobos. Não é porque Cristo fez uma oração específica em favor dos crentes, que Ele nunca pode ter intercedido em favor de todo o mundo. Mesmo se não houvesse nenhum registro de alguma intercessão de Cristo em favor dos réprobos, não provaria que Ele nunca tenha intercedido por eles. Mas Jesus rogou até mesmo pelos Seus assassinos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23.34) Não há nenhuma evidência de que todos que O assassinaram foram salvos. Jesus orou para que incrédulos pudessem crer: “Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.” (Jo 11.42) Certamente no meio daquela multidão havia quem nunca iria crer nele. Jesus também lamentou pelo povo de Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt 23.37) Portanto, não há nada que nos leve a crer que a extensão da expiação seja limitada com base em Jo 17. 11a objeção: Uma Expiação Universal, se não salva todos por quem ela foi pretendida, deixa para o homem acrescentar uma obra à obra completa de Cristo na cruz. Resposta Essa objeção é facilmente respondida, esclarecendo que a fé não é acrescentada à obra expiatória de Cristo, mas é o meio pelo qual os benefícios da cruz são aplicados à vida de uma pessoa. A fé é necessária para a salvação individual e não para aperfeiçoar a obra de Cristo. Pode-se argumentar que a fé é um dos benefícios comprados por Cristo na cruz, mas isso é debatível. As Escrituras não tratam a fé como um benefício comprado, mas como um dom divinamente conferido aos homens para, através dela, receberem os benefícios da cruz. Os calvinistas são unânimes em afirmar que aos não-eleitos é dada oportunidade de salvação, e que os benefícios da cruz podem ser aplicados a eles, contanto que se arrependam e creiam no Evangelho. Se tomarmos a fé como uma obra acrescentada à cruz, como faz esta objeção, chegamos ao absurdo de dizer que Deus está oferecendo aos não-eleitos uma salvação pela graça (pelos méritos de Cristo) mediante uma obra de sua parte. Isso, logicamente, seria contraditório. 12a objeção: Se a aplicação dos benefícios da morte de Cristo está condicionada a um ato de fé do homem, a expiação poderia ter terminado num fracasso. Ou, como Sproul diz: “Se o homem está verdadeiramente morto no pecado e preso no pecado, uma mera expiação potencial ou condicional não somente pode ter acabado em fracasso, como muito certamente teria acabado em fracasso.” (Eleitos de Deus, p. 154) Resposta Com esta objeção, Sproul subestima (ou desconsidera) tanto a atração do Espírito Santo quanto a onisciência divina. A atração do Espírito Santo, porque ele não acrescenta que “mortos em pecados” podem, pelo Espírito, ser levados a crer e ser salvos. E a onisciência divina, porque ele pressupõe que Deus arquiteta um plano sem previamente conhecer o seu resultado. Deus não planejaria algo sabendo que seria o maior fracasso da humanidade. 13ª objeção: A expiação não é ilimitada, considerando que Cristo não morreu pelo diabo e seus anjos. Roger Nicole, em um artigo intitulado The Case for Definite Atonement, falando dos defensores da Expiação Ilimitada, argumenta: “... mesmo em sua concepção, o amor de Cristo não é ilimitado, visto que ele não abrange os anjos caídos (Hb 2.16). Assim, em qualquer caso todas as criaturas que necessitam de redenção não são incluídas.” Em outras palavras, ele está dizendo que, visto que não houve expiação para os anjos que pecaram, de qualquer forma a expiação feita por Cristo é limitada. Resposta Para responder essa objeção é preciso levar em consideração que: 1 - Cristo não poderia ter morrido pelos anjos que pecaram. Isto porque Ele precisaria ter a mesma natureza daqueles por quem Ele faria expiação, e os anjos não são humanos. 2 - O fato de Jesus ter proporcionado expiacão para os homens e não para os anjos não implica que Ele ama os primeiros mas não os últimos. Isso, aliás, nem seria possível: o amor de Deus não é caprichoso. Além disso, ninguém sabe quão graciosamente Deus dotou os anjos para que eles não pecassem, não tendo nenhuma obrigação de agir assim. Enfraquecer o amor divino por total desconhecimento do que Deus pode ter feito por eles é uma conclusão precipitada, além de injusta e desonrosa a Deus. 3 - Os anjos caídos pecaram na maior luz que Deus já proporcionou às Suas criaturas, e, ainda por cima, em estado de glória. Sua natureza não se compara com a nossa natureza caída, nem mesmo com a de Adão, antes da Queda. Eles estavam em contato com Deus, como nenhum ser humano jamais esteve. O pecado que eles cometeram muito provavelmente foi considerado por Deus como imperdoável. Portanto, o fato de Jesus não ter morrido pelos anjos, concluo, não é porque Deus não amou os anjos que pecaram, nem foi porque Ele decidiu arbitrariamente limitar a expiação aos humanos. Deus não proporcionou expiação aos anjos porque simplesmente não há expiação para pecados imperdoáveis! 14a objeção: Se Cristo morreu por todos os pecados, incluindo o da incredulidade, não há nenhum pecado pelo qual aqueles por quem Ele morreu podem sofrer punição. John Owen argumenta: “Deus impôs a sua devida ira, e Cristo suportou as dores do inferno por todos os pecados de todos os homens, ou por todos os pecados de alguns homens, ou por alguns pecados de todos os homens. Se este último for correto, alguns pecados de todos os homens, isso significa que todos os homens têm alguns pecados pelos quais têm de responder a Deus, e, portanto, nenhum homem será salvo. Se a segunda opção for correta (o que nós afirmamos), isso significa que Cristo sofreu por todos os pecados de todos os eleitos no mundo. Se a primeira é correta, por que, então, todos os homens não se encontram livres da punição de todos os seus pecados? Você dirá: Por causa de sua incredulidade, eles não crêem. Mas esta incredulidade é pecado ou não? Se não é, por que eles devem ser punidos por sua causa? Se esta incredulidade é pecado, Cristo sofreu a punição devida a ela, ou não? Se Ele sofreu, então, por que esse pecado os impede, mais do que quaisquer outros pecados pelos quais Cristo morreu, de participar dos benefícios da morte dEle? Se Cristo não sofreu por esse pecado, isto significa que Ele não morreu por todos os pecados deles.” (The Death of Death in the Death of Christ) Resposta Em outras palavras, Owen está dizendo que, se Cristo morreu por todos os pecados de todos os homens, incluindo o pecado da incredulidade, então todos serão salvos, visto que não há nenhum pecado pelos quais eles podem ser condenados; como todos não são salvos, então Cristo não morreu pelo pecado da incredulidade de todos, conclui. Sua lógica parece perfeita. Owen não está falando do pecado da incredulidade diária, que até mesmo os crentes experimentam antes de ser levados à fé, mas do pecado da incredulidade final, daquela revolta contra Deus que os impenitentes obstinadamente nutrem até sua morte. Owen falha em sugerir que Cristo morreu pelo pecado da incredulidade final. É um erro pensar que Cristo perdoa pecados pelos quais não houve arrependimento. Qualquer um pode ser perdoado de sua incredulidade, contanto que se arrependa de seus pecados e creia em Cristo, mas ninguém que morre na incredulidade se arrepende de seus pecados, e não podem, portanto, ser perdoados. Se Cristo tivesse morrido pelo pecado da incredulidade final, então certamente não haveria nenhum pecado pelo qual poderíamos ser condenados, e alguém poderia morrer na incredulidade e ser salvo, o que é absurdo. Dizer que Cristo não morreu pelo pecado da incredulidade final não significa que Cristo não morreu por todos os nossos pecados mas que o pecado da incredulidade final é um pecado de natureza imperdoável. Cristo não poderia morrer por ele, mais do que poderia morrer pelo pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo. A lógica de Owen, na verdade, não passa de uma distorção do ensino das Escrituras, apesar de aparentemente lógica e de ter seduzido muitos calvinistas. 15a objeção: A Expiação Ilimitada limita a eficácia da morte de Cristo. Os calvinistas acreditam que, se universalizarmos a extensão, limitamos a eficácia da expiação. Se alguns daqueles por quem Cristo morreu perecer, a morte de Cristo não foi eficaz. Resposta Primeiramente, esta objeção envolve o equívoco de pensar que todos por quem a expiação foi proporcionada devem ser salvos. Mas, como vimos, a liberação da condenação pode depender de certas condições que o pecador deve cumprir. A expiação feita por Cristo não é uma quitação de um débito pecuniário no qual, saldando-se o débito, o devedor está automaticamente liberado. Ninguém foi liberado da condenação no dia em que Cristo morreu pelos seus pecados. Em segundo lugar, a morte de Cristo tem eficácia intrínseca. Uma pessoa pode morrer recusando-se a tomar um remédio gratuitamente oferecido para curar sua doença, mas sua recusa não limita a eficácia do remédio. Obviamente que, se uma pessoa se recusa a tomar um remédio, esse remédio não terá qualquer efeito sobre ela, mas isso não porque o remédio é ineficaz mas porque ela obstinadamente se recusa a tomá-lo. Se tomasse o remédio, ela certamente seria curada. Ao analisar a doutrina da Expiação Ilimitada, os calvinistas indevidamente colocam a culpa da perdição dos pecadores numa suposta ineficácia da morte de Cristo, quando deviam culpar a incredulidade deles. II. Graça Preveniente no Livro de Atos E. Norman Brush A graça de Deus que surge a uma pessoa antes do novo nascimento para despertá-la e detê-la para realidades inobservadas e a faz ver sua pecaminosidade e estado desamparado é algumas vezes chamada graça preveniente. Esta produz convencimento do pecado e um profundo desejo por Deus que somente pode ser satisfeita por uma revelação interior surpreendente de Jesus Cristo. Esta revelação interior é realizada pelo Espírito Santo como um dom da salvação depois que o crente atravessou um período pré-nascimento (longo ou curto) de preparação do coração. Isto é demonstrado claramente no livro de Atos. Homens devotos, alguns dos quais eram “aprovados por Deus,” foram levados repentinamente para uma revelação do Filho de Deus pelo Espírito Santo. Este foi o começo de uma nova era; o início da Igreja de Jesus Cristo do Novo Testamento. O Novo Testamento em geral ensina que TODOS os cristãos genuínos são conscientemente habitados pelo Espírito Santo e Cristo lhes é revelado pelo Espírito Santo. O livro de Atos exibe isto em experiência e São Paulo escreve a doutrina: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9) e “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo... e TODOS temos bebido de um Espírito” (1Co 12.13). Não há cristãos VERDADEIROS sem o Espírito Santo. Isto é o que gera a Igreja. Os discípulos de Jesus antes do Pentecostes não estavam perdidos mas eram “aprovados” por Deus, exatamente como Cornélio. Jesus disse, “Nenhum deles se perdeu” (Jo 17.12). A graça de Deus os levou a um novo e melhor caminho que se tornou possível somente depois do Pentecostes. Esta graça preveniente que os levou precedeu seu entendimento da ressurreição e o derramamento do Espírito Santo. Sua graça é sempre anterior. Os calvinistas reconhecem isto e a chamaram de eleição. Eles dizem que tais homens têm graça salvadora quando sentem esta direção do Espírito Santo. Eles deduzem que, porque eles crêem no Jesus histórico e sentem esta direção eles são nascidos de novo, quando na realidade estão somente em uma experiência pré-Novo Testamento. Muitos nunca sabem que podem ter uma clara segurança da graça salvadora. Nos círculos holiness, estes mesmos tipos de pessoas são ditos procurar uma “segunda benção” ou “receber o Espírito Santo,” quando na verdade eles não são ainda cristãos do Novo Testamento. Esta graça que desperta e convence o pecador e o leva a abominar seus pecados é algumas vezes acompanhada por curtos períodos de amor, alegria e paz muito antes da fé salvadora ser comunicada. Esta graça preveniente é vista em vários lugares no livro de Atos. Encontramos no dia de Pentecostes que judeus devotos de toda nação debaixo do céu (At 2.5) foram despertos pelo Espírito e eles disseram, “Que faremos?” (At 2.37). Estes homens devotos estavam sob a graça preveniente antes do dia de Pentecostes. Em At 8 vemos que o eunuco etíope foi movido pelo Espírito para ler Isaías e Filipe foi levado para se unir a ele no estudo da Bíblia. Em At 9 Saulo é atingido pelo Espírito Santo (sem o apelo do altar), três dias antes de ser dito para levantar e ser batizado e lavar seus pecados e receber o Espírito Santo (assim tornando-se um cristão do Novo Testamento). Em At 10 vemos o Espírito Santo trabalhando com o devoto Cornélio e levando Pedro a ir até ele. Cornélio não era um cristão do Novo Testamento nesta época, mas era “aprovado” por causa de sua fé no Cristo desconhecido. Em At 13.48 vemos muitos gentios “ordenados” glorificando a Deus. Eles estavam sob a misericórdia da graça preveniente de Deus esperando pela Palavra da Verdade. Em At 16 Paulo encontra um jovem rapaz já desperto, ensinado por sua mãe e avó, pronto para ser levado no caminho da fé. Então ele encontrou Lídia levando um grupo de mulheres despertas numa reunião de oração à margem de um rio, prontos para receber as coisas que Paulo pregava. Depois o carcereiro de Filipos tinha conhecimento de Deus o suficiente para perguntar, “Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” Também em At 17.4, em Tessalônica, encontramos gregos devotos, e mulheres principais que estavam sob a graça preveniente esperando ser informadas do dom da graça salvadora. Em Beréia, os pesquisadores da Bíblia estavam ansiosos para ouvir a Palavra de Deus. Em Atenas homens estavam ignorantemente adorando o deus desconhecido e certos homens se uniram a Paulo e creram em Jesus. Em Eféso, em At 19, a graça de Deus precedeu o ensino de Cristo de Paulo, mas eles não eram cristãos do Novo Testamento até Paulo ter vindo e sentiram sua falta do Espírito (que foi uma experiência inferior ao que o Novo Testamento proporcionava) e exortou que eles fossem batizados em nome de Jesus e recebessem o Espírito Santo, dessa forma trazendo-os para o padrão do Novo Testamento. Muitos hoje têm sentido esta obra do Espírito e estavam bem em seu curso até uma experiência de novo nascimento quando são informados a reivindicar uma experiência. Na verdade eles são meramente pecadores despertos e cheios de culpa e temores e muitos caem e abandonam a profissão como uma causa perdida. Deve haver multidões nas igrejas evangélicas que foram despertos por esta gloriosa graça preveniente e alegam ser nascidos de novo e são encorajados a testificar e informados para “considerar” que são salvos e não esperar qualquer habitação do Espírito Santo. Eles são informados que já têm o Espírito Santo, estando eles cientes ou não. Se em uma igreja holiness, eles são instruídos à santidade e a receber o Espírito Santo como uma segunda benção. Que eles necessitam do Espírito Santo é certo, mas quando e se eles precisam, eles são encorajados a provar a perfeição cristã, quando na realidade eles têm sido verdadeiramente nascidos de novo e feitos uma nova criatura em Cristo. III. A Imperfeição do Conhecimento Humano . John Wesley Pregado em Bristol, 5 de março de 1784. “Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos” (1Co 13.9) I. Quão surpreendentemente pouco sabemos de Deus! II. Nós não estamos melhores familiarizados com seus trabalhos de providência, do que com suas obras de criação? III. Nós somos capazes de procurar saber, alguma coisa a mais, sobre suas obras de graça, do que sobre seus trabalhos de providência? IV. Diversas lições valiosas, nós podemos aprender da profunda consciência de nossa própria ignorância. 1. O desejo do conhecimento é um princípio universal no homem, fixado em sua natureza mais íntima. Ele não é variável, mas, constante, em toda criatura racional, a menos, enquanto ele é suspenso por alguns desejos fortes. E ele é insaciável: “O olho nunca está satisfeito com o que vê, nem os ouvidos com o que ouve.” Nem a mente com algum grau de conhecimento que possa ser concebido dentro dela. E ele é plantado, em toda a alma humana, para propósitos excelentes. Ele é pretendido para impedir nossa inércia em qualquer coisa aqui embaixo; erguendo nossos pensamentos para objetos mais altos, mais merecedores de nossa consideração, até que ascendamos à Fonte de todo conhecimento e toda excelência, o Criador de toda sabedoria e toda graça. 2. Mas, embora nosso desejo de conhecimento não tenha limites, nosso conhecimento, em si mesmo, tem. Ele é, de fato, confinado, nos mesmos limites estreitos; muito mais estreitos do que as pessoas comuns possam imaginar, ou homens letrados estão dispostos a admitir: uma forte sugestão, (já que o Criador não faz coisa alguma em vão), que possa haver algumas condições futuras de existência, por meio das quais, este, até o momento, desejo insaciável, possa ser satisfeito, e não haja distância tão grande entre o apetite e o objeto dele. 3. O presente conhecimento do homem está exatamente adaptado para as suas necessidades presentes. Ele é suficiente para nos alertar, e nos preservar dos perigos aos quais nós estamos agora expostos; e para obter o que quer que seja necessário a nós, nessa condição infantil de existência. Nós sabemos o suficiente da natureza e qualidades sensíveis das coisas que estão à nossa volta, tanto quanto elas são subservientes à saúde e força de nossos corpos: nós sabemos como procurar e preparar nossa comida; nós sabemos como construir nossas casas e as mobílias delas, com todas as necessidades e conveniências; nós sabemos apenas, o quanto é conducente, para vivermos, confortavelmente, nesse mundo: Mas das inumeráveis coisas acima, embaixo e ao redor de nós, o muito que sabemos é que elas existem. E nessa nossa ignorância profunda é visto a bondade, tanto quanto a sabedoria de Deus, resumindo seu conhecimento de todos os lados, com o propósito de “encobrir a vaidade do homem.” 4. E, em conseqüência disto, pela mesma constituição de sua natureza, o mais sábio dos homens “sabe,” mas “em parte.” E quão espantosamente pequena é a parte que eles conhecem, tanto do Criador, quando de suas obras! Esse é um tema muito necessário, mas também muito desagradável; porque “o homem tolo seria sábio.” Vamos refletir sobre isso, por enquanto. E possa o Deus da sabedoria e amor abrir nossos olhos para discernir nossa própria ignorância! I. 1. Para começar com o próprio grande Criador. Quão surpreendentemente pouco nós conhecemos sobre Deus! Quão pequena parte de sua natureza, nós conhecemos de seus atributos essenciais! Que concepção nós podemos formar de sua Onipresença? Quem é capaz de compreender Deus, nesse e em todas os lugares? Como ele preenche a imensidão do espaço? Se os filósofos, ao negarem a existência do vácuo, apenas quisessem dizer que não há espaço vazio de Deus, que todos os pontos do espaço infinito é cheio de Deus, certamente, nenhum homem poderia chamar isso à questão. Mas, ainda que o fato seja admitido, o que é Onipresença ou ubiqüidade? O homem não é mais capaz de compreender isso, do que alcançar o universo. 2. A Onipresença ou a imensidade de Deus, Sir Isaac Newton esforçou-se para ilustrar através da forte expressão, denominando o espaço infinito de “O Sensório da Divindade.” E os mesmos ateus não tiveram escrúpulos para dizer, “Todas as coisas estão cheias de Deus”: Apenas equivalente com suas próprias declarações: “Eu não encho céus e terra? Diz o Senhor.” Quão maravilhosamente o salmista ilustra isso! “Para onde eu devo fugir da tua presença? Se eu subir ao céu, tu estás lá: Se eu vou para o inferno, tu também estás. Seu eu levo as asas da manhã, e permaneço, nas partes mais remotas do mar, mesmo lá, tua mão me encontra, e tua mão direita me segura.” Mas, nesse meio tempo, que concepção podemos formar tanto de sua eternidade, quanto de sua imensidade? Tal conhecimento é muito maravilhoso para nós: Nós não podemos alcançar isso. 3. O segundo atributo essencial de Deus é a eternidade. Ele existe, antes de todo o tempo. Talvez, mais propriamente, pudéssemos dizer: Ele existe, desde o sempre, para o sempre. Mas o que é eternidade? Um renomado autor diz que a eternidade divina é vitae interminabilis tota simul et perfecta possessio: “a concepção imediata, inteira e perfeita, da vida que nunca tem fim.” Mas quão mais sábio nós ficamos, por causa dessa definição? Nós sabemos disso, tanto quanto sabíamos antes! “A concepção imediata, inteira e perfeita!” Quem pode conceber o que isso significa? 4. Se, realmente, Deus tinha estampado (como alguns têm mantido) uma idéia de si mesmo, em toda alma humana, nós devemos, certamente, ter entendido alguma coisa desse, assim como, de outros atributos; já que não podemos supor que ele tivesse imprimido em nós uma idéia falsa, ou imperfeita de si mesmo; mas a verdade é que nenhum homem encontrou, ou encontra agora, qualquer idéia estampada em sua alma. O pouco que nós sabemos de Deus (exceto o que nós recebemos por inspiração do Espírito Santo), nós não reunimos de qualquer impressão interior, mas, gradualmente, adquirimos, exteriormente. “As coisas invisíveis de Deus,” se elas são conhecidas, afinal, “são conhecidas das coisas que são feitas;” não do que Deus tem escrito em nossos corações, mas do que ele tem escrito, em todas as suas obras. 5. Daí, então; das suas obras, particularmente, das suas obras de criação, nós podemos aprender o conhecimento de Deus. Mas não é fácil conceber o quão pouco nós sabemos mesmos desses. Para começar com aqueles que estão a uma certa distância: Quem sabe quão distante o universo se estende? Quais são os limites dele? As estrelas da manhã podem dizer, aquelas que cantaram juntas, quando as linhas dele foram esticadas para fora, quando Deus disse: “Seja essa tua circunferência, ó mundo!” Mas as estrelas fixas têm escondido, totalmente, dos filhos do homem, tudo o mais. E o que nós sabemos das estrelas fixas? Quem pode dizer o número delas? Mesmo essa pequena porção delas que, pela sua luz misturada nós denominamos “via láctea”? E quem sabe o uso delas? Elas são muitos sóis que iluminam seus respectivos planetas? Ou elas apenas auxiliam nisso, (como o Sr. Hutchinson supõe), e contribuem, de alguma maneira desconhecida, para a circulação perpétua da luz e espírito? Quem sabe o que são os cometas? Eles são planetas não completamente formados? Ou planetas destruídos por uma conflagração? Ou eles são corpos de uma natureza totalmente diferente, do qual nós podemos formar nenhuma idéia? Quem pode nos dizer o que é o sol? O seu uso nós sabemos: mas quem sabe de que substância ele é composto? Não, nós ainda não somos capazes de determinar, se ela é fluida ou sólida! Quem sabe a distância precisa do sol a terra? Muitos astrônomos são persuadidos de que se trata de centenas de milhões de milhas; outros, que é apenas oitenta e seis milhões, embora, geralmente, considerada noventa. Mas, igualmente, grandes homens dizem que é não mais do que cinqüenta; algum deles, que é doze milhões: Por último, chega o Dr. Rogers, e demonstra que são, justos, dois milhões e novecentas mil milhas! Tão pouco nós sabemos, até mesmo, dessa luminária gloriosa, o olho e alma do mundo menor! E, do mesmo modo, tanto quanto dos planetas que o circundam; sim; de nosso planeta, da lua. Alguns, realmente, descobriram Rios e montanhas em seu globo iluminado; Sim, destacaram todos os mares e continentes delas! Mas, afinal, nós sabemos quase nada do assunto. Nós temos nada mais do que meras conjecturas incertas concernentes ao mais próximo dos corpos celestes. 6. Mas vamos para as coisas que estão mais perto de casa, e inquirir o conhecimento que nós temos delas. Quanto nós conhecemos desse corpo maravilhoso, a luz? Como ela é trazida até nós? Ela flui num fluxo continuado do sol? Ou o sol impele as partículas, próximo à sua órbita, e assim, por diante, até a extremidade de seu sistema? Novamente: A luz gravita ou não: Ela atrai ou repele outros corpos? Ela está sujeita às leis gerais, as quais prevalecem em todos os assuntos? Ou ela é um corpo siu generis, completamente diferente de todos os outros assuntos? É o mesmo com o fluído elétrico, e outros controlam seu curso? Porque o vidro é capaz de ser mudado para tal ponto, e não mais além? Centena de mais perguntas poderiam ser feitas sobre esse assunto, que nenhum homem vivente pode responder. 7. Mas, certamente, nós entendemos o ar que respiramos, e que nos envolve de todos os lados. Por essa admirável propriedade de elasticidade, ele é a fonte geral da natureza. Mas a elasticidade é essencial para o ar, e inseparável dele? Não; já foi provado, por inúmeros experimentos, que o ar pode ser fixado, ou seja, despido de sua elasticidade, e produzido e restaurado a ela novamente. Entretanto, ele não é, por outro lado, elástico, do que quando ele é conectado com fogo elétrico. E não é esse fogo elétrico ou etéreo, a única elasticidade verdadeiramente essencial na natureza? Quem sabe por qual poder o orvalho, chuva, e todos os outros vapores sobem e caem no ar? Nós podemos considerar o fenômeno deles princípios comuns? Ou devemos nós mesmos concluir, com o recente autor engenhoso, que esses princípios são extremamente insuficientes; e que eles não podem ser considerados, racionalmente, a não ser sobre os princípios de eletricidade? 8. Vamos, agora, descer para a terra, que nós pisamos, e que Deus tem, peculiarmente, dado aos filhos dos homens. Os filhos dos homens entendem isso? Suponha que o globo terrestre tenha sete ou oito mil milhas, em diâmetro, quanto disso, nós sabemos? Talvez, uma milha ou duas de sua superfície: Quão longe a arte do homem penetrou. Mas quem pode informar-nos o que pode ser encontrado abaixo da região das pedras, metais, minerais e outros fósseis? Essa é apenas uma crosta fina, que suporta uma proporção muito pequena do todo. Quem pode nos instruir com respeito às partes internas do globo? Do que essas consistem? Há um fogo central, um grande reservatório, o qual não apenas supre aos vulcões, mas também contribuem (embora não saibamos como) para o maturativo de gemas e metais; sim, e talvez, para a produção dos vegetais e o bem-estar de animais também? Ou está a grande profundeza ainda contida nas entranhas da terra? Um abismo central de águas. Quem viu? Quem pode dizer? Quem pode dar uma satisfação sólida para o inquiridor racional? 9. Quanto da mesma superfície do globo é ainda extremamente desconhecida para nós! Quão pouco, nós sabemos das regiões polares, norte e sul, da Europa ou Ásia! Quão pouco dessas vastas regiões, dos confins da África ou América! Bem menos, nós sabemos o que está contido no mar amplo. O grande abismo, que cobre a parte maior do globo. A maioria de suas cavidades é inacessível para o homem, de modo que nós não podemos dizer como elas são providas. Quão pouco nós sabemos dessas coisas sobre a terra firme, que cai diretamente sob nossa observação! Considerem mesmo os mais simples metais e pedras: Quão, imperfeitamente, nós estamos familiarizados com a maturidade e propriedades deles! Quem sabe o que é que distingue os metais de todos os outros fósseis? É respondido: “Eles são mais pesados.” Muito verdadeiro; mas qual é a causa de eles serem mais pesados? Qual a diferença específica entre metais e pedras? Ou entre um metal e outro? Entre ouro e prata? Entre lata e chumbo? Ainda é tudo mistério para os filhos dos homens. 10. Continuemos com o reino dos vegetais. Quem pode demonstrar que a seiva, em qualquer vegetal, executa uma circulação regular através de suas artérias, ou que ela não faz isso? Quem pode indicar a diferença específica entre uma espécie de planta e outra? Ou a conformação e disposição, peculiar e interna, de suas partes componentes? Sim, que homem vivente compreende, completamente, a natureza e propriedades de qualquer uma planta debaixo do céu? 11. Com respeito aos animais: Os animais microscópicos, assim chamados, são realmente animais, ou não? Se eles são; eles não são, essencialmente, diferentes de todos os outros animais no universo, não requerendo alimento, não gerando ou sendo gerados? Eles não são animais, afinal, mas, meramente, partículas inanimadas de matéria, num estado de fermentação? Quão totalmente ignorante é a maioria dos homens mais sagazes, tocando o assunto da criação no seu todo! Mesmo a criação do homem. No livro do Criador, certamente, estavam todos nossos membros escritos, “os quais, dia a dia foram formados, quando ainda nenhum deles existia”: Mas de que modo foi o primeiro gesto comunicado para o punctum saliens? Quando, e como, foi o espírito imortal adicionado ao barro inconsciente? É tudo mistério. E nós podemos apenas dizer: “Eu estou extraordinariamente, e maravilhosamente feito.” 12. Com respeito aos insetos, muitas são as descobertas que têm sido recentemente feitas. Mas quão pouco ainda é tudo isso que foi descoberto, em comparação ao que se desconhece! Quantos milhões deles, por sua miudeza extrema, escapam totalmente de nossas investigações. E, de fato, as partes minúsculas dos maiores animais iludem nossas diligências extremas. Nós temos um conhecimento mais completo dos peixes do que temos dos insetos? A grande parte, se não a maior parte dos habitantes das águas estão, totalmente, oculta de nós. É provável, que as espécies de animais marinhos sejam, tão numerosas, quanto as dos animais terrestres. Mas quão poucos deles são conhecidos para nós! E quão poucos sabemos dessa minoria. Com pássaros nós estamos um pouco mais familiarizados: mas, na verdade, é muito pouco ainda. Porque, de muitos, nós, mal e mal, sabemos alguma coisa mais, do que sua forma exterior. Algumas poucas propriedades óbvias, de outros, principalmente dos que freqüentem nossas casas. Mas não temos um conhecimento completo e adequado mesmo desses. Quão pouco nós sabemos de nossos animais! Nós não sabemos, por qual motivo, temperamentos e qualidades diferentes, surgem; não apenas, nas diferentes espécies deles, mas nos indivíduos da mesma espécie; sim, e, freqüentemente, naqueles que nascem dos mesmos pais, do mesmo macho, e fêmea animal. Eles são meras máquinas? Então, eles são incapazes de prazer ou dor. Não, eles podem não ter sentido algum; eles não vêem, nem ouvem; nem sentem o paladar, nem o odor. Tão pouco, eles podem, agora, lembrar-se ou mover-se, a não ser se forem impulsionados exteriormente. Mas tudo isso, como é mostrado, diariamente, é bem ao contrário, afinal. 13. Bem; mas, se nós conhecemos nada mais, nós conhecemos, pelo menos, a nós mesmos? Nossos corpos e almas? O que é nossa alma? É um espírito, nós sabemos. Mas o que é um espírito? Aqui nós estamos completamente bloqueados. E onde a alma habita? Na glândula pineal; no cérebro todo; no coração; no sangue; em alguma parte particular do corpo, ou (se alguém pode entender esses termos) “tudo em tudo,” e em toda parte? Como a alma é unida ao corpo? Qual é o segredo, a corrente imperceptível que os une? Pode o mais sábio dos homens dar uma resposta satisfatória a qualquer uma dessas questões simples? E quanto ao nosso próprio corpo, quão pouco conhecemos! Durante o sono de uma noite, um homem saudável transpira um quarto menos quando ele sua, do que quando ele não sua. Quem pode explicar isto? O que é a carne? A do músculo em particular? São as fibras que a compõem de uma tamanho determinado, para que elas possam ser divididas somente até agora? Ou elas são solúveis in infintum? Como um músculo age? Sendo aumentado, e conseqüentemente diminuído? Mas com o que ele é aumentado? Se com sangue, como e de onde vem esse sangue? E para onde ele vai no momento em que o músculo é relaxado? Os nervos são permeáveis ou sólidos? Como eles agem? Por vibração ou transmissão das vivacidades naturais? Quem sabe o que são vivacidades naturais? Elas são ímpeto elétrico? O que é o sono? Em que ele consiste? O que é o sonho? Como podemos saber os sonhos de quando estamos acordados? Duvido que alguém saiba. Ó quão pouco conhecemos, mesmo no que concerne a toda criação de Deus? II. 1. Mas nós estamos mais familiarizados com suas obras de providência, do que com sua obra de criação? É um dos primeiros princípios da religião, que seu reino impere sobre tudo? De maneira que nós podemos dizer com confiança? “O, Senhor, nosso Governador, quão excelente é o teu nome sobre toda a terra!” É um conceito infantil, para supor que o acaso governa o mundo, ou tem alguma parte no governo dele: Não, nem mesmo, nessas coisas que, para o olho comum, parecem ser, perfeitamente, casuais. “A sorte está lançada à mão; mas o poder de dispor disso é de Deus.” Nosso abençoado Mestre, ele mesmo tem colocado esse assunto além de qualquer dúvida possível: “Nem mesmo um pardal,” disse ele, “cai ao chão, sem a vontade do Pai que está nos céus”: “Sim,” (para expressar a coisa mais fortemente ainda) “até mesmo os cabelos de sua cabeça são todos numerados.” 2. Mas, embora nós sejamos bem informados dessa verdade geral, a de que todas as coisas são governadas pela providência de Deus; (a mesma linguagem do orador pagão, Deorum moderamine cuncta geri) quão espantosamente pouco, nós sabemos das particularidades contidas sob essa idéia! Quão pouco, nós entendemos de sua conduta divina, tanto com respeito às nações, ou famílias, ou indivíduos! Há alturas e profundidades em tudo isso em que nosso entendimento pode, de forma alguma, penetrar. Nós podemos compreender, a não ser uma pequena parte de seus métodos, agora; o restante nós devemos saber, daqui por diante. 3. Até mesmo, com respeito a nações inteiras; quão pouco, nós compreendemos dos procedimentos providenciais de Deus para com elas! Quais nações inumeráveis, no mundo oriental uma vez floresceram, para o terror ao redor delas, e estão agora varridas da face da terra; e a sua lembrança pereceu com elas! Nem foi ao contrário no mundo ocidental. Na Europa também, nós lemos sobre muitos reinos amplos e poderosos, dos quais apenas os nomes restaram: As pessoas desapareceram, e são como se nunca tivessem existido. Mas por que isso tem agradado ao Todo-Poderoso Governador do mundo varrê-los fora, com a vassoura da destruição, nós não sabemos; esses que os sucederam são, muitas vezes, pouco melhor do que eles mesmos. 4. Mas, não é apenas com respeito às antigas nações, que as administrações providenciais de Deus são extremamente incompreensíveis para nós. As mesmas dificuldades ocorrem agora. Nós não podemos responder pelos procedimentos presentes com os habitantes da terra. Nós sabemos que “o Senhor ama todo homem, e sua misericórdia é sobre todas as suas obras.” Mas nós não sabemos como reconciliar isso com suas decisões divinas. Até hoje, não está a maior parte da terra repleta de escuridão e habitações cruéis? Em que condição, em particular, está o largo e populoso Império Indo-Europeu! Quantas centenas de milhares dessas pobres e tranqüilas pessoas têm sido destruídas, e suas carcaças deixadas como esterco para a terra! Em que condição (embora eles não tenham malfeitores ingleses lá) estão as incontáveis ilhas no Oceano Pacífico! Quão pequenas são suas condições sobre esses lobos e ursos! E quem se preocupa, seja com suas almas ou seus corpos? Mas o Pai de toda a humanidade não se preocupa com eles? Ó, mistério da providência! 5. E quem se preocupa com os milhares, miríades, se não milhões, de africanos miseráveis? Rebanhos inteiros destas pobres ovelhas (seres humanos; seres racionais!) não são, continuamente, conduzidos, para serem comercializados, e vendidos como gado, na escravidão mais vil, sem qualquer esperança de libertação, a não ser através da morte? Quem se preocupa com esses homens proscritos, os bem conhecidos africanos? É verdade, que um escritor, recentemente, tem tomado as dores deles para representá-los, como pessoas respeitáveis: Mas por que motivo, é difícil dizer; já que ele mesmo permite (como um exemplo da cultura deles), que os intestinos crus de ovelhas e outros gados sejam, não apenas, algumas das comidas escolhidas para eles, mas também o ornamento de seus braços e pernas; e (um exemplo da religião deles) que o filho não seja considerado um homem até que ele bata em sua própria mãe, quase à morte; e que, quando seu pai envelhece, ele o confina em uma pequena choupana, e o deixa lá, para morrer de fome! Ó, Pai, das misericórdias! Essas são as obras de tuas próprias mãos, a compra, através do sangue de teu Filho? 6. Quão pouco melhor é tanta a condição civil, quanto a religiosa dos pobres índios americanos! Ou seja, os poucos miseráveis que ainda restam deles: porque em algumas províncias, nenhum deles foi deixado para respirar. Na Espanha, quando os cristãos lá chegaram, havia três milhões de habitantes. Escassos, doze mil deles ainda sobrevivem hoje em dia. E em que condição eles estão, ou os outros índios, que ainda estão esparramados acima e abaixo, nos domínios do Continente Americano do Sul ou do Norte? Religião eles não têm; nem adoração pública de qualquer espécie! Deus não está em todos os seus pensamentos. E a maioria deles não tem governo civil, afinal; nem leis; nem magistrados; mas todo homem faz o que é direito aos seus próprios olhos. Entretanto, eles estão decrescendo, diariamente; e, muito provavelmente, em um século ou dois, não restará um deles. 7. Entretanto, os habitantes da Europa não estão nessa condição tão deplorável. Eles estão em uma condição de civilização; eles ainda têm leis úteis, e são governados por magistrados; eles têm religião; eles são cristãos. Eu temo, se eles são chamados cristãos ou não, já que muitos deles não têm religião. E o que dizer dos milhares habitantes da Lapônia, Finlândia, Samoa, e os da Groelândia? Na verdade, de todos aqueles que vivem nas latitudes norte? Eles são tão civilizados, quanto uma ovelha ou um boi? Compará-los com cavalos, ou quaisquer de nossos animais domésticos, isso poderia dar a eles muita honra! Acrescente a esses, miríades de selvagens humanos que estão tremendo de frio, entre as neves da Sibéria, tanto quanto, se não, em número maior, aqueles que estão perambulando, acima e abaixo, nos desertos da Tartária. Acrescente milhares sobre milhares de poloneses e moscovitas; e os assim chamados cristãos da Turquia, na Europa. E não só “Deus ama” esses, “mas deu seu Filho, seu único Filho, para que eles não perecessem e tivessem a vida eterna”? Então, por que eles são assim? Ó, maravilha sobre todas as maravilhas! 8. Não há, igualmente, alguma coisa misteriosa nos propósitos divinos, com respeito ao próprio Cristianismo? Quem pode explicar por que o Cristianismo não se espalha tanto quanto o pecado? Por que esse medicamento não é enviado a todos os lugares onde a enfermidade é encontrada? Mas, ai de mim! Não é: “O som dele” não adentrou ainda “em todas as terras.” O veneno é difundido sobre todo o globo, mas o antídoto não é conhecido, pela sexta parte dele! Não! E como é que a sabedoria e bondade de Deus permitem que o próprio antídoto seja, tão gravemente, adulterado, não apenas nas regiões de Catolicismo Romano, mas em quase todas as partes do mundo cristão? Tão adulterado, por serem misturados, freqüentemente, com ingredientes desnecessários ou venenosos, que ele acaba retendo nada, ou, quando muito, apenas uma pequena parte de sua virtude original. Sim! Ele tem sido, assim adulterado, por muitas dessas mesmas pessoas, enviadas para ministrá-lo; de tal maneira, que ele acrescenta, dez vezes mais malignidade, às enfermidades, às quais ele foi designado para curar! Em conseqüência disso, há, bem menos, misericórdia ou verdade encontradas, no meio cristão, do que no meio pagão! Ao contrário, tem sido afirmado, e eu temo que, verdadeiramente, que muitos dos assim chamados cristãos são bem piores do que os pagãos que os rodeiam: são mais devassos, e mais abandonados a todo tipo de maldade; não temendo a Deus, nem ao homem! Ó, quem pode compreender isso! Será que aquele que é o ainda mais poderoso, do que o mais poderoso dos homens, vê isso? 9. Igualmente incompreensível para nós são os planos divinos, com respeito às famílias, em particular. Nós não podemos, afinal, compreender, por que é que para alguns ele ergue riqueza, honra e poder, e, nesse meio tempo, permite que outros vivam privações e aflições? Alguns, maravilhosamente, prosperam, em tudo que eles têm na mão, e o mundo aflui sobre eles; enquanto outros, com todo seu trabalho e labuta, podem, escassamente, conseguir o pão de cada dia. E, talvez, prosperidade e aplauso continuem com os primeiros, até a morte deles; enquanto, os últimos, beberão o copo da adversidade, até o fim de suas vidas, mesmo que nenhuma razão exista para nós que justifique, tanto a prosperidade de um, quanto a adversidade do outro. 10. E quão pouco nós sabemos dos propósitos divinos, com respeito aos indivíduos. Por que uma grande quantidade desses homens é deixada, na Europa, e nos lugares ermos da América; por que alguns nascem de ricos e nobres, e outros, de pais pobres; por que o pai e mãe, de um, são fortes e saudáveis; e, os de outro, são fracos e doentes; em conseqüência disso, ele arrasta uma existência miserável, todos os dias de sua vida, exposto às necessidades, dores e milhares de tentações, das quais ele não encontra caminho para escapar? Quantos existem que, em sua própria infância, foram restringidos, por tais relações, de tal maneira, que eles parecem não ter chance (como alguns dizem), nem possibilidade de serem úteis a si mesmos ou a outros? Por que eles são emaranhados, nessas conexões, antes mesmo de suas próprias escolhas? Por que pessoas nocivas são colocadas, no caminho deles, sem que eles saibam, de que maneira, eles podem escapar delas? Por que as pessoas úteis são ocultadas de suas vistas, ou arrebatadas deles, no momento em que eles mais precisam? Meu Deus! Quão insondáveis são os teus julgamentos e deliberações! Muito profundos, para serem penetrados, por nossa razão; e, os meios para executar tais deliberações não são para serem reconhecidos pela nossa sabedoria! III. 1. Nós somos capazes de procurar saber sobre as obras da graça, mais do que sobre as obras da providência? Nada é mais certo do que “sem santidade, nenhum homem verá ao Senhor.” Então, por que a vasta maioria da humanidade, até onde, nós podemos julgar, pôs fim a todos os meios, e todas as possibilidades de santidade, até mesmo do útero de quem a gerou? Por exemplo: Qual a possibilidade que existe dos africanos, neozelandeses, ou dos habitantes da Nova-Zâmbia saberem, alguma vez, o que a palavra santidade significa? Ou, conseqüentemente, de alguma vez, obtê-la? Mas alguém pode dizer: “Ele pecou, antes de ele ter nascido, em uma condição pré-existente. Assim sendo, ele foi colocado aqui, em uma situação tão desfavorável. É apenas mera misericórdia que eles possam ter uma segunda chance.” Eu respondo: Supondo-se que exista tal condição pré-existente, isso que você chama de segunda chance não é realmente uma chance, afinal. Tão logo ele nasce, ele fica, absolutamente, no poder de seus pais e relações, selvagens; e que, pela mesma origem de raciocínio, educam-no, na mesma ignorância, ateísmo, e barbaridade, que eles mesmos. Ou seja, se ele não tem possibilidade de alguma outra educação melhor, que chance ele tem, então? Do momento em que ele nasce, até o momento em que ele morre, ele parece estar sob a necessidade terrível de viver na completa descrença e iniqüidade. Mas como é isso? Como esse pode ser o caso de tanto milhões de almas que Deus criou? Tu não és o Deus “de todos os confins da terra, e dos que permanecem nos amplos mares”? 2. Eu espero que possa ser observado que, se isso evoluir para uma objeção contra a revelação, essa será uma objeção que se coloca completamente contrária à religião natural, tanto quanto à religião revelada. Se isso fosse, conclusivo, poderia nos conduzir, não ao Deísmo, mas ao Ateísmo claro. Não só concluiria contra a revelação cristã, mas contra a existência de Deus. E, ainda eu não vejo como nós podemos evitar a força disso, a não ser resolvendo tudo na sabedoria insondável de Deus, junto com a convicção mais profunda de nossa ignorância e inabilidade de penetrar em seus desígnios. 3. Mesmo entre nós, que somos muito mais favorecidos do que esses, e aos quais foram confiados os oráculos de Deus, cuja palavra é uma lanterna para nossos pés, e luz, em todos os nossos caminhos, existem ainda muitas circunstâncias, em seus desígnios, as quais estão acima de nossa compreensão. Nós não sabemos por que ele permitiu que nós seguíssemos, em nossos próprios caminhos, tanto tempo, antes de sermos convencidos do pecado. Ou, por que ele fez uso desse ou daquele instrumento, dessa ou daquela maneira. E, milhares de circunstâncias atenderam o processo de nossa convicção, a qual nós não compreendemos. Nós não sabemos por que ele permitiu que nós permanecêssemos, tanto tempo, antes que ele revelasse seu Filho em nossos corações; ou por que essa mudança, da escuridão para a luz, foi acompanhada com tais e tais circunstâncias particulares. 4. Não há dúvida da prerrogativa peculiar de Deus para reter o “tempo e momento certo, em seu próprio poder.” E nós não podemos dar razão alguma, por que, que de duas pessoas, sedentas por salvação, uma é presentemente levada, ao favor de Deus, e a outra é deixada pranteando, por meses ou anos. Por que, tão logo, uma clama a Deus, é respondida, e preenchida de paz e alegria, em acreditar; e a outra, que busca por ele, pelo que parece, com a mesma sinceridade e seriedade, ainda assim, não pode encontrá-lo, ou alguma consciência de seu favor, por semanas, meses, ou anos. Nós sabemos muito bem, que isso, possivelmente, não pode ser devido a algum grau absoluto, consignando, que, antes mesmo de ter nascido, uma pessoa seja conduzida para a glória, e a outra para o fogo eterno; mas nós não sabemos a razão para isso: É suficiente que Deus saiba! 5. Há, igualmente, grande variedade, na maneira e tempo de Deus conceder sua graça santificada, por meio da qual, ele capacita seus filhos a dar a ele todo seu coração, e do que, nós não podemos, de modo algum, prestar contas. Nós não sabemos por que ele a concede, sobre alguns, antes que eles peçam por ela (alguns exemplos inquestionáveis, do qual nós temos visto); sobre outros, alguns poucos dias depois que eles buscaram; e ainda permite que outros crentes esperem, por ela, talvez, vinte, trinta, ou quarenta anos; não, e outros, até poucas horas, ou mesmo minutos, antes que seus espíritos retornem a ele. Por causa das várias circunstâncias também, que atendem o cumprimento daquela grande promessa, “eu irei circuncidar teu coração, para amar o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, e com toda a tua alma,” Deus, indubitavelmente, tem razões; mas essas razões são geralmente ocultas dos filhos dos homens. Mais uma vez: alguns desses, que são capacitados para amar a Deus, com todo o coração deles, e com toda a sua alma, retém a mesma benção, sem interrupção alguma, até que sejam levados ao seio de Abraão; outros, não a retém, embora eles não estejam conscientes de que afligiram o Espírito Santo de Deus. Isso nós também não podemos entender: Nesse lugar, “nós não conhecemos a mente do Espírito.” IV. Diversas lições valiosas nós podemos aprender da consciência profunda de nossa própria ignorância. Primeiro, a lição da humildade; não “pensar, em nós mesmos;” particularmente, com respeito ao nosso entendimento, “maior, do que nós devíamos considerar;” mas “pensar, sobriamente;” estando, completamente, convencido de que não é suficiente, de nós mesmos, ter um pensamento bom; já que nós podemos estar sujeitos a tropeços, em cada passo, a errar, todo o momento de nossas vidas, não fosse o que nós temos, “a unção do Espírito Santo,” que habita “conosco;” não fosse ele que conhece o que há no homem, socorrer nossas enfermidades; e que “há um espírito, no homem, que traz sabedoria,” e a inspiração do Espírito Santo que “traz entendimento.” Disso, nós podemos aprender, em Segundo Lugar, a lição da fé, da confiança em Deus. A convicção plena de nossa própria ignorância nos ensina a confiar, completamente, em sua sabedoria. Pode nos ensinar (o que não é sempre tão fácil, como alguém poderia conceber) a confiar no Deus invisível, muito além, do que se nós pudéssemos vê-lo! O que pode nos assistir, no aprendizado dessa lição difícil, é “subjugar” nossa própria “imaginação” (ou melhor, raciocínio, como a palavra, propriamente, significa); “subjugar todas as coisas que o exalte contra o conhecimento de Deus, e traga para a escravidão todo pensamento de obediência a Cristo.” Há, até o momento, duas grandes obstruções, na nossa formação de um julgamento correto dos desígnios de Deus, com respeito ao homem. O primeiro, é que existem fatos inumeráveis, relacionados a todos os homens, os quais não sabemos, ou podemos saber. Eles estão, no momento, ocultos de nós, e escondidos de nossa busca, pela escuridão impenetrável. O outro é que nós não podemos ver os pensamentos dos homens, mesmo quando nós conhecemos suas ações. Além do que, não conhecendo suas intenções; nós podemos apenas julgar, de maneira equivocada, as atitudes exteriores deles. Conscientes disso, “não julgar coisa alguma antes do tempo” concernente aos planos divinos dele; até que ele possa trazer para a luz “as coisas ocultas da escuridão,” e manifeste “os pensamentos e intenções do coração.” Da consciência de nossa própria ignorância, nós podemos aprender, em Terceiro Lugar, a lição da resignação. Nós podemos ser instruídos a dizer, todo o tempo, e em todas as instâncias, “Pai, não como eu desejo; mas como tu desejas.” Essa é a última lição que nosso abençoado Senhor (como homem) aprendeu, enquanto ele estava na terra. Ele não pode ir mais alto, do que, “Não como eu desejo, mas como tu desejas,” até que ele curvou sua cabeça e liberou a alma. Deixe-nos também proceder em conformidade com sua morte, para que possamos conhecer completamente o “poder de sua ressurreição”! IV. Soberania e Livre-Arbítrio Jack Cottrell Um dos problemas mais desconcertantes na teologia é como Deus pode manter Sua absoluta soberania enquanto considerando o homem completamente responsável pelo seu pecado. Se Deus é soberano, ele não deve ser a causa última e determinante de tudo, incluindo os assim chamados atos livres dos homens? E se assim for, não devemos então concluir que o homem não é realmente livre e que ele não é responsável por suas ações? Por outro lado, se o homem é realmente livre para escolher entre o bem e o mal, ele não deve então ser a causa última de suas próprias ações? E se assim for, não devemos concluir que Deus é menos do que soberano? Há alguma maneira de solucionar o problema da soberania divina e da responsabilidade humana? A teologia reformada enfatiza a natureza aparentemente contraditória deste e de outros problemas de doutrina, não obstante declara que a incapacidade para entender completamente tal antinomia não é razão suficiente para a rejeição de qualquer parte dela. A teologia reformada mantém tanto a absoluta soberania divina quanto a completa responsabilidade humana, apelando para a distinção entre causas imediatas e últimas como a possível solução ou ao menos como um modo antropomórfico de entender a relação entre a soberania e a responsabilidade. O próprio homem é dito ser a causa imediata, enquanto Deus é a causa real e última, dos atos livres dos homens. A escolha última não é atribuída ao homem. Como a assim chamada teologia arminiana aborda o problema da soberania e responsabilidade? A resposta é que o Arminianismo também defende a soberania de Deus e a completa responsabilidade do homem, embora não no mesmo sentido que o Calvinismo. O homem é dito ser, não simplesmente a causa imediata de seus próprios atos livres, mas a causa última deles. O homem é dito ter completa liberdade da vontade no sentido de ser capaz de escolher tanto o bem quanto o mal. A doutrina arminiana do livre-arbítrio é, obviamente, fortemente negada pelos calvinistas. É dito que tal noção de livre-arbítrio é uma negação real da absoluta soberania e da responsabilidade por abolir justamente a soberania. Tal doutrina de livre-arbítrio impediria a soberania de Deus, eles afirmam. Esta é de fato uma acusação grave, e é este mesmo problema que eu proponho lidar neste ensaio. É verdade que a assim chamada doutrina arminiana do livre-arbítrio faz Deus qualquer coisa menos que soberano? Se o homem tem o poder último de escolha entre o bem e o mal, a soberania de Deus é excluída desde o começo? Como a pergunta é feita, não é inteiramente nem mesmo fundamentalmente um problema do que a Bíblia ensina. É mais um problema teórico ou lógico. A idéia da acusação parece ser que o entendimento arminiano do livre-arbítrio logicamente requer uma negação da soberania de Deus. É neste nível, então, que eu proponho discutir o problema: há uma incompatibilidade lógica entre a soberania de Deus e o livre-arbítrio do homem? A esta altura os termos livre-arbítrio e soberania devem ser mais cuidadosamente definidos. Neste ensaio, livre-arbítrio é entendido como a capacidade de escolher livremente entre o bem e o mal, sendo a escolha, na verdade, determinada pela vontade do homem e não pela vontade de Deus. Por exemplo, quando o convite do evangelho é oferecido, é suposto que o homem tem a capacidade para aceitá-lo ou rejeitá-lo por um ato de sua própria vontade. O uso do termo soberania neste ensaio pode melhor ser explicado dizendo que ele significa que o decreto de Deus inclui todas as coisas, que o controle de Deus é absoluto e sobre todas as coisas, e que o conhecimento de Deus é completamente independente e inclui todas as coisas. Podemos agora virar nossa atenção para o problema como foi previamente identificado, a doutrina do livre-arbítrio faz Deus qualquer coisa menos do que absolutamente soberano? I. A ACUSAÇÃO EXPLICADA Neste momento, uma explicação mais completa da acusação contra o Arminianismo deve ser dada. Sobre o decreto de Deus, é dito que o Arminianismo não permite que “tudo que acontece” acontece de acordo com o conselho de Deus.[1] Dizem que a doutrina arminiana da responsabilidade pressupõe a rejeição da idéia de que o plano de Deus inclui todas as coisas.[2] Sobre o controle de Deus, é dito que o Arminianismo atribui ao homem uma medida de causa última, e assim, por implicação, os arminianos devem crer num Deus que é confrontado com aquilo sobre o qual ele não tem nenhum controle.[3] Dizem que o homem tem poderes próximos ao de Deus em tal doutrina.[4] Dizem que o arminiano assume que os fatos que acontecem como resultado das decisões do homem acontecem independentemente do plano de Deus.[5] A idéia de liberdade é dita creditar uma medida de independência contra Deus.[6] Sobre o conhecimento de Deus, dizem que a posição arminiana leva à conclusão de que Deus não conhece tudo pois ele não controla tudo. Deus não é capaz de predizer o futuro pois o futuro não está completamente sob seu controle. Há mistério para Deus tanto como para o homem.[7] Deus é, então, cercado de fatos brutos.[8] Há possibilidade acima de Deus e o homem.[9] A certeza do conhecimento de Deus dos eventos futuros é anulada.[10] O conhecimento de Deus é dito ser feito dependente de uma realidade temporal que Ele não controla completamente. Deus tem que esperar a eleição retornar;[11] Deus tem que esperar as decisões dos homens em muitas questões.[12] Eles dizem que a própria onisciência de Deus é negada.[13] O Deus dos arminianos, por essa razão, é dito ser um Deus finito,[14] um Deus que é dependente do homem,[15] um Deus que é determinado,[16] um Deus que é limitado pelos fatos da realidade,[17] um Deus que está sujeito às mesmas condições que o homem.[18] Em outras palavras, se o livre-arbítrio for atribuído ao homem, então Deus não é mais o Deus soberano da Bíblia. Esta é a acusação feita contra a doutrina arminiana do livre-arbítrio. Um breve exame do ensino positivo do Calvinismo nestas questões podem ser úteis aqui. As declarações particulares citadas são em sua maioria das obras de Cornelius Van til. De acordo com o dr. Van Til, o decreto de Deus significa que todo fato e lei no universo criado é criado e se estende e cumpre o que deve “pela força do” plano ou propósito de Deus. Deus preordena “tudo que acontece.”[19] A vontade de Deus é o poder final e exclusivamente determinante de tudo que vem a acontecer. A natureza de qualquer coisa criada é o que é por causa de um ato de determinação em relação a ela da parte de Deus.[20] Sobre o controle de Deus, o dr. Van Til afirma que tudo, sem restrição, está sob o controle e direção de Deus. A liberdade criada do homem opera em subordinação à e de acordo com a vontade última de Deus. A vontade de Deus é última e controla todas as coisas.[21] Deus é auto-suficiente, por isso tem controle sobre tudo.[22] A vontade do homem não pode frustrar qualquer detalhe do plano de Deus.[23] Sobre o conhecimento de Deus, é dito que, visto que toda a realidade é determinada pela vontade de Deus, por essa razão, Deus conhece todas as coisas. Deus controla tudo, por isso conhece tudo.[24] Está na base de seu próprio decreto a respeito do mundo que Deus conhece o mundo.[25] A presciência de Deus é baseada em sua preordenação.[26] O conhecimento de Deus é de si mesmo e de todas as possibilidades além dele.[27] Deus conhece o universo antes dele existir.[28] Deus conhece o que pode ocorrer.[29] Não há fatos brutos para Deus, nenhuma indeterminação, nenhuma contingência, nenhuma probabilidade. Para Deus há somente realidade absoluta.[30] A onipotência e a onisciência de Deus são, por essa razão, afirmadas sem restrição.[31] II. O DECRETO DE DEUS A queixa contra a doutrina do livre-arbítrio inclui a acusação de que, de fato, nega que tudo aquilo que acontece está de acordo com o conselho eterno de Deus. É dito negar que o decreto ou plano de Deus é todo-abrangente. Esta é uma crítica válida da doutrina do livre-arbítrio? Proponho-me mostrar que não é. Enquanto afirmo o livre-arbítrio, também afirmo, com o dr. Van Til, que Deus tem um plano completo para o universo, que todas as coisas acontecem em relação a este plano, e que não há nenhuma indeterminação para Deus.[32] Concordo que nada acontece fora da vontade e do plano de Deus.[33] Como pode tal concepção da soberania absoluta ser defendida junto com a doutrina do livre-arbítrio? Os parágrafos seguintes tentarão mostrar que os dois não são incompatíveis. O primeiro e mais importante ponto a ser notado aqui é que todo-abrangente não significa necessariamente todo-determinativo. O calvinista diz que o decreto de Deus é todo-abrangente no sentido de ser todo-determinatvo. Isto é, o decreto de Deus determina o que quer que vem a ocorrer. A vontade de Deus é o poder final e exclusivamente determinativo de tudo que acontece.[34] Isto quer dizer que os atos livres do homem já são determinados pela vontade de Deus; a escolha já foi feita por Deus; Deus já determinou toda escolha do homem por seu decreto eterno. A implicação é que, a menos que todo detalhe seja determinado por Deus, o decreto não seria todo-abrangente. É verdade que todo-abrangente poderia significar todo-determinativo. Deus certamente seria soberano na base de um decreto todo-determinativo. Mas o ponto aqui é que todo-abrangente não necessariamente significa todo-determinativo. Todo detalhe pode ser incluído no decreto de Deus sem tudo ser determinado ou efetuado por Deus, e Deus não é menos soberano se o decreto for pensado dessa forma. Deus é ainda absolutamente soberano na base de um decreto todo-abrangente, embora não todo-determinativo. Todavia, isto não é dizer que nada é determinado por Deus. De fato, nada poderia ser mais determinativo do que o absoluto e soberano ato da criação de Deus. Como o dr. Van Til diz, todo ser criado é o que é por causa do ato determinativo de Deus em relação a ele.[35] Assim sendo, pode ser dito que o homem é o que ele é por causa do ato determinativo de Deus em relação a ele. Deus determinou a natureza do homem. Deus foi livre para conceder ao homem qualquer natureza que escolhesse. Sua escolha foi livre e soberana. Se o homem tem livre-arbítrio, e eu assim afirmo, é por que Deus soberanamente determinou-o dessa forma. Em outras palavras, Deus soberana e absolutamente determinou a liberdade do homem, mas não os atos livres do homem, pelo menos no mesmo sentido. A razão de fazer esta classificação será vista mais tarde. O principal a ser notado aqui é que Deus determinou e criou o livre-arbítrio do homem de tal forma que o exercício dessa vontade não é determinada. A liberdade do homem, não seus atos livres, é determinada. Mas ainda, isto é parte do plano de Deus. Esta é a forma que ele o planejou, o criou. Os atos livres do homem estão incluídos no decreto de Deus, mas não são determinados por ele. O decreto de Deus é todo-abrangente, mas não todo-determinativo. Podemos dizer, então, que os atos livres do homem não são determinados por Deus em nenhum sentido? Isto dificilmente parece ser o caso. Por exemplo, dizer que Deus determinou a liberdade do homem significa que Deus determinou que haverá escolhas livres. Deus é a causa última de toda livre escolha porque ele é o único que soberanamente dotou o homem com liberdade. Nesta base Deus é a causa última dos atos livres no sentido que ele criou a liberdade do que eles originam; todavia o homem é a causa última no sentido que é ele, não Deus, que determina se esta ou aquela escolha particular será sim ou não. Talvez haja um outro sentido em que Deus determina até as escolhas particulares dos homens enquanto ao mesmo tempo deixando a vontade do homem completa e ultimamente livre. É assim: visto que todo ato livre do homem está incluído no decreto e plano de Deus, embora não ultimamente determinado por Deus, há uma sentido definido em que pode ser dito que todos os atos livres são certos. Berkhof usa esta terminologia. Ele declara que Deus determina o que quer que irá acontecer,[36] mas faz uma distinção entre as coisas que Deus efetua e as coisas que Deus permite.[37] As últimas, não sendo causadas por Deus no mesmo sentido que as primeiras, são determinadas somente no sentido que elas são tornadas certas.[38] Estes pontos de Berkhof podem ser observados: ao definir a vontade decretativa de Deus, ele diz que é aquela vontade de Deus “pela qual ele projeta ou decreta tudo que virá a acontecer, quer pretenda realizá-lo efetivamente (causativamente), quer permita que venha a ocorrer por meio da livre ação das Suas criaturas racionais.”[39] Berkhof diz que é correto dizer que a vontade de Deus com respeito ao pecado é uma vontade para permitir o pecado e não uma vontade para efetuá-lo, contanto que “deve-se ter em mente que a vontade de Deus de permitir o pecado leva consigo a certeza de que o pecado virá a ocorrer.”[40] Ele segue dizendo que o decreto de Deus diz respeito primeiramente às ações do próprio Deus, mas também abrange as ações de suas criaturas livres. O fato que as últimas estão incluídas no decreto “torna-as absolutamente certas, embora não sejam efetuadas da mesma maneira.” Algumas coisas ele mesmo faz acontecer, mas outras ele meramente inclui em seu decreto e por meio disso torna certas mas ele próprio não as efetua, como as ações pecaminosas de suas criaturas racionais.[41] Dizer que o decreto é eficaz não significa que Deus determinou fazer acontecer por uma direta aplicação de seu poder todas as coisas que estão incluídas em seu decreto, mas somente que o que ele decretou certamente irá acontecer.[42] “Por Seu decreto, Deus tornou as ações pecaminosas do homem infalivelmente certas de acontecerem, sem decidir efetuá-las agindo imediatamente sobre a vontade finita e nela.”[43] Finalmente, ele diz: O decreto simplesmente faz de Deus o Autor de seres morais livres, eles próprios os autores do pecado. Deus decreta sustentar a livre agência deles, regular as circunstâncias da sua vida, e permitir que a livre agência seja exercida numa multidão de atos, dos quais alguns são pecaminosos. Por boas e santas razões, Ele dá certeza ao acontecimento desses atos, mas não decreta acionar efetivamente esses maus desejos ou más escolhas no homem. O decreto concernente ao pecado não é um decreto efetivo mas permissivo, ou seja, um decreto para permitir o pecado, em distinção de um decreto para produzir o pecado sendo Deus a sua causa eficiente.[44] Nestas afirmações selecionadas, Berkhof parece estar falando como um arminiano. Obviamente, ele qualificaria sua posição em outros lugares. Como foi observado, ele diz que Deus determina tudo que acontece. Todavia, como as declarações acima mostram, tudo não é determinado no mesmo sentido; e a maneira que ele explica a vontade permissiva de Deus não está distante da concepção arminiana do livre-arbítrio do homem. Dessa forma pode ser possível que os atos livres do homem sejam determinados no sentido que os decretos torna-os certos sem efetuá-los. O fato do decreto ser todo-abrangente torna os atos livres certos neste sentido. Assim, Deus pode ser dito ser a causa última, o fator determinativo, o agente responsável no sentido que seu decreto inclui todo ato livre do homem de uma maneira que torna-o certo. Todavia os atos livres são escolhas do homem, não de Deus. Temos visto que os atos livres dos homens são determinados por Deus em certos sentidos, todavia o ponto básico é que no sentido ordinário da palavra determinar, que é no sentido de precisa e exatamente efetuar de antemão, Deus não determinou os atos livres do homem. Ef 1.11 é geralmente citado em defesa da alegação de que Deus determinou tudo que acontece: “[Deus] faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade.” Mas isto não necessariamente significa que Deus determinou todas as coisas segundo o conselho da sua vontade no sentido que acabou de ser descrito. Pode legitimamente ser interpretado como significando que tudo que acontece, acontece do modo que Deus planejou. Se o homem tem livre-arbítrio, este é o modo que Deus planejou. Os atos livres do homem estão dentro do conselho de Deus; este é o próprio decreto, que o homem devesse ter o poder de livre escolha. O decreto de Deus pode assim ser todo-abrangente sem ser todo-determinativo. Isto significa que Deus é menos do que soberano? A iniciativa foi tirada das mãos de Deus? Deus é limitado, determinado, finito, dependente? Nem um pouco. A liberdade de Deus para decretar o que quer que se agrada é prova de sua absoluta soberania. Se o decreto inclui o livre-arbítrio do homem, ou até uma auto-limitação para Deus mesmo, Deus ainda é soberano, pois ele é livre para decretar o que lhe apraz. Deus é livre para determinar a vontade do homem se assim escolher, mas se ele decreta suspender seu poder determinativo com respeito aos atos livres dos homens, é porque ele soberanamente escolher assim fazer. Deus é absolutamente soberano em tudo que faz. Contrários à acusação feita contra a posição arminiana, então, podemos afirmar que todos as coisas acontecem de acordo com o conselho de Deus, embora não afirmamos que todos as coisas são exclusivamente determinadas por Deus. Ainda, nada é independente do plano de Deus. Nem a liberdade do homem nem os atos livres resultantes são independentes de Deus, pois este é o próprio estado das coisas que Deus decretou. III. O CONTROLE DE DEUS Temos afirmado que a vontade do homem é livre, e que esta própria liberdade é parte do decreto soberano, todo-abrangente de Deus. O próximo ponto a ser considerado é o controle de Deus sobre sua criação. A afirmação é feita contra o Arminianismo que, se tal liberdade última for atribuída à mente humana, então aqui está algo que Deus não controla. O controle de Deus é incompleto; a vontade do homem assume uma posição de autonomia e independência contra Deus, e Deus é impotente diante dela. A questão que o arminiano enfrenta, então, é esta: como Deus pode ter controle sobre uma criatura que tem livre-arbítrio se o próprio Deus, na verdade, não determina as escolhas feitas por essa vontade? E se Deus não tem controle absoluto, como ele pode ser soberano? Estas questões podem ser respondidas por uma cuidadosa consideração de dois pontos separados, a criação absoluta e o soberano decreto da auto-limitação. O primeiro e mais importante ponto é que Deus é o criador absoluto de todas as coisas sem exceção. O homem é uma criatura, e sua liberdade é criada. Como parte da criação de Deus, o homem está sob o controle absoluto de Deus. Deus não criou um Frankenstein. O retrato do calvinista de um homem com livre-arbítrio conforme expressa o arminiano é um tanto exagerado; é usualmente uma caricatura grotesca. Como foi mencionado anteriormente, tal ser com livre-arbítrio é dito ter poderes originais próximos dos de Deus, ter poderes últimos correlativos com Deus, ter autonomia contra Deus, ser auto-suficiente assim como Deus é auto-suficiente, e ser independente do controle de Deus. Mas estas coisas seriam verdadeiras somente se o homem não fosse um ser criado. Nada pode ser correlativo com Deus exceto aquilo que não é criado por Deus. O homem é auto-suficiente e independente de Deus? Somente se fosse incriado, o que ele não é. O homem tem autonomia contra o plano de Deus? Somente se fosse incriado, o que ele não é. A autonomia do homem é uma autonomia criada que tem seu lugar dentro do plano de Deus, não contra ele. A medida de causa última na vontade do homem faz o homem correlativo com Deus? Somente se o homem fosse incriado, o que ele não é. Deus o criador ainda é Senhor de sua criação. Deus controla todas as coisas, então, no sentido que ele é o criador e sustentador de tudo. Mas e quanto à vontade do homem? Como pode ser dito que Deus a controla se ele não determina suas escolhas? A resposta é que Deus não controla a vontade no sentido de determinar quais escolhas a vontade fará. Deus controla as circunstâncias externas de um homem pela sua divina providência e trabalha dentro do coração através do Espírito Santo, mas não ao ponto de deixar o homem sem escolha. Deus trabalha até ao ponto de abrir e endurecer o coração, todavia sem inclinar a própria vontade para um ou outro lado e sempre dentro do campo de Seu pré-conhecimento. Deus controla a própria vida de um homem, de modo que ele pode impedir qualquer curso de ação que um homem escolhe, alterando as circunstâncias externas ou até matando-o. Este último pensamento, que Deus pode matar um homem como meio de exercer controle sobre ele, sugere o fato que o controle de Deus sobre a vontade é freqüentemente um controle negativo. Deus pode impedir que o homem faça certas escolhas privando-o de sua vida antes que ele seja confrontado com a necessidade de escolher. Mas Deus não controla a vontade do homem no sentido que ele força todas as escolhas a ser feitas. Ele pode impedir certas escolhas, mas Ele não faz escolhas particulares para os indivíduos. Por exemplo, Deus pode, por vários meios, impedir que um jovem homem escolha entrar em um seminário, mas Ele não força ativamente um homem a entrar em um seminário. Ele pode exercer influência através do Espírito Santo, através da providência, através de uma abertura real do coração de um homem; mas a vontade ainda está em poder do homem. Tenho afirmado que Deus tem controle absoluto sobre todas as coisas porque ele criou todas as coisas. Neste sentido Deus tem controle sobre a situação total. Por outro lado, tenho dito que há um sentido em que Deus não controla a vontade do homem, isto é, em um sentido determinativo. O quadro é, até certo ponto, como um homem segurando um balde com um inseto dentro dele. O inseto é livre para se mover onde escolher dentro do balde, mas o homem tem completo controle do balde. Alguém dirá ainda que Deus fica limitado por tal combinação. Se a vontade é livre, Deus não é confrontado com aquilo que ele não pode controlar? A resposta é não; ele é confrontado com aquilo que ele não quer controlar. Há uma tremenda diferença entre “não pode” e “não quer.” E ao dizer que Deus não determina a vontade do homem, chegamos ao segundo ponto nesta seção, a noção do decreto soberano de Deus da auto-limitação. A idéia de auto-limitação significa que Deus criou o homem com a capacidade para fazer suas próprias escolhas e soberanamente decretou suspender seu próprio controle no reino da vontade do homem. Se Deus é limitado, é somente pelo ato soberano de uma auto-limitação, uma suspensão auto-imposta de seu controle neste ponto específico. O homem não limita Deus; Deus se limita. A auto-limitação é, ela mesma, uma escolha soberana e livre da parte de Deus; ele não foi forçado de forma alguma a limitar seu controle. O fato que ele livremente escolheu limitar-se mostra que ele é soberano, que ele tem controle sobre toda a situação. Desse modo, não é que Deus não pode controlar a vontade do homem; neste caso Deus não seria soberano. Antes, é o caso que Deus livremente escolhe não controlar a vontade do homem, e assim mantém sua soberania absoluta. Deve também ser lembrado que esta soberana suspensão auto-imposta um dia será abandonada quando Deus se sentar como o juiz soberano sobre tudo. O que foi dito aqui significa, que a medida da soberania de Deus não é o que Deus decretou ou o que Deus criou, mas a absoluta liberdade de Deus para decretar e criar o que ele deseja. Deus criou o homem com livre-arbítrio pois se agradou em assim fazer; Deus limitou seu controle sobre esta vontade livre pois se agradou em assim fazer. Neste caso ou em qualquer outro caso Deus não é menos do que absolutamente soberano. IV. O CONHECIMENTO DE DEUS O ponto final a ser considerado neste ensaio é a relação do livre-arbítrio com o conhecimento de Deus. A acusação é que a doutrina do livre-arbítrio necessariamente significa que há indeterminação, contingência, possibilidade, acaso, mistério, fato bruto, ou surpresa para Deus. O conhecimento de Deus é dito ser feito dependente do homem; e se Deus é dependente do homem em qualquer sentido, ele não pode ser soberano. Esta questão pode ser apresentada imediatamente, então: o livre-arbítrio faz o conhecimento de Deus dependente do homem? O calvinista responde sim. A razão é que o calvinista faz o conhecimento de Deus dependente de seu decreto ou determinação de todas as coisas. O dr. Van Til diz que toda realidade é exaustivamente determinada pela vontade de Deus e “por essa razão exaustivamente conhecida pela mente de Deus.”[45] Ele enfatiza a idéia que “Deus controla e por isso conhece todas as coisas.”[46] Novamente, “é na base de seu próprio decreto com respeito ao mundo que Deus tem completo conhecimento do mundo.”[47] Berkhof diz que o problema do conhecimento de Deus é resolvido pela consideração que Deus decretou todas as coisas junto com suas causas e condições na exata ordem em que elas acontecem; assim o conhecimento de Deus das coisas futuras e dos eventos contingentes repousa em seu decreto.[48] O conhecimento de Deus é “baseado em Sua determinação.”[49] Visto que o pré-conhecimento é feito ser dependente da preordenação de Deus, não é de se admirar que o calvinista diz que, se Deus não determinar a vontade, então ele não pode saber o que a vontade do homem escolherá até que a escolha for feita. Berkhof diz, “Podemos entender como Deus pode ter conhecimento prévio onde a necessidade domina, mas achamos difícil conceber um conhecimento prévio de ações que o homem origina livremente.”[50] Ele diz que “ao que parece, é impossível conhecer antecipadamente eventos que dependem por completo da decisão causal de uma vontade alheia a princípios que podem em qualquer ocasião, independentemente do estado de espírito, das condições existentes, e dos motivos que se apresentam à mente, seguir diferentes direções. Eventos dessa natureza só podem ser conhecidos previamente como puras possibilidades.”[51] Este grosseiro exagero, junto com outras declarações citadas acima, são suficientes para mostrar que, para o calvinista, a preordenação de Deus não é somente uma causa suficiente mas também necessária do pré-conhecimento de Deus. Duas coisas podem ser ditas em resposta a isto. Em primeiro lugar, se o conhecimento de Deus é baseado em seu decreto, então, sobre a posição tomada neste ensaio, o conhecimento de Deus ainda é completo pois o decreto é assumido ser todo-abrangente. Obviamente o calvinista insistiria que o decreto deve ser um decreto no sentido de preordenação antes que Deus pudesse conhecer os resultados. Um decreto que é apenas todo-abrangente não é suficiente. Afirmo, entretanto, que é suficiente. Em segundo lugar, até se o conhecimento de Deus de todas as coisas não for baseado em seu decreto determinativo, Deus ainda conhece todas as coisas simplesmente porque ele é onisciente. Sugerir que Deus não poderia conhecer a menos que determina, é o calvinista que limita o conhecimento de Deus, não o arminiano. Tal concepção da onisciência é modelado segundo os poderes de conhecer do homem. O poder que Deus tem de conhecer, entretanto, é ilimitado. Sua onisciência inclui o poder de prever até os atos livres dos homens. Nem é este conhecimento dependente do homem de qualquer forma. A fim de ser chamado dependente, o conhecimento teria que ser, verdadeiramente, conhecimento post-eventum. Mas ele não é. Deus conhece os atos livres dos homens mesmo antes do mundo ter sido criado, enquanto o universo existia somente como uma idéia ou plano na mente de Deus. Como alguém, então, pode dizer que o conhecimento de Deus depende de qualquer coisa, se ele está completo em sua própria mente antes de qualquer coisa existir? O conhecimento de Deus é, então, completamente independente e absolutamente todo-abrangente. O livre-arbítrio do homem não altera isto nem um pouco. Deus ainda não é menos do que absolutamente soberano. CONCLUSÃO A questão sob consideração neste ensaio foi se a doutrina do livre-arbítrio torna Deus menos do que absolutamente soberano. Contra a acusação calvinista de que ela torna, busquei mostrar que não. O fato que o decreto de Deus é todo-abrangente, incluindo tanto a liberdade do homem como seus atos livres, é suficiente para manter a soberania de Deus com respeito ao seu decreto. O fato que o controle de Deus é absoluto no sentido que ele é o criador de tudo, e que a limitação com respeito à vontade do homem é auto-imposta, também mostra que Deus é soberano. Que o conhecimento de Deus dos atos livres do homem é tanto completo quanto independente também significa que Deus é soberano. O propósito deste ensaio foi provar que o homem tem livre-arbítrio e que Deus é soberano. O propósito foi mostrar que o livre-arbítrio e a soberania não são incompatíveis, como os críticos da doutrina do livre-arbítrio parecem sugerir. Esforço tem sido feito para mostrar que o livre-arbítrio, a priori, não impede a absoluta soberania de Deus. Tal discussão é necessariamente limitada, e as conclusões alcançadas não são, de forma alguma, a palavra final. A última resposta deve vir da revelação das Escrituras. Somente lá podemos aprender se o homem na verdade tem livre-arbítrio, e se Deus na verdade é o Senhor Soberano. Tradução: Paulo Cesar Antunes [1] Cornelius Van Til, Christian Theistic Evidences (CTE), class syllabus 1961, p. 36. [2] Van Til, Apologetics (AP.), class syllabus, 1959, p. 91. [3] Van Til, An Introduction to Systematic Theology (ST), class syllabus, 1961, p. 187. [4] CTE, p. 36. [5] ST, p. 16. [6] ST, p. 160. [7] ST, p. 183. [8] AP, pp. 89, 91. [9] Van Til, A Christian Theory of Knowledge (CTK), class syllabus, 1957, p.2. [10] Louis Berkhof, Systematic Theology (London: The Banner of Truth Trust, n.d.), p.68. [11] AP, p. 70. [12] AP, p. 89. [13] Berkhof, p. 68. [14] CTE, p. 36. [15] ST, p. 160; AP, p.21. [16] AP, p. 91. [17] Ibid. [18] CTK, p. 2. [19] CTE, p. 55. [20] AP, p. 11. [21] ST, p.175. [22] CTK, p. 1. [23] AP, p. 12. [24] ST, pp. 180,183. [25] ST, p. 236. [26] Berkhof, p. 107. [27] ST, p. 107. [28] ST, p. 235. [29] Ibid., p. 67. [30] CTE, pp. 55, 58, 59, 60. [31] ST, p 175. [32] CTE, p. 58. [33] ST, p. 175. [34] AP, p. 11. [35] Ibid. [36] Berkhof, p. 100. [37] Berkhof, p. 100. [38] Berkhof, p. 103. [39] Berkhof, p. 77. [40] Berkhof, p. 79. [41] Berkhof, p. 103. [42] Berkhof, p. 104. [43] Berkhof, p. 105. [44] Berkhof, p. 108. [45] ST, p.180. [46] ST, p.183. [47] ST, p.236. [48] Berkhof, pp. 67-8. [49] Berkhof, p. 107. [50] Berkhof, p. 67. [51] Berkhof, p. 107. V. O Que É Um Arminiano? John Wesley (Da edição de Thomas Jackson da obra The Works of John Wesley, 1872) 1. Dizer “este homem é um arminiano” tem o mesmo efeito sobre muitas pessoas que dizer “este é um cachorro louco.” Elas se assustam imediatamente: elas fogem dele a toda a velocidade e determinação; e dificilmente irão parar, a menos que seja para atirar uma pedra no temeroso e perverso animal. 2. Quanto mais incompreensível a palavra seja, melhor ela responde o propósito. Aqueles em quem ela está colocada não sabem o que fazer: não entendendo o que significa, eles não podem dizer que defesa tomar, ou como se livrar da acusação. E não é fácil remover o preconceito que os outros têm assimilado, que não sabem nada dela a não ser que é “uma coisa muito má,” se não “tudo que é mau!” 3. Deixar claro o significado, por essa razão, deste termo ambíguo, pode ser útil a muitos: àqueles que tão livremente alfinetam este nome nos outros, que eles não possam dizer o que não entendem; àqueles que o ouvem, que eles não possam ser mais abusados por homens dizendo o que não sabem; e àqueles sobre quem o nome está colocado, que eles possam saber como responder a eles. 4. Pode ser necessário observar, primeiro, que muitos confundem arminianos com arianos. Mas esta é uma coisa inteiramente diferente; um não se parece com o outro. Um ariano é aquele que nega a Divindade de Cristo; nós nem precisamos afirmar, o supremo, a eterna Divindade; pois não há nenhum Deus senão o supremo, Deus eterno, a menos que façamos dois Deuses, um Deus maior e um Deus menor. Agora, ninguém jamais mais firmemente acreditou, ou mais fortemente afirmou, a Divindade de Cristo, do que muitos dos (assim chamados) arminianos; sim, e até hoje afirmam. O Arminianismo, por isso, (o que quer que seja) é totalmente diferente do Arianismo. 5. A origem da palavra é: JAMES HARMENS, em latim, Jacobes Arminius, primeiro foi um dos Ministros de Amsterdã, e depois Professor de Teologia em Leyden. Ele foi educado em Genebra; mas no ano de 1591 começou a duvidar dos princípios que ele tinha até então recebido. E estando cada vez mais convencido de que eles estavam errados, quando ele assumiu o cargo de professor, ele publicamente ensinava o que ele cria ser a verdade, até que, no ano de 1609, morreu em paz. Mas poucos anos depois de sua morte, alguns homens zelosos sob o comando do Príncipe de Orange, furiosamente agrediram todos que defendiam o que foram chamadas as opiniões de Arminius; e tendo conseguido condená-los solenemente, no famoso Sínodo de Dort, (não tão numeroso ou culto, mas tão imparcial quanto o Concílio ou Sínodo de Trento,) alguns foram postos à morte, alguns banidos, alguns presos por toda a vida, todos demitidos de seus empregos, e feitos incapazes de manter qualquer ofício, seja na Igreja ou no Estado. 6. Os erros que eles foram acusados (usualmente chamados arminianos) por seus oponentes, são cinco: (1.) Que eles negam o pecado original; (2.) Que eles negam a justificação pela fé; (3.) Que eles negam a predestinação absoluta; (4.) Que eles negam que a graça de Deus seja irresistível; e, (5.) Que eles afirmam que um crente possa cair da graça. Em relação às duas primeiras destas acusações, eles alegaram que não eram culpados. Elas são inteiramente falsas. Nenhum homem que já viveu, nem o próprio João Calvino, jamais expressou o pecado original, ou a justificação pela fé, em termos expressos mais fortes e mais claros, do que Arminius. Estes dois pontos, por isso, estão fora de questão: estes, ambos os partidos concordam. Neste respeito, não há a mínima diferença entre o sr. Wesley e o sr. Whitefield. 7. Mas há uma diferença inegável entre os calvinistas e os arminianos, em consideração às três outras questões. Aqui eles se dividem; o primeiro acredita que a predestinação seja absoluta, o último, condicional. Os calvinistas defendem, primeiro, que Deus absolutamente decretou, desde toda a eternidade, salvar tais e tais pessoas, e ninguém mais; e que Cristo morreu por estes, e ninguém mais. Os arminianos defendem que Deus decretou, desde toda a eternidade, no tocante a tudo que está escrito na Palavra, “aquele que crer será salvo: aquele que não crer será condenado:” e, por isso, “Cristo morreu por todos, todos que estavam mortos em ofensas e pecados;” isto é, por todo filho de Adão, visto que “em Adão todos morrem.” 8. Os calvinistas defendem, em segundo lugar, que a graça salvadora de Deus é absolutamente irresistível; que ninguém é capaz de resisti-la, mais do que resistir à ação inesperada do relâmpago. Os arminianos defendem que, embora possa haver alguns momentos em que a graça de Deus aja irresistivelmente, todavia, no geral, qualquer um pode resistir, e isso para sua eterna ruína, a graça segundo a qual foi a vontade de Deus que ele devesse ter sido eternamente salvo. 9. Os calvinistas defendem, em terceiro lugar, que um verdadeiro crente em Cristo não pode possivelmente cair da graça. Os arminianos defendem que um verdadeiro crente pode “fazer naufrágio da fé e de uma boa consciência;” que ele pode cair, não apenas de modo vil, mas finalmente, de modo a perecer para sempre. 10. De fato, os dois últimos pontos, a graça irresistível e a perseverança infalível, são a conseqüência natural do primeiro, do decreto incondicional. Pois se Deus eterna e absolutamente decretou salvar tais e tais pessoas, segue, ambos, que eles não podem resistir sua graça salvadora, (de outra maneira eles podem perder a salvação,) e que eles não podem finalmente cair dessa graça que eles não podem resistir. De forma que, em efeito, as três questões se resumem em uma, “a predestinação é absoluta ou condicional?” Os arminianos acreditam que ela seja condicional; os calvinistas, que ela seja absoluta. 11. Fora, então, com toda ambigüidade! Fora com todas as expressões que somente confundem a causa! Deixe homens honestos se expressarem, e não brinquem com palavras difíceis que eles não entendem. E como pode alguém saber o que Arminius defendia aquele que nunca leu uma página sequer de seus escritos? Que ninguém grite contra os arminianos, até que ele saiba o que o termo significa; e então ele saberá que arminianos e calvinistas estão justamente em um nível. E os arminianos têm muito direito de estar indignados com os calvinistas, assim como os calvinistas têm de estar indignados com os arminianos. João Calvino era um homem piedoso, instruído, inteligente; e assim era James Harmens. Muitos calvinistas são homens piedosos, instruídos, inteligentes; e assim são muitos arminianos. A diferença é que o primeiro crê que a predestinação é absoluta; o último, que é condicional. 12. Uma palavra mais: não é o dever de todo pregador arminiano, primeiro, nunca, pública ou privadamente, usar a palavra calvinista como um termo de reprovação; visto que não é melhor nem pior do que apelidar? – uma prática não mais consistente com o bom senso ou as boas maneiras, do que é com o Cristianismo. Em segundo lugar, fazer tudo que estiver ao seu alcance para evitar que seus ouvintes façam isso, mostrando a eles o pecado e estupidez disso? E não é igualmente o dever de todo pregador calvinista, primeiro, nunca em público ou em particular, na pregação ou na conversa, usar a palavra arminiano como um termo de reprovação? Segundo, fazer tudo que estiver ao seu alcance para evitar que seus ouvintes façam isso, mostrando a eles o pecado e estupidez disto; e isto o mais ardente e diligentemente, se eles tivessem sido acostumados a agir dessa forma? Talvez encorajados nisto pelo seu próprio exemplo! Tradução: Paulo Cesar Antunes VI. UM DIÁLOGO ENTRE UM PREDESTINACIONISTA E SEU AMIGO John Wesley De sua própria boca! A TODOS OS PREDESTINACIONISTAS 1. Falaram-me, alguns de vocês disseram, que as seguintes citações são falsas; que estas palavras não foram ditas por estes autores; outros, que elas não foram ditas neste sentido; e outros, que nem vocês mesmos, nem qualquer fiel predestinacionista jamais disse, ou diria, dessa forma. 2. Meus amigos, os autores aqui citados são bem conhecidos, em quem vocês podem ler as palavras com seus próprios olhos. E aqueles que os têm lido sabem muito bem, elas foram ditas neste sentido, e nenhum outro; e não apenas isto, mas este sentido é professadamente defendido por toda parte nas obras de onde elas foram tiradas. 3. Mas, seja como for, vocês, entretanto, dizem, “Nenhum fiel predestinacionista jamais disse ou diria dessa forma?” Ora, todo fiel predestinacionista deve falar dessa forma, e assim devem vocês também, se ousarem expressar suas opiniões, a menos que eles e vocês renunciem seu princípio fundamental. 4. Seu princípio fundamental é este: “Desde toda a eternidade, Deus ordenou tudo quanto acontece.” Mas desta única proposição segue indiscutivelmente toda afirmação daqui em diante mencionada. Falta apenas, por essa razão, que escolham qual destas três coisas agradam mais vocês (pois uma vocês devem escolher): Ou, (1.) Usar expressões ambígüas, evadir-se da questão, e tergiversar sem fim; ou, (2.) Engolir todas estas afirmações juntas, e honestamente confessá-las; ou, (3.) Renunciá-las todas, e crer em Cristo, o Salvador de todos. AMIGO. – Senhor, ouvi dizer que você faz de Deus o autor de todo pecado, e o destruidor da maior parte da humanidade sem misericórdia. PREDESTINACIONISTA. – Nego; eu somente digo, “Desde toda a eternidade, Deus ordenou inalteravelmente tudo quanto acontece.” (Confissão de Fé de Westminster, cap. 3.) AMIGO. – Você não faz nenhuma exceção? PREDESTINACIONISTA. – Não, obviamente; pois “nada é mais absurdo do que pensar que algo possa ser feito sem a ordenação de Deus.” (As Institutas de Calvino, 1.6.3.) AMIGO. – Você inclui as ações dos homens? PREDESTINACIONISTA. – Sem dúvida: “Toda ação e todo movimento de toda criatura é assim governado pelo secreto conselho de Deus, que nada pode vir a acontecer, senão o que foi ordenado por ele.” (Ibid., 1.6.3.) AMIGO. – Mas e quanto às vontades dos homens? PREDESTINACIONISTA. – “As vontades dos homens são assim governadas pela vontade de Deus, para que elas efetuam exatamente o que ele preordenou.” (Ibid., 1.6.8.) AMIGO. – Suponho que queira dizer a vontade permissiva de Deus? PREDESTINACIONISTA. – Não: eu quero dizer, “todas as coisas acontecem pela eficaz e irresistível vontade de Deus.” (Twissi Vindiciae Gratiae Potestatis & Providentiae Dei. Editio Jensoniana, par. 3, p. 19.) AMIGO. – Então, os homens devem fazer exatamente o que fazem? PREDESTINACIONISTA. – Verdade: “É impossível que algo seja feito sem que Deus impele a vontade do homem.” (Ibid., p. 19.) AMIGO. – Mas isto não implica a necessidade de todos os eventos? PREDESTINACIONISTA. – “Não hesitarei em reconhecer que a vontade de Deus é a necessidade de todas as coisas, e que tudo que ele deseja necessariamente acontece.” (As Institutas de Calvino, 3.24.8.) AMIGO. – O pecado, então, necessariamente acontece? PREDESTINACIONISTA. – Indubitavelmente: Pois “A onipotência se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens.” (Confissão de Fé de Westminster, cap. 5.) AMIGO. – Acredito que Deus previu que o primeiro homem cairia. PREDESTINACIONISTA. – Não, “Deus não apenas previu que Adão cairia, mas também ordenou que ele devesse cair.” (As Institutas de Calvino, 3.23.7.) AMIGO. – Sei que Deus permitiu a queda de Adão. PREDESTINACIONISTA. – Digo a você, “ele não caiu apenas pela permissão mas também pela ordenação de Deus.” (Calvin Responsio ad Calumnias Nebulonis cujusdam ad Articulum primum.) “Ele pecou porque Deus assim ordenou, porque o Senhor viu que era bom.” (As Institutas de Calvino, 3.24.8.) AMIGO. – Mas aqueles que divergem de você não levantam muita objeções a este ponto? PREDESTINACIONISTA. – Sim: “Esses cães malvados vomitam muitas coisas contra Deus.” (Ibid., 3.23.2.) “Eles negam que a Escritura diz que Deus decretou a queda de Adão. Eles dizem que ele poderia ter escolhido entre cair ou não cair; e que Deus preordenou apenas tratá-lo conforme merecesse: Como se Deus tivesse criado a mais excelente de todas as suas criaturas, sem preordenar o que faria dela!” (Ibid., 3.23.7.) AMIGO. – Então Deus fez Adão com o propósito de cair? PREDESTINACIONISTA. – Sem dúvida. “Deus fez Adão e Eva para este mesmo propósito, para que eles possam ser tentados e levados ao pecado. E por meio de seu decreto, não poderia ser de outra forma senão que eles devessem pecar.” (Piscatoris Dispute. Praedest., Praef., p. 6.) AMIGO. – Mas você não baseia o decreto de Deus na presciência divina antes que em sua vontade? PREDESTINACIONISTA. – Não: “Deus não prevê nada senão o que decretou, e seu decreto precede seu conhecimento.” (Piscat. Disput. Praedest.) AMIGO. – Bem, isto pode verdadeiramente ser chamado de um decreto horrível. PREDESTINACIONISTA. – “Confesso que é um decreto horrível; todavia ninguém pode negar que Deus previu a queda de Adão, e Ele a previu, porque a ordenou por seu próprio decreto.” (As Institutas de Calvino, 3.23.7.) AMIGO. – Você acredita, então, que Deus, por seu próprio decreto positivo, não somente não elegeu alguns homens à vida, mas também reprovou todo o resto? PREDESTINACIONISTA. – Seguramente, se eu creio em um, creio no outro. “Na verdade, muitos, como se quisessem evitar o opróbrio de Deus, aceitavam a eleição em tais termos, que acabavam negando a condenação de qualquer um; mas isto é totalmente estúpido e ingênuo. Pois não existiria eleição se não houvesse reprovação; quem Deus deixa de lado, ele reprova.” (As Institutas de Calvino, 3.23.1.) AMIGO. – Por favor, explique o que quer dizer por eleição e reprovação. PREDESTINACIONISTA. – Com todo o coração. “Não fomos criados em condições iguais; certamente, a vida eterna é preordenada para alguns, e a perdição eterna para outros. Portanto, como todos foram criados para um ou outro destes fins, falamos deles como predestinados para a vida ou para a morte.” (As Institutas de Calvino, 3.21.1.) AMIGO. – Poderia repetir seu significado? PREDESTINACIONISTA. – “Deus, de uma vez por todas, ordenou, por um eterno e imutável decreto, a quem ele daria salvação e quem ele condenaria à destruição.” (As Institutas de Calvino, 3.21.7.) AMIGO. – Deus fez algum homem com o propósito de ser condenado? PREDESTINACIONISTA. – Eu já não disse para você? “A primeira determinação de Deus era que alguns devessem ser destinados à ruína eterna; e para este fim seus pecados foram ordenados, e a graça negada para que seus pecados fossem efetuados.” (Zanchius de Natura Dei, p. 553, 554.) AMIGO. – Mas a predestinação divina de homens para a vida ou para a morte não é baseada em sua presciência? PREDESTINACIONISTA. – “Assim pensam os ignorantes; que Deus, conforme prevê o que todo homem irá merecer, elege-os à vida, ou consigna-os à morte e condenação.” (As Institutas de Calvino, 3.22.1.) AMIGO. – E você não pensa que a reprovação, pelo menos, seja baseada na presciência de Deus dos pecados dos homens? PREDESTINACIONISTA. – Não, absolutamente: “Deus, de acordo com o beneplácito de sua própria vontade, ordena que muitos sejam nascidos, que são, desde o ventre, consignados à inevitável condenação. Se alguém alegar que a presciência de Deus não os coloca sob nenhuma necessidade de ser condenados, mas, antes, que ele decretou sua condenação porque previu sua iniqüidade, afirmo que a presciência de Deus não coloca nenhuma necessidade sobre a criatura; mas a vida e a morte eterna dependem da vontade antes que da presciência de Deus. Se Deus somente previu todas as coisas relacionadas a todos os homens, e não as decretou e as ordenou também, então é de se perguntar se ou não sua presciência torna necessária a coisa prevista. Mas visto que ele, por isso, prevê todas as coisas que hão de acontecer, porque as decretou que acontecessem, é inútil falar sobre a presciência, haja vista que obviamente todas as coisas acontecem pelo decreto positivo de Deus.” (As Institutas de Calvino, 3.23.6.) AMIGO. – Mas se Deus positivamente decretou a condenação da maior parte da humanidade, por que ele roga para que eles se arrependam e sejam salvos? PREDESTINACIONISTA. – “Assim como Deus tem seu chamado eficaz, por meio do qual ele dá aos eleitos a salvação para a qual ele os ordenou, da mesma forma ele tem seus julgamentos aos reprovados, por meio dos quais ele executa seu decreto referente a eles. Por isso, tantos quantos ele criou para viver miseravelmente, e então perecer eternamente; estes, para que possam ser trazidos ao fim para o qual foram criados, ele algumas vezes priva-os da possibilidade de ouvir a palavra, e outras vezes, pela pregação, cega-os e entorpece-os.” (As Institutas de Calvino, 3.24.12.) AMIGO. – Como isto acontece? Digo, se Deus criou-os para a morte eterna, por que ele manda que se voltem para ele e vivam? PREDESTINACIONISTA. – “Ele os chama, para que eles possam ficar ainda mais surdos; ele acende uma luz, para que eles possam ficar ainda mais cegos; ele lhes entrega sua doutrina, para que eles sejam ainda mais ignorantes; e lhes aplica o remédio, para que eles não possam ser curados.” (As Institutas de Calvino, 3.24.13.) AMIGO. – Chega, chega. Todavia você não faz Deus o autor do pecado! PREDESTINACIONISTA. – Certamente que não: “Deus não pode ser chamado de autor do pecado, embora ele seja a causa das ações pecaminosas.” (Petri Martyris Vermillii Com. in Roman., p. 413.) AMIGO. – Como ele é a causa delas, então? PREDESTINACIONISTA. – De dois modos: Primeiro, por seu eterno e imutável decreto; Segundo, pela presença de seu poder irresistível. AMIGO. – Então Deus preordenou os pecados dos homens? PREDESTINACIONISTA. – “Tanto os reprovados quanto os eleitos foram preordenados para pecar, para que, em conseqüência do pecado, a glória de Deus pudesse ser declarada.” (Zanchius de Nat. Dei., p. 555.) “Os reprovados,” mais especialmente, “que foram predestinados à condenação, e as causas da condenação, e criados para esse fim, para que eles possam viver pecaminosamente, e sejam vasos repletos dos resíduos do pecado.” (Piscator contra Tauffium, p. 47.) AMIGO. – Mas seguramente os pecados dos eleitos não foram preordenados? PREDESTINACIONISTA. – Sim, mas eles foram: “Pois não podemos fazer mais bem do que fazemos, nem menos mal do que fazemos; porque Deus, desde a eternidade, precisamente decretou que o bem e o mal fossem feitos assim.” (Piscatoris Responsio ad Amicam Duplicationem Conradi Vorstii, p. 176.) AMIGO. – Entendo você, quanto a Deus decretar o pecado. Mas como é seu poder irresistível nos pecados dos homens? PREDESTINACIONISTA. – “Deus é o autor da ação que é pecaminosa, por sua vontade irresistível.” (Dr. Twisse, par. 3, p. 21.) AMIGO. – Como assim? PREDESTINACIONISTA. – “Deus provoca adultério, blasfêmias, mentiras.” (Piscat. Responsio ad Apologiam Bertii.) “Ele fornece aos homens maus oportunidades para pecar, e inclina seus corações para isso. Ele cega-os, engana-os, seduze-os. Ele, trabalhando em seus corações, inclina-os e incita-os a praticarem o mal.” (Pet. Martyr. Ver. Comment. in Rom., pp. 36, 413.) Assim, “ladrões, assassinos, e outros malfeitores são instrumentos de Deus, que ele usa para executar o que decretou em si mesmo.” (As Institutas de Calvino, 1.17.5.) AMIGO. – Você não acusa, então, o próprio Deus de pecado? PREDESTINACIONISTA. – Não: “Deus precisa deles somente para o ato do pecado, não para a deformidade do pecado.” (Twissi Vindiciae, par. 3, p. 22.) Além disso, “quando Deus faz os anjos e os homens pecarem, ele mesmo não peca, pois ele não viola nenhuma lei. Pois Deus não está sob lei nenhuma, e por isso não pode pecar.” (Zuinglius in Serm. de Provid., c. 5, 6.) AMIGO. – Mas como Deus faz os anjos ou os homens pecarem? PREDESTINACIONISTA. – “O diabo e os homens maus estão confinados por todos os lados pela mão de Deus, para que eles não possam conceber, ou planejar qualquer injúria, sem que Deus não apenas permita, mas comanda. Nem são eles mantidos em grilhões, mas são compelidos também, como com uma rédea, para que obedeçam a esses comandos.” (As Institutas de Calvino, 1.17.11.) AMIGO. – Esta é a própria doutrina turca, e deve assim ser demolida como costumava ser com estas palavras: - “Eu anatemizo a blasfêmia de Maomé, que disse que Deus engana quem quer, e leva quem quer a praticar o bem. Ele faz o que quer, e ele próprio é a causa de todo bem e de todo mau. A sorte e o destino governam todas as coisas.” (Nicetus Saracenita.) PREDESTINACIONISTA. – Não, nossa doutrina é mais antiga do que a de Maomé: Foi mantida por Santo Agostinho. AMIGO. – Agostinho ora fala em seu favor, ora contra. Mas todos os primeiros quatro séculos vão contra você, assim como toda a Igreja Grega até hoje; e a Igreja da Inglaterra, em seu Catecismo, Artigos, e Homilias. E assim os nossos santos mártires, bispo Hooper e bispo Latimer em particular. PREDESTINACIONISTA. – Mas os antigos não diziam que Judas foi predestinado à condenação? AMIGO. – Muito pelo contrário. As palavras de São Crisóstomo são, “Judas, meu amado, foi no princípio um filho do reino, e ouviu o que lhe foi dito com os discípulos,” Vós sentareis sobre doze tronos; “mas depois se tornou um filho do inferno.” PREDESTINACIONISTA. – Entretanto, você irá admitir que Esaú foi predestinado à destruição. AMIGO. – Na verdade, não. Alguns de seus escritores acreditam que ele foi finalmente salvo, que era a opinião geral dos antigos Pais. E que a escritura, “Amei a Jacó, e odiei a Esaú,” nitidamente não se refere às suas pessoas mas às suas posteridades. Mas supondo que Esaú ou Judas tenha sido condenado, por que ele foi condenado? PREDESTINACIONISTA. – Sem dúvida alguma, pela incredulidade. Pois como somos salvos somente pela fé, então a incredulidade é o único pecado que pode condenar. AMIGO. – Por qual fé você é salvo? PREDESTINACIONISTA. – Pela fé em Cristo, que se entregou por mim. AMIGO. – Mas ele se entregou para Esaú e Judas? Se não, você está dizendo que eles são condenados por não acreditar numa mentira. Foi esta consideração que levou o arcebispo Usher a gritar, “Por que alguém não atacaria, antes que concederia, que Cristo não morreu pelos reprovados; e que ninguém senão os eleitos tinha qualquer direito a ele; e todavia muitos milhares devessem estar presos em suas consciências a crer que ele morreu por eles, e confinados a aceitá-lo como seu Redentor e Salvador? Pelo qual eles devessem ter acreditado no que é a maior inverdade, e tomar posse do que eles não tinham nenhuma parte.” PREDESTINACIONISTA. – Mas o que então você quer dizer pelas palavras eleição e reprovação? AMIGO. – Isto: Primeiro, Deus decretou desde o princípio eleger ou escolher, em Cristo, todos os que cressem para salvação. E este decreto procede de sua própria benevolência, e não é fundado sobre qualquer bondade na criatura. Segundo: Deus desde o princípio decretou reprovar todos aqueles que obstinada e finalmente continuassem na incredulidade. PREDESTINACIONISTA. – O que então você pensa da eleição e reprovação absoluta, incondicional? AMIGO. – Penso que não pode ser encontrado nas Sagradas Escrituras, e que é uma planta que carrega frutos sombrios. Um exemplo temos do próprio Calvino; que confessa que causou a morte de Michael Servetus na fogueira, simplesmente por discordar dele em questões religiosas. Tradução: Paulo Cesar Antunes VII. A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO Myer Pearlman (Conhecendo As Doutrinas Da Bíblia, cap. VIII, V, pp. 171-175) Temos estudado as preparações para a salvação e considerado a natureza desta. Nesta seção consideramos: É a Salvação final dos cristãos incondicional, ou poderá perder-se por causa do pecado? A experiência prova a possibilidade duma queda temporária da graça, conhecida por “desviar-se”. O termo não se encontra no Novo Testamento, senão no Antigo Testamento. Uma palavra hebraica significa “voltar atrás” ou “virar-se”; outra palavra significa “volver-se” ou ser “rebelde”. Israel é comparado a um bezerro teimoso que volta para trás e se recusa a ser conduzido, e torna-se insubmisso ao jugo. Israel afastou-se de Jeová e obstinadamente se recusou a tomar sobre si o jugo de seus mandamentos. O Novo Testamento nos admoesta contra tal atitude, porém usa outros termos. O desviado é a pessoa que outrora tinha o zelo de Deus, mas agora se tornou fria (Mt 24.12); outrora obedecia à Palavra, mas o mundanismo e o pecado impediram seu crescimento e frutificação (Mt 13.22); outrora pôs a mão ao arado, mas olhou para trás (Lc 9.62); como a esposa de Ló, que havia sido resgatada da cidade da destruição, mas seu coração voltou para ali (Lc 17.32); outrora estava em contacto vital com Cristo, mas agora está fora de contacto, e está seco, estéril e inútil espiritualmente (Jo 15.6); outrora obedecia à voz da consciência, mas agora jogou para longe de si essa bússola que o guiava, e, como resultado, sua embarcação de fé destroçou-se nas rochas do pecado e do mundanismo (1Tm 1.19); outrora alegrava-se em chamar-se cristão, mas agora se envergonha de confessar a seu Senhor (2Tm 1.8; 2.12); outrora estava liberto da contaminação do mundo, mas agora voltou como a “porca lavada ao espojadouro de lama” (2Pe 2.22; vide Lc 11.21-26). É possível decair da graça; mas a questão é saber se a pessoa que era salva e teve esse lapso, pode finalmente perder-se. Aqueles que seguem o sistema de doutrina calvinista respondem negativamente; aqueles que seguem o sistema arminiano (chamado assim em razão de Armínio, teólogo holandês, que trouxe a questão a debate) respondem afirmativamente. 1. Calvinismo. A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por Santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre graça. A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de Deus; o homem absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem, se arrepender, crer e for a Cristo, é inteiramente por causa do poder atrativo do Espírito de Deus. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se corrompeu tanto desde a queda, que, sem a ajuda de Deus, não pode nem se arrepender, nem crer, nem escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de Calvino – a completa servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por conseguinte, não pode ser outra coisa senão a execução dum decreto divino que fixa sua extensão e suas condições. Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra de Deus, e o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, a menos que o Espírito de Deus opere nele, então, por que Deus não salva a todos os homens, posto que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: Deus predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. “A predestinação é o eterno decreto de Deus, pelo qual ele decidiu o que será de cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição; mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para outros.” Ao agir dessa maneira Deus não é injusto, pois ele não é obrigado a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados. Posto que Deus predestinou certos indivíduos para a salvação, Cristo morreu unicamente pelos “eleitos”; a expiação fracassaria se alguns pelos quais Cristo morreu se perdessem. Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de “uma vez salvo sempre salvo”; porque se Deus predestinou um homem para a salvação, e unicamente para ser salvo e guardado pela graça de Deus, que é irresistível, então, nunca pode perder-se. Os defensores da doutrina da “segurança eterna” apresentam as seguintes referências para sustentar sua posição: Jo 10.28-29; Rm 11.29; Fp 1.6; 1Pe 1.5; Rm 8.35; Jo 17.6. 2. Arminianismo. O ensino arminiano é como segue: A vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos, porque Cristo morreu por todos. (1Tm 2.4-6; Hb 2.9; 2Co 5.14; Tt 2.11-12) Com essa finalidade ele oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra de Deus, absolutamente livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de Deus, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu direito de livre arbítrio sempre permanece. As Escrituras certamente ensinam uma predestinação, mas não que Deus predestina alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina “a todos os que querem” a serem salvos – e esse plano é bastante amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade tem sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da porta da salvação lemos as palavras: “quem quiser pode vir”; quando entramos por essa porta e somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta: “eleitos segundo a presciência de Deus”. Deus, em razão de seu conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam salvos, e predestinou para essas pessoas uma herança celestial. Ele previu o destino delas, mas não o fixou. A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito especulativo, e, sim, com propósito prático. Quando Deus chamou Jeremias ao ministério, ele sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia ser tentado a deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o havia conhecido e o havia chamado antes de nascer (Jr 1.5). Com efeito, o Senhor disse: “Já sei o que está adiante de ti, mas também sei que posso te dar graça suficiente para enfrentares todas as provas futuras e conduzir-te à vitória.” Quando o Novo Testamento descreve os cristãos como objetos da presciência de Deus, seu propósito é dar-nos certeza do fato de que Deus previu todas as dificuldades que surgirão à nossa frente, e que ele pode nos guardar e nos guardará de cair. 3. Uma comparação. A salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa é salva eternamente? A resposta dependerá da maneira em que podemos responder às seguintes perguntas-chave: De quem depende a salvação? É irresistível a graça? 1) De quem depende, em última análise, a salvação: de Deus ou do homem? Certamente deve depender de Deus, porque, quem poderia ser salvo se a salvação dependesse da força da própria pessoa? Podemos estar seguros disto: Deus nos conduzirá à vitória, não importa quão débeis ou desatinados sejamos, uma vez que sinceramente desejamos fazer a sua vontade. Sua graça está sempre presente para nos admoestar, reprimir, animar e sustentar. Contudo, não haverá um sentido em que a salvação dependa do homem? As Escrituras ensinam constantemente que o homem tem o poder de escolher livremente entre a vida e a morte, e Deus nunca violará esse poder. 2) Pode-se resistir à graça de Deus? Um dos princípios fundamentais do Calvinismo é que a graça de Deus é irresistível. Quando Deus decreta a salvação de uma pessoa, seu Espírito atrai, e essa atração não pode ser resistida. Portanto, um verdadeiro filho de Deus certamente perseverará até ao fim e será salvo; ainda que caia em pecado, Deus o castigará e pelejará com ele. Ilustrando a teoria calvinista diríamos: é como se alguém estivesse a bordo dum navio, e levasse um tombo; contudo está a bordo ainda; não caiu ao mar. Mas o Novo Testamento ensina, sim, que é possível resistir à graça divina e resistir para a perdição eterna (Jo 6.40; Hb 6.46; 10.26-30; 2Pe 2.21; Hb 2.3; 2Pe 1.10), e que a perseverança é condicional dependendo de manter-se em contacto com Deus. Note-se especialmente Hb 6.4-6 e 10.26-29. Essas palavras foram dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo não foram dirigidas aos não-regenerados. Aqueles aos quais foram dirigidas são descritos como havendo sido uma vez iluminados, havendo provado o dom celestial, participantes do Espírito Santo, havendo provado a boa Palavra de Deus e as virtudes do século futuro. Essas palavras certamente descrevem pessoas regeneradas. Aqueles aos quais foram dirigidas essas palavras eram cristãos hebreus, que, desanimados e perseguidos (10.32-39), estavam tentados a voltar ao Judaísmo. Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles que, publicamente, fizessem as seguintes declarações (10.29): que Jesus não era o Filho de Deus; que seu sangue havia sido derramado justamente como o dum malfeitor comum; e que seus milagres foram operados pelo poder do maligno. Tudo isso está implícito em Hb 10.29. (Que tal repúdio da fé podia haver sido exigido, é ilustrado pelo caso dum cristão hebreu na Alemanha, que desejava voltar à sinagoga, mas foi recusado porque desejar conservar algumas verdades do Novo Testamento.) Antes de sua conversão havia pertencido à nação que crucificou a Cristo; voltar à sinagoga seria de novo crucificar o Filho de Deus e expô-lo ao vitupério; seria o terrível pecado da apostasia (Hb 6.6); seria como o pecado imperdoável para o qual não há remissão, porque a pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não pode ser “renovada para arrependimento”; seria digna dum castigo mais terrível do que a morte (10.28); e significaria incorrer na vingança do Deus vivo (10.30-31). Não se declara que alguém houvesse ido até esse ponto; de fato, o autor está persuadido de “coisas melhores” (6.9). Contudo, se o terrível pecado da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos remotamente possível, todas essas admoestações careceriam de qualquer fundamento. Leia-se 1Co 10.1-12. Os coríntios se haviam jactado de sua liberdade cristã e da possessão dos dons espirituais. Entretanto, muitos estavam vivendo num nível muito pobre de espiritualidade. Evidentemente eles estavam confiando em sua “posição” e privilégios no Evangelho. Mas Paulo os adverte de que os privilégios podem perder-se pelo pecado, e cita os exemplos dos israelitas. Estes foram libertados duma maneira sobrenatural da terra do Egito, por intermédio de Moisés, e, como resultado, o aceitaram como seu chefe durante a jornada para a Terra da Promissão. A passagem pelo Mar Vermelho foi um sinal de sua dedicação à direção de Moisés. Cobrindo-os estava a nuvem, o símbolo sobrenatural da presença de Deus que os guiava. Depois de salvá-los do Egito, Deus os sustentou, dando-lhes, de maneira sobrenatural, o que comer e beber. Tudo isso significava que os israelitas estavam em graça, isto é: no favor e na comunhão com Deus. Mas “uma vez em graça sempre em graça” não foi verdade no caso dos israelitas, pois a rota de sua jornada ficou assinalada com as sepulturas dos que foram destruídos em conseqüência de suas murmurações, rebelião e idolatria. O pecado interrompeu sua comunhão com Deus, e, como resultado, caíram da graça. Paulo declara que esses eventos foram registrados na Bíblia para advertir os cristãos quanto à possibilidade de perder os mais sublimes privilégios por meio do pecado deliberado. 4. Equilíbrio escriturístico. As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do Arminianismo, são ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação – e assim o faz a Bíblia; o Arminianismo acentua a livre vontade e responsabilidade do homem – e assim o faz a Bíblia. A solução prática consiste em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista, e em evitar colocar uma idéia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas doutrinas bíblicas são colocadas em posição antagônica, uma contra a outra, o resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada à soberania e à graça de Deus na salvação pode conduzir a uma vida descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm a ver com sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outro lado, ênfase demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação contra o Calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a ilegalidade e o legalismo. Quando Carlos Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de Deus havia recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem. Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e as obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de Deus. Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de salvar as almas, não temos dificuldades com o assunto. João Wesley era arminiano e George Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a Cristo. Pregadores piedosos calvinistas, do tipo de Carlos Spurgeon e Carlos Finney, têm pregado a perseverança dos santos de tal modo a evitar a negligência. Eles tiveram muito cuidado de ensinar que o verdadeiro filho de Deus certamente perseveraria até ao fim, mas acentuaram que se não perseverassem, poriam em dúvida o fato do seu novo nascimento. Se a pessoa não procurasse andar na santidade, dizia Calvino, bem faria em duvidar de sua eleição. É inevitável defrontarmo-nos com mistérios quando nos propomos tratar as poderosas verdades da presciência de Deus e a livre vontade do homem; mas se guardamos as exortações práticas das Escrituras, e nos dedicamos a cumprir os deveres específicos que se nos ordenam, não erraremos. “As coisas encobertas são para o Senhor Deus, porém as reveladas são para nós” (Dt 29.29). Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando indevidamente dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança – o poder de Cristo como Salvador; a fidelidade do Espírito Santo que habita em nós, a certeza das divinas promessas, e a eficácia infalível da oração. O Novo Testamento ensina uma verdadeira “segurança eterna”, assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, obstáculos ou dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser vencedor em Cristo. Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8.35-39). VIII. A Extensão da Expiação:Expiação Limitada Versus Expiação Ilimitada Ron Rhodes A Questão Definida O teólogo Walter Elwell resume o debate sobre a extensão da expiação desta forma: “Embora haja variações quanto aos modos básicos em que este assunto pode ser abordado, as escolhas resumem em duas: ou a morte de Cristo foi pretendida para assegurar a salvação para um número limitado ou a morte de Jesus foi pretendida para prover salvação para todos. A primeira concepção é algumas vezes chamada ‘expiação limitada’ pois Deus limitou o efeito da morte de Cristo a um número específico de pessoas eleitas, ou ‘redenção particular’ pois a redenção foi para um grupo particular de pessoas. A segunda concepção é algumas vezes referida como ‘expiação ilimitada’ ou ‘redenção geral’ pois Deus não limitou a morte redendora aos eleitos, mas permitiu que ela fosse para a humanidade em geral.” EXPIAÇÃO LIMITADA Definição da Expiação Limitada: “Uma referência à concepção que a morte expiatória de Cristo foi apenas para os eleitos.” Louis Berkhof diz: “A posição reformada é que Cristo morreu com o propósito de real e seguramente salvar os eleitos, e somente os eleitos. Isto equivale a dizer que Ele morreu com o propósito de salvar somente aqueles a quem Ele de fato aplica os benefícios da Sua obra redentora.” Passagens Típicas Oferecidas em Apoio à Expiação Limitada Mt 1.21: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Mt 20.28: “...o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” Mt 26.28: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.” Jo 10.15: “...e dou a minha vida pelas ovelhas.” At 20.28: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.” Ef 5.25: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.” Hb 9.28: “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.”Jo 15.13: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” Argumentos Levantados em Favor da Expiação Limitada A Bíblia fala de uma extensão limitada da expiação. A Bíblia diz que Cristo morreu por um grupo específico de pessoas—”a igreja,” “Seu povo,” “Suas ovelhas.” Louis Berkhof diz: “A Escritura qualifica repetidamente aqueles pelos quais Cristo entregou Sua vida de tal maneira que indica uma limitação muito definida. Aqueles por quem Ele sofreu e morreu são variadamente chamados Suas ‘ovelhas’, ‘minhas ovelhas’, Jo 10.11, 15, 26; Sua ‘igreja’, At 20.28; Ef 5.25-27; ‘o seu povo’, Mt 1.21; e ‘os eleitos’, Rm 8.32-35.” Visto que os eleitos foram escolhidos antes da fundação do mundo, como pode ser dito honestamente que Cristo morreu por todos os homens? Em outras palavras, como poderia Cristo tencionar aquilo que em virtude de Sua onisciência Ele sabia que nunca viria a acontecer? O estudioso reformado Charles Hodge explica o problema desta forma: “Se Deus desde a eternidade determinou salvar uma parte da raça humana e não outra, parece ser uma contradição dizer que o plano de salvação teve igual referência a ambas as partes; que o Pai enviou seu Filho para morrer por aqueles que Ele tinha predeterminado não salvar, verdadeiramente , e no mesmo sentido que Ele O entregou para aqueles que Ele tinha escolhido para fazer os herdeiros da salvação.” O argumento parece ser que “teria sido um desperdício e uma falta de previsão da parte de Deus enviar Cristo para morrer por aqueles que Ele não tinha escolhido para salvação.” É argumentado que a natureza da redenção é tal que, “quando paga e aceita, ela automaticamente liberta as pessoas por quem ela foi pretendida. Nenhuma obrigação adicional pode ser exigida deles. Agora, se a morte de Cristo foi um resgate para todos igualmente, e não somente para os eleitos, então deve ser o caso que todos são libertos pela obra do Espírito Santo.” Alguns defensores da expiação limitada dizem que Cristo seria derrotado se Ele morreu por todos os homens e todos os homens não se salvam. Se Cristo morreu por todas as pessoas, como os defensores da expiação ilimitada dizem, então Deus seria injusto se enviasse pessoas ao inferno por causa de seus próprios pecados. É argumentado que “nenhum tribunal permite que o pagamento seja exigido duas vezes pelo mesmo crime, e Deus não faria isto também.” Cristo pagou pelos pecados dos eleitos; os perdidos pagam por seus próprios pecados. Visto que Cristo não orou por todos em Sua Oração Sacerdotal em João 17, mas somente pelos Seus, Cristo não deve ter morrido por todos. É argumentando que visto que a intercessão é limitada na extensão, a expiação também deve ser. Como Louis Berkhof coloca, “Por que limitaria Ele a Sua oração intercessória, se de fato pagou o preço por todos?” Na Idada Média, estudiosos como Próspero de Aquitaine, Thomas Bradwardine, e John Staupitz ensinaram a expiação limitada. É alegado que, ainda que João Calvino não ensinou explicitamente a doutrina, ela aparece implícita em alguns de seus escritos. Os sucessores de Calvino então fizeram a expiação limitada explícita e a incluíram nas confissões de fé reformadas como os Cânones de Dort e a Confissão de Fé de Westminster. Embora termos como “todos,” “mundo,” e “todo aquele que” são usados na Escritura em referência àqueles por quem Cristo morreu (por exemplo, Jo 3.16), os termos devem ser entendidos como fazendo referência aos eleitos. Em outras palavras: “Todos” refere-se a “todos os eleitos” ou “todas as classes de homens (judeus e gentios).” Louis Berkhof diz “a palavra ‘todos’ algumas vezes tem um sentido restrito na Escritura, denotando todos de uma classe particular, 1Co 15.22; Ef 1.23, ou todas as espécies de classes, Tt 2.11.” O que a Bíblia quer dizer quando ela diz que Cristo é o “Salvador de todos os homens”? Charles Hodge responde: “O que quer dizer é que Ele é nosso Salvador, o Salvador dos homens antes que dos anjos, não dos judeus exclusivamente nem dos gentios apenas, não dos ricos ou dos pobres apenas, não dos justos apenas, mas também dos publicanos e pecadores....” “Mundo” refere-se ao “mundo dos eleitos” ou a “pessoas sem distinção (judeus e gentios).” Louis Berkhof diz que a posição da expiação ilimitada é baseada “no infundado pressuposto de que a palavra ‘mundo’... significa ‘todos os indivíduos que constituem a raça humana.’...Quando é empregado com referência aos homens, nem sempre inclui todos os homens, Jo 7.4; 12.19; 14.22; 18.20; Rm 11.12, 15.” Berkhof também diz: “Há passagens que ensinam que Cristo morreu pelo mundo... Nas passagens referidas ela pode simplesmente servir para indicar que Cristo morreu, não meramente pelos judeus, mas pelas pessoas de todas as nações do mundo.” Similarmente, a palavra “todo aquele que” é interpretado como “todo aquele dos eleitos.” Tais termos universais simplesmente mostram que Jesus morreu por todos os homens sem distinção (isto é, todas as espécies de pessoas, e pessoas de entre judeus e gentios), não que Jesus morreu por todos os homens sem exceção (isto é, todo pecador perdido). EXPIAÇÃO ILIMITADA Definição de Expiação Ilimitada: “Uma referência à doutrina que a morte redendora de Cristo foi para todas as pessoas.” Passagens Típicas Oferecidas em Apoio à Expiação Ilimitada (Nota: Para que possam entender minha posição sobre estes poucos versos, eu acrescentei algum texto e citações expositivas de vários estudiosos bíblicos.)Lc 19.10: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” (O “perdido” parece referir-se ao mundo inteiro da humanidade perdida, não apenas aos eleitos perdidos.) Jo 1:29: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.’” O que é o “mundo” aqui? O exegeta B. F. Westcott diz: “A idéia fundamental de kosmos [mundo] em São João é a da soma dos seres criados que pertence à esfera da vida humana como um todo ordenado, considerado à parte de Deus... o mundo vem representar a humanidade em seu estado caído, alienado de seu Criador.” João Calvino diz deste verso: “Ele usa a palavra 'pecado' no singular para qualquer espécie de iniqüidade; como se ele tivesse dito que toda espécie de injustiça que aliena os homens de Deus é retirada por Cristo. E quando ele diz o pecado do mundo, ele estende este favor indiscriminadamente à toda raça humana.” Ryle similarmente afirma: “Cristo é... um Salvador para toda a humanidade... Ele não sofreu por algumas pessoas apenas, mas por toda a humanidade... O que Cristo retirou, e carregou na cruz, não foi o pecado de certas pessoas apenas, mas a massa acumulada de todos os pecados de todos os filhos de Adão... Eu defendo tão veementemente quanto qualquer um que a morte de Cristo é proveitoso a ninguém a não ser os eleitos que crêem em Seu nome. Mas eu não ouso limitar e reduzir tais expressões como esta que estamos lidando... Eu não ouso confinar a intenção da redenção aos santos apenas. Cristo é para todo homem... A expiação foi feita para todo o mundo, embora seja aplicada e desfrutada por ninguém senão os crentes.” Jo 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Os léxicos gregos são unânimes que “mundo” aqui denota a humanidade, não o “mundo dos eleitos.” Jo 3.16 não pode ser separado dos versos 14-15, nos quais Cristo faz referência a Números 21 com sua discussão de Moisés levantando a serpente de metal no acampamento de Israel, para que se “qualquer um” olhasse para ela, ele experimentaria livramento físico. No verso 15 Cristo aplica a história espiritualmente quando diz que “todo aquele que” crê no Filho do Homem levantado experimente livramento espiritual. João Calvino diz: “Ele empregou o termo universal 'todo aquele que', tanto para convidar todos indiscriminadamente para participar da vida, quanto para eliminar qualquer desculpa dos incrédulos. Tal é também a significação do termo 'mundo' que Ele anteriormente usou [Deus amou o mundo de tal maneira]; pois embora nada seja encontrado no mundo que seja digno do favor de Deus, todavia Ele se manifesta para ser reconciliado com o mundo todo, quando Ele convida todos os homens sem exceção [não meramente ‘sem distinção’] à fé de Cristo, que não é nada mais que uma entrada para a vida.” Jo 4.42: “E diziam à mulher: ‘Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.’” É certo que quando os samaritanos chamaram Jesus “o Salvador do mundo,” eles não estavam pensando no mundo dos eleitos. Da mesma forma, quando Jesus disse, “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), Ele não estava pensando em Si mesmo, como a Luz do mundo dos eleitos. “O sol no céu brilha sobre todos os homens, embora alguns, em sua insensatez, pode escolher se recolher em cavernas escuras para fugir de seus raios iluminadores.” Quando Jesus chamou Seus discípulos de “a luz do mundo” (Mt 5.14), Ele não queria dizer que eles eram a “luz dos eleitos.” Da mesma forma, o “Salvador do mundo” em Jo 4.42 não pode ser limitado aos eleitos. At 2.21: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.”Rm 5.6: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”2Co 5.14-15: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”1Tm 2.3-4: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.”1Tm 2.5-6: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” 1Tm 4.10: “Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis.”Tt 2.11: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” Hb 2.9: “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” A palavra “todos” é melhor traduzida por “cada.” Henry Alford comenta: “Se for perguntado, por que pantos (cada) antes que panton (todos), podemos seguramente dizer que o singular exibe, muito mais fortemente do que a palavra plural, a aplicabilidade da morte de Cristo a cada homem individual.” 2Pe 3.9: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” 1Jo 2.2: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (Note a distinção entre “nossos” e “todo o mundo.”) 1Jo 4.14: “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo.” Argumentos Levantados em Favor da Expiação Ilimitada Há certas passagens da Escritura que parecem muito difícil encaixar dentro da estrutura da expiação limitada. Por exemplo: Rm 5.6 diz: “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.” Não faz muito sentido ler este verso como se dissesse que Cristo morreu pelos ímpios dos eleitos. Rm 5.18 diz: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” Sobre este verso, João Calvino diz: “Ele faz este favor comum a todos, pois é proposto a todos, e não porque na realidade estendeu a todos [isto é, em sua experiência]; pois embora Cristo sofreu pelos pecados de todo o mundo, e é oferecido pela benignidade de Deus indiscriminadamente a todos, todavia todos não O recebem.” Sobre as duas ocorrências da frase “todos os homens,” E. H. Gifford comenta: “As palavras todos os homens [no v. 18] devem ter a mesma extensão em ambas as frases.” 1Jo 2.2 diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” Uma leitura natural deste verso, sem impor pressuposições teológicas nele, parece apoiar a expiação ilimitada.Is 53.6 diz: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” Este verso não faz sentido a menos que seja lido que o “todos” que andaram desgarrados é o “todos” por quem o Senhor morreu. “Na primeira destas afirmações, a apostasia geral dos homens é declarada; na segunda, o desvio particular de cada um; na terceira, o sofrimento expiatório do Messias, que é dito ser em favor de todos. Como o primeiro ‘todos’ é verdadeiro de todos os homens (e não apenas dos eleitos), julgamos que o último ‘todos’ tem relação com o mesmo grupo.” O teólogo Millard Erickson comenta: “Esta passagem é especialmente poderosa de um ponto de vista lógico. É claro que a extensão do pecado é universal; é especificado que todos nós pecamos... É difícil ler esta passagem e não concluir que, como todos pecam, por todos também é feito expiação.” 1Tm 4.10 diz: “...esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis.” Há uma clara distinção aqui entre “todos os homens” e “os fiéis.” Erickson nota que “aparentemente o Salvador fez algo por todas as pessoas, embora seja menos em grau do que ele tem feito pelos que crêem.” Em 2Pe 2.1, parece que Cristo ate pagou o preço de redenção por falsos mestres que O negam: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” Millard Erickson nota que “2Pe 2.1 parece apontar mais claramente que pessoas por quem Cristo morreu podem se perder... há uma distinção entre aqueles por quem Cristo morreu e aqueles que são finalmente salvos.” Jo 3.17 diz: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Sobre este verso João Calvino diz: “Deus não deseja que sejamos oprimidos com destruição eterna, pois Ele ordenou que Seu Filho fosse a salvação do mundo.”Calvino também afirmou: “A palavra 'mundo' é novamente repetida, para que ninguém possa pensar de si mesmo como totalmente excluído, se ele somente mantém a estrada da fé.” Muitas passagens indicam que o Evangelho deve ser universalmente proclamado, e isto apóia a expiação ilimitada. Mt 24.14: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” Mt 28.19: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” At 1.8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” At 17.30: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam.” Tt 2.11: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” Em virtude de tais passagens, é legítimo perguntar: “Se Cristo morreu somente pelos eleitos, como pode a oferta de salvação ser feita a todas as pessoas sem que alguma espécie de insinceridade, artificialidade, ou desonestidade esteja envolvida? Não é impróprio oferecer salvação a todos se de fato Cristo não morreu para salvar todos?” “Como Deus pode autorizar Seus servos a oferecer perdão aos não-eleitos se Cristo não o comprou para eles? Este é um problema que não incomoda aqueles que crêem na Redenção Geral [Ilimitada], pois é mais razoável proclamar o Evangelho a todos se Cristo morreu por todos.” Aqueles que negam a expiação ilimitada não podem dizer a qualquer pecador, “Cristo morreu por você.” (Afinal de contas, ele pode ser um dos não-eleitos.) O conselheiro reformado Jay Adams comenta: “Como um cristão reformado, o escritor crê que conselheiros não devem aconselhar uma pessoa não salva que Cristo morreu por ele, pois eles não podem dizer isso. Ninguém sabe exceto o próprio Cristo quem são seus eleitos por quem ele morreu.” Louis Berkhoff, um defensor da expiação limitada, admite: “Não precisa ser negado que há uma real dificuldade neste ponto.” O teólogo Robert Lightner comenta: “A crença na expiação limitada significa que as boas novas da graça salvadora de Deus em Cristo não pode ser personalizada. Aqueles que crêem em tal posição não podem dizer a alguém a quem eles estão dando testemunho que Cristo morreu por ele pois este alguém pode, de fato, não ser um daqueles por quem Cristo morreu.” Tais cristãos crêem que o evangelho deve ser apresentado em termos muito gerais, tais como: “Deus ama pecadores e Cristo morreu por pecadores.” “Crer que alguns são eleitos e alguns não-eleitos não cria nenhum problema para o evangelista visto que ele é livre em suas convicções para declarar que Cristo morreu por cada um daqueles a quem ele fala. Ele sabe que os não-eleitos não aceitarão a messagem. Ele sabe também que até uma pessoa eleita pode resisti-la até perto do dia de sua morte. Mas se o pregador crê que alguma parte de seu público é destituída de qualquer base de salvação, não tendo nenhuma parte nos valores da morte de Cristo, não é mais uma questão em sua mente de se eles aceitarão ou rejeitarão; antes, torna uma questão de autenticidade na declaração da mensagem.” 2Pe 3.9 diz: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” Como pode ser se Cristo morreu apenas e exclusivamente pelos eleitos? Romanos 5 indica que pelo ato de desobediência de Adão a raça humana inteira se tornou os receptores do pecado. E por um ato de obediência o último Adão fez provisão para o dom gracioso da justiça pela raça humana inteira. A desobediência de um foi co-extensiva com a obediência do outro. A Escritura diz que Cristo morreu por “pecadores” (1Tm 1.15; Rm 5.6-8). A palavra “pecador” em nenhum lugar é limitado aos eleitos ou à igreja. É usado exclusivamente na Bíblia para a humanidade perdida. A Escritura nos conta que Cristo morreu por pecadores, não pecadores impenitentes, e pelos ímpios, não por apenas alguns deles. Aparentemente referências restritivas podem ser logicamente encaixadas dentro de um cenário ilimitado mais facilmente do que referências universais poderiam num cenário da expiação limitada. “O problema que ambos os grupos encaram é a necessidade de harmonizar passagens que referem à redenção limitada com passagens que referem à redenção ilimitada. Aos que crêem na redenção ilimitada as passagens da redenção limitada não apresentam nenhuma dificuldade real. Ele crê que elas meramente enfatizam um aspecto de uma verdade maior. Cristo morreu pelos eleitos, mas Ele também morreu pelos pecados de todo o mundo. Entretanto, os que crêem na redenção limitada não é capaz de lidar com as passagens da redenção ilimitada tão facilmente.” As duas séries de passagens anotadas anteriormente—uma série aparentemente apoiando a expiação limitada, a outra apoiando a expiação ilimitada—não são irreconciliáveis. Como Elwell coloca, “É verdade que os benefícios da morte de Cristo são referidos como pertencendo aos eleitos, suas ovelhas, seu povo, mas teria que ser mostrado que Cristo morreu somente por eles. Ninguém nega que Cristo morreu por eles. É somente negado que Cristo morreu exclusivamente por eles.” Millard Erickson da mesma forma diz que “afirmações sobre Jesus amando e morrendo por sua igreja ou suas ovelhas não precisam ser entendidas como confinando seu amor especial e morte salvífica estritamente a eles... Não segue de uma declaração que Cristo morreu por sua igreja, ou por suas ovelhas, que ele não morreu por ninguém mais, a não ser, é claro, que a passagem especificamente afirma que foi somente por eles que ele morreu... Certamente se Cristo morreu pelo todo, não há nenhum problema em afirmar que ele morreu por uma parte específica do todo. Insistir que aquelas passagens que focam em sua morte por seu povo requer o entendimento de que ele morreu apenas por eles e por ninguém mais contradiz as passagens universais. Concluímos que a hipótese da expiação universal é capaz de explicar um segmento maior do testemunho bíblico com menos distorção do que a hipótese da expiação limitada.” Robert Lightner similarmente argumenta: “A tarefa de harmonizar aquelas várias Escrituras apresenta um problema muito maior para aqueles que crêem em uma expiação limitada do que para aqueles que crêem numa posição ilimitada. Aqueles que defendem uma expiação ilimitada reconhecem que algumas Escrituras enfatizam o fato que Cristo morreu pelos eleitos, pela igreja, e por crentes individuais. Entretanto, eles apontam que quando esses versos distinguem um grupo específico, eles não o fazem excluindo qualquer um que esteja fora desse grupo visto que dezenas de outras passagens os incluem. As passagens ‘limitadas’ estão apenas enfatizando um aspecto de uma verdade maior. Em contraste, aqueles que defendem uma expiação limitada enfrentam grandes dificuldades para explicar as passagens ‘ilimitadas.’” O fato é, as Escrituras não incluem sempre todos os aspectos de uma verdade em qualquer passagem. “Se estes textos são usados isoladamente para ‘provar’ que Cristo morreu somente pelos eleitos, então poderia ser argumentado com igual lógica de outras passagens isoladas que Cristo morreu apenas por Israel (cf. Jo 11.51; Is 53.8), ou que Ele morreu apenas pelo apóstolo Paulo (pois Paulo declara de Cristo, ‘O qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim,’ Gl 2.20). Como também alguém pode afirmar que Cristo restringiu Suas orações a Pedro por causa do fato que Ele disse a Pedro, ‘Mas eu roguei por ti’ (Lc 22.32).” Vamos examinar em maiores detalhes algumas passagens que falam de Cristo sendo o Salvador dos Israelitas. At 13.23 diz: “Da descendência deste, conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel.” Este verso indica que Jesus foi o Salvador oferecido a Israel, não que todo israelita depositou fé em Cristo e foi salvo pelo Salvador. “Que base temos nós para pensar que todas essas pessoas receberam a salvação? Nenhuma. Todavia, claramente, ela foi colocada ao alcance deles.” Em Mt 1.21 somos informados que Jesus “salvará o seu povo dos seus pecados.” Por todo o Velho Testamento Deus fala dos israelitas como “Meu povo.” Sete vezes Deus diz a Faraó, “Deixa ir o meu povo” (Ex 5.1; 7.16; 8.1, 20; 9.1, 13; 10.13). (Solicito ao leitor checar uma concordância para ver por si mesmo que Deus muitas vezes refere aos israelitas como “Meu povo” por todo o Velho Testamento.) A última ocorrência é Zc 13.9: “Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meu Deus” Agora, em Lc 1.68 Zacarias disse: “Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo.” Zacarias está usando a frase “seu povo” no sentido padrão do Velho Testamento. Em Mt 1.21, quando um anjo disse a José, “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados,” as palavras “seu povo” parece estar fazendo referência especificamente ao povo de Israel, não ao completo grupo dos eleitos de Deus (que inclui não-israelitas ou gentios). Todavia, como Norman Douty pergunta, “Quem crê que o povo judeu tem o monopólio da graça salvadora de Cristo? Todos defendem que vai além de seus limites, até o mundo gentio também.” Da mesma forma lemos em Jo 11.50: “Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação [isto é, Israel].” Em nenhuma destas passagens os defensores da expiação limitada insistem que o povo judeu é exclusivamente o objeto da graça salvadora de Deus. Similarmente, quando se diz que Cristo resgatou a igreja com Seu sangue (At 20.28), não podemos limitar a obra expiatória de Cristo à igreja somente. Gl 2.20 declara que Cristo amou Paulo e se entregou por ele (“A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”). Mas isto não significa que Cristo se entregou somente por Paulo. Acrescentando, Cristo não se entregou somente por Paulo, ou somente por Israel, ou somente pela igreja, mas por todos os homens. Termos universais como “mundo” não devem ser restritos nos contextos que falam da expiação. É verdade que palavras como “todos” e “mundo” são algumas vezes usadas na Bíblia com um sentido restrito. Mas o contexto é sempre determinante. Robert Lightner comenta: “Aqueles que sempre limitam o significado desses termos em contextos que lidam com a salvação o fazem baseando-se em pressuposições teológicas, não baseando-se nos próprios textos.” Um estudo da palavra “mundo”—particularmente nos escritos do apóstolo João, onde é usado 78 vezes—indica que mundo é o mundo que odeia Deus, que rejeita Cristo, e que é dominado por Satanás. Todavia este é o mundo pelo qual Cristo morreu. Particularmente nos escritos de João, interpretar “mundo” como “mundo dos eleitos” parece uma grande distorção da Escritura. Entre os léxicos, enciclopédias, e dicionários mais confiáveis que não conhecem o significado “mundo dos eleitos” para a palavra bíblica “mundo” (kosmos) estão: Kittel's Theological Dictionary of the New Testament. Vine's Expository Dictionary of New Testament Words. Vincent's Word Studies in the New Testament. Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament. Souter's Pocket Lexicon of the New Testament. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge. Hastings' Dictionary of the Bible. The International Standard Bible Encyclopedia. The New Bible Dictionary. Baker's Dictionary of Theology. Arndt and Gingrich's A Greek-English Lexicon of the New Testament. Walter Martin, fundador do Christian Research Institute, observa: “O apóstolo João nos conta que Cristo entregou Sua vida como uma propiciação pelos nossos pecados (isto é, os eleitos), embora não pelos nossos apenas mas pelos pecados do mundo todo (1Jo 2.2)... [As pessoas] não podem se esquivar do uso de João de ‘todo’ (grego: holos). No mesmo contexto o apóstolo concludentemente aponta que ‘o mundo todo (holos) está no maligno’ ou, mais propriamente, ‘no colo do maligno’ (1Jo 5.19, tradução literal). Se assumirmos que ‘todo’ aplica somente aos escolhidos ou eleitos de Deus, então o ‘mundo todo não está no colo do maligno. Isto, é claro, todos rejeitam.” Devemos também perguntar, Como pode o Espírito Santo ter um ministério para o mundo todo de mostrar aos homens a necessidade de Jesus Cristo (Jo 14-16) se a morte de Cristo não faz provisão para o mundo todo? Jo 16.7-11 diz: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.” Note nesta passagem que “o mundo” é claramente distinto de “vós” e “vos.” Ainda mais, é dito que o Espírito Santo convence o mundo. E uma das coisas que o Espírito convence “o mundo” é do pecado de não crer em Cristo (v. 9). Não devemos concluir que “o mundo” que é convencido da incredulidade seja o mundo dos eleitos, devemos? (Se for, então Satanás, o “príncipe deste mundo” [v. 11, mesmo contexto], deve ser o “príncipe dos eleitos.”) Calvino diz desta passagem que “sob o termo mundo estão, creio, incluídos não apenas aqueles que seriam verdadeiramente convertidos a Cristo, mas os hipócritas e os reprovados.” Embora Deus seja completamente soberano sobre todas as coisas, isto não significa que Ele traz à existência tudo que Ele “deseja.” Norman Douty oferece esta reflexão: “Considere o começo da história humana. Deus disse aos nossos primeiros pais para não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ele queria que eles comessem, ou não queria? Claramente, Ele não queria que eles comessem. Todavia eles comeram dela. Ele ficou frustrado? É claro que não. Ele não ficou frustrado porque, por Sua graça eficiente, Ele poderia ter induzido-os a não comer. Todavia Ele escolheu reter essa graça e permitir a queda. No entanto, a completa responsabilidade por esse pecado pertenceu a Adão e Eva, que tinham graça suficiente para refrear, mas não a usaram.” Considere Mt 23.37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!.” O que Cristo desejou não foi o que aconteceu. Douty conclui: “Como Deus poderia ter induzido nossos primeiros pais a não comer da árvore, ele também poderia ter induzido... os judeus resistentes do tempo de Cristo a terem recebido Seu gracioso ministério de salvação. Mas Ele não escolheu efetuar estes fins desejáveis. Todavia de nenhuma forma Ele queria que o mal sobreviesse a qualquer um. Ele meramente permitiu a violação de Seus desejos a fim de executar um propósito secreto que Ele tinha em mente.” Mais um exemplo diz respeito a Jesus, que disse a alguns judeus em Jo 5.34: “Digo isto, para que vos salveis.” Mas “salvos” eles não eram. Por que? Porque Cristo acrescentou no verso 40, “Não quereis vir a mim para terdes vida.” Aqui está um claro caso de “mas não o quiseste,” apesar da clara oferta de salvação. “Há razões que são baseadas nas Escrituras por que nosso soberano Deus pode prover uma redenção por todos quando Ele meramente propôs por decreto salvar alguns. Ele é justificado por colocar o mundo todo em uma particular relação consigo mesmo para que o evangelho possa ser pregado com toda sinceridade a todos os homens, e para que, do lado humano, os homens possam ser inescusáveis, sendo julgados, como são, por sua rejeição do que é oferecido a eles.” Alguém que rejeita a expiação limitada de forma alguma significa que ele deprecia ou diminui a clara doutrina bíblica da soberania de Deus. Qualquer um que faz esta alegação está simplesmente desinformado. “Sem a menor inconsistência os defensores da expiação ilimitada podem crer numa eleição de acordo com a graça soberana, que ninguém senão os eleitos serão salvos, que todos os eleitos serão salvos, e que os eleitos são por capacitação divina unicamente chamados do estado de morte espiritual da qual eles estão impotentes para sequer dar um passo em direção a sua própria salvação. O texto, ‘Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer’ (Jo 6.44), é tanto uma parte de um sistema de doutrina quanto é do outro.” Mt 26.28 diz, “Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.” A referência a “muitos” nas palavras de Cristo não apóiam a expiação limitada mas antes a expiação ilimitada. Alguém deve ter em mente que anteriormente em Mateus Jesus tinha dito que poucos encontram a vida eterna (Mt 7.14) e poucos são escolhidos (22.14). Mas Cristo não disse que Seu sangue seria derramado por poucos, mas por muitos. João Calvino assim declara deste verso: “Pela palavra muitos Ele não quer dizer uma parte do mundo apenas, mas toda a raça humana.” Este é o mesmo significado em Rm 5.15: “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.” Note que os “muitos” do verso 15 é claramente definido no verso 18 como “todos os homens”: “...assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.” Note que neste verso Paulo fala do pecado de Adão, e da morte resultante vinda sobre todos os seus descendentes. Mas então o apóstolo continua falando da graça de Deus e de seu dom resultante (da vida), abundando sobre o mesmo grupo. Eu digo, “sobre o mesmo grupo,” pois “os muitos” na segunda frase do verso é de extensão igual ao “os muitos” na primeira frase. Resposta a Três Questões Comuns 1. Se Cristo morreu por aqueles que vão ao inferno, que benefício eles têm de Sua morte? Resposta: “Podemos da mesma forma perguntar, Que benefício os israelitas picados obtiveram da serpente de metal para a qual eles se recusaram a olhar? Nenhum, obviamente, mas Deus obteve a glória de ser um Deus generoso o suficiente para prover para eles.” 2. Se a satisfação foi feita por todos, como pode alguém ir para o inferno? Resposta: “Embora Deus tenha provido expiação para todos, Ele também estipulou que ninguém obteria o benefício dela, exceto através do arrependimento e fé. A libertação da sentença não foi contingente na própria expiação mas na recepção dela. Homens podem morrer de fome na presença de uma banquete gratuito, se eles se recusarem a participar dele.” 3. Por que Deus enviaria Cristo para morrer por aqueles que Ele, em Sua onisciência, sabia que nunca receberiam Sua provisão? Resposta: “Por que Deus ricamente dotou os anjos que subseqüentemente pecaram, quando Ele sabia que ele não usariam Seus dons para seu bem eterno? Por que Ele conferiu valorosos dons aos nossos primeiros pais, para ser empregados em benefício próprio e também nosso, quando Ele sabia que eles não os empregariam? Por que Ele enviou Noé para pregar para as pessoas que Ele sabia que não receberiam Sua mensagem? E por que Ele mandou os profetas a Israel, quando Ele sabia que eles continuariam em sua apostasia? Há uma coisa chamada benevolência divina.” Resposta a Algumas Críticas Feitas pelos Proponentes da Expiação Limitada A acusação de que a expiação ilimitada leva ao universalismo é um caso à parte. “Apenas porque alguém crê que Cristo morreu por todos não significa que todos são salvos. Alguém deve crer em Cristo para ser salvo, então o fato que Cristo morreu pelo mundo aparentemente não assegura a salvação de todos. Aqueles que afirmam isto estão simplesmente equivocados.” Deus faz a provisão de salvação para todos os homens, mas é condicionado pela fé. Assim, a salvação se torna atual somente para os eleitos, embora seja potencial e disponível a todos. “Nossa herança da vida eterna envolve dois fatores separados: um fator objetivo (a provisão de salvação de Cristo) e um fator subjetivo (nossa aceitação dessa salvação).” Os calvinistas moderados distinguem entre os benefícios provisionais da morte de Cristo e da apropriação desses benefícios pelos eleitos. Embora a provisão da expiação seja ilimitada, todavia a aplicação dela é limitada. Em seu livro The Death Christ Died, Robert Lightner explica: “[Calvinistas moderados] acreditam que a cruz não aplica seus próprios benefícios mas que Deus condicionou Sua completa e gratuita salvação à fé pessoal a fim de apropriar sua realização ao indivíduo. Esta fé que os homens devem exercer não é uma obra pela qual o homem contribui sua parte para sua salvação, nem a fé, na concepção calvinista moderada, melhora de qualquer forma o sacrifício final e completo do Calvário. É simplesmente o método de aplicar os benefícios do Calvário que o Deus soberano intentou usar em Seu plano todo sábio de salvação.” Deus não é injusto por condenar aqueles que rejeitam a oferta de salvação. Ele não está exigindo julgamento duas vezes. “Porque o incrédulo recusa a aceitar a morte de Cristo como sua, os benefícios da morte de Cristo não são aplicados nele. Ele está perdido, não porque Cristo não morreu por ele, mas porque ele recusa a oferta de perdão de Deus.” O propósito eletivo de Deus não é completo até que os eleitos estejam na glória. Visto que isto é verdadeiro, e visto que a cruz provê salvação dependente da fé para sua recepção, e visto que a cruz não assegura a salvação à parte dessa fé, não há nenhuma contradição com a soberania de Deus. A expiação ilimitada tem sido defendida pela maioria de eruditos por toda a história da igreja. Millard Erickson aponta que a expiação ilimitada tem sido “defendida pela vasta maioria de teólogos, reformadores, evangelistas, e pais do início da igreja até o presente dia, incluindo realmente todos os escritos antes da Reforma, com a possível exceção de Agostinho. Entre os Reformadores a doutrina é encontra em Lutero, Melanchthon, Bullinger, Latimer, Cranmer, Coverdale, e até Calvino em alguns de seus comentários... É provável que a esmagadora maioria de cristãos poderiam ter interpretado tão mal a direção do Espírito Santo em tal ponto importante?” Robert Lightner escreve a posição de Calvino sobre a questão: “Aqueles que apóiam a expiação limitada geralmente argumenta que essa é a posição aderida por Calvino. Mas é altamente discutível que ele, de fato, defendeu esta opinião... Ao passo que alguns eruditos têm tentado mostrar que há harmonia entre Calvino e o Calvinismo ortodoxo, outros têm argumentado que o Calvinismo contemporâneo tem distanciado significantemente seu ensino de Calvino, incluindo seu ensino sobre a extensão da expiação.” (O leitor irá recordar que um número de citações de Calvino neste ensaio mostra que ele foi favorável à expiação ilimitada.) Citações dos Primeiros Pais da Igreja Clemente de Alexandria (150-220): “Cristo gratuitamente traz... salvação a toda a raça humana.” Eusébio (260-340): “Era necessário que o Cordeiro de Deus fosse oferecido pelas outras ovelhas cuja natureza Ele assumiu, até pela raça humana inteira.” Atanásio (293-373): “Cristo o Filho de Deus, tendo assumido um corpo como o nosso, pois fomos todos expostos à morte [que abrange mais do que os eleitos], se entregou à morte por todos nós como um sacrifício para Seu Pai.” Cirilo de Jerusalém (315-386): “Não se pergunte se o mundo inteiro foi redimido, pois Ele não foi um mero homem, mas o Unigênito Filho de Deus.” Gregório de Nazianzen (324-389): “O sacrifício de Cristo é uma expiação imperecível do mundo todo.” Basílio (330-379): “Mas algo foi achado que foi equivalente a todos os homens... o santo e precioso sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, que Ele derramou por todos nós.” Ambrósio (340-407): “Cristo sofreu por todos, ressuscitou por todos. Mas se alguém não crê em Cristo, ele se priva deste benefício geral.” Ele também disse, “Cristo veio para a salvação de todos, e garantiu a redenção de todos, porquanto Ele trouxe um remédio pelo qual todos podem se salvar, embora haja muitos que... estão indispostos para ser curados.” Agostinho (354-430): Embora Agostinho seja muitas vezes citado apoiando a expiação limitada, há também claras declarações nas obras de Agostinho que sustentam a expiação ilimitada. Por exemplo: “O Redentor veio e deu o preço, derramou Seu sangue, e comprou o mundo. O sangue de Cristo é o preço: o que é de tão grande valor? O que, senão o mundo todo? O que, senão todas as nações?” Ele também afirmou, “O sangue de Cristo foi derramado para a remissão de todos os pecados.” Cirilo de Alexandria (376-444): “A morte de uma carne é suficiente para a redenção da raça humana inteira, pois pertencia ao Logos, o Unigênito de Deus Pai.” Próspero (um amigo e discípulo de Agostinho que morreu em 463): “No que se refere à magnitude e virtude do preço, e à única causa da raça humana, o sangue de Cristo é a redenção do mundo todo: mas aqueles que passam por esta vida sem a fé de Cristo, e o sacramento da regeneração, não participa da redenção.” Ele também disse, “O Salvador é mais justamente dito ter sido crucificado pela redenção do mundo todo.” Ele então disse, “Embora o sangue de Cristo seja o resgate do mundo todo, todavia eles são excluídos de seu benefício, quem, estando satisfeito com sua escravidão, estão indispostos a ser redimido por ele.” Citações dos Reformadores do Século 16 Martinho Lutero (1483-1546): “Cristo não é um cruel exator, mas é aquele que perdoa os pecados do mundo todo... Ele se entregou a Si mesmo por nossos pecados, e com uma oblação retirou os pecados do mundo todo... Cristo retirou os pecados, não de certos homens apenas, mas também os seus, sim, do mundo todo... Não somente meus pecados e os seus, mas também os pecados do mundo todo... Apropriem-se de Cristo.” Philip Melanchton (1497-1560): “É necessário saber que o Evangelho é uma promessa universal, isto é, essa reconciliação é oferecida e prometida a toda a humanidade. É necessário sustentar que esta promessa é universal, em oposição a quaisquer imaginações sobre a predestinação, a fim de que não raciocinamos que esta promessa dizem respeito a poucos outros e nós mesmos. Mas declaramos que a promessa do Evangelho é universal. E a isto são trazidas essas expressões universais que são usadas constantemente nas Escrituras.” Outras pessoas envolvidas a um certo grau na Reforma que defenderam a expiação ilimitada incluem: Hugh Latimer, Myles Coverdale, Thomas Cranmer, Wolfgang Musculus, Henry Bullinger, Benedict Aretius, Thomas Becon, Jerome Zanchius, David Paraeus, e, como notado anteriormente, João Calvino. Citações de Outros Eruditos da História da Igreja Recente Philip Schaff: “Sua graça salvadora flui e superabunda a todos e por todos, sob a simples condição de fé... Se, pela graça de Deus, eu puder converter um único cético a uma fé inocente nele, que viveu e morreu por mim e por todos, eu sentiria que eu não vivi em vão.” B. F. Westcott: “Potencialmente, a obra de Cristo estende para o mundo todo. E o amor de Deus é sem limite de Sua parte, mas para apropriar a benção do amor, o homem deve cumprir a condição necessária da fé.” A. T. Robertson: [A palavra “mundo” em Jo 3.16—“Porque Deus amou o mundo de tal maneira”—significa] “o completo cosmos dos homens, incluindo os gentios, toda a raça humana,” e acrescenta que “este aspecto universal do amor de Deus aparece também em 2Co 5.19; Rm 5.8.” MINHA CONCLUSÃO Neste curto resumo, olhamos para os dois lados do debate a respeito da extensão da expiação. Creio que quando alguém considera todas as evidências bíblicas coletivamente, a visão correta é a expiação ilimitada. IX. OS “CINCO PONTOS” DO CALVINISMO – UMA ANÁLISE EXPOSITIVA A teologia reformada (calvinista) enfatiza que o homem natural está morto em “seus delitos e pecados” (Ef 2.1) e que Deus escolhe arbitrária e soberamente uns para a vida eterna e deixa os outros seguirem seu curso, rumo à danação (augustinismo rígido), ou que Deus predestina uns para a vida eterna e outros para o inferno (predestinacianismo), o que está mais próximo da teologia calviniana. Esta última é a tese conhecida nos meios ortodoxos como dupla predestinação. Em todo caso, o homem não possui livre-arbítrio, a não ser para praticar o mal, e se exclui uma verdade bíblica, que é a universalidade da graça salvadora. Os chamados “cinco pontos” que os calvinistas ensinam não encontram respaldo senão na própria filosofia de Calvino e de seus seguidores. É isto que pretendo provar nestas linhas abaixo, fazendo largo uso das Escrituras. Peço, portanto, aos leitores deste texto que o examinem com cuidado, verificando daqui para frente todas as referências bíblicas colocadas, do contrário, tornariam vão o meu trabalho. Sei que são muitas as passagens bíblicas de que se apóiam os calvinistas. Sei também que são muitas as referências bíblicas usadas na defesa arminiana. Não vou desperdiçá-las, colocando aquelas para as quais sei que todo calvinista já tem uma resposta pronta, mas vou usar somente as que eu julgar serem as mais importantes e cruciais. Os calvinistas costumam associar os seus famosos cinco artigos doutrinais à palavra TULIP (em inglês, tulipa). Trata-se de um acróstico, atribuindo a cada letra um significado, em inglês, como vamos ver: T = Total Depravity ou Total Inability (Depravação Total ou Incapacidade Total); U = Unconditional Election (Eleição Incondicional); L = Limited Atonement (Expiação Limitada); I = Irresistible Grace (Graça Irresistível); e P = Perseverance of Saints (Perseverança dos Santos). Eis os “cinco pontos” (artigos) da doutrina calvinista da predestinação: 8.1 – DEPRAVAÇÃO TOTAL – A teologia calvinista ensina que o pecado original arruinou de tal forma com a natureza humana, que esta não é mais livre. Conforme pensava Calvino, o único homem que possuía o livre-arbítrio era Adão. Adão perdeu o livre-arbítrio quando pecou contra Deus, e com isso toda raça humana foi afetada, constituindo-se, como disse Santo Agostinho, numa “massa damnata” (“massa de condenação”). Desde então, o homem não tem liberdade para escolher fazer a vontade de Deus ou não, em suma, isto não depende da vontade do homem, estando ele próprio “morto em seus delitos e pecados”, conforme escreveu Paulo aos efésios (Ef 2.1,5). Neste estado de total corrupção, homem nenhum é capaz de ter o mínimo desejo por Deus, nem de praticar o bem, nem de querer a salvação, antes domina-o um profundo ódio contra o seu Criador. A isto, os calvinistas chamam “depravação total” ou “incapacidade total”. Entre as provas bíblicas mais contundentes que os calvinistas usam para afirmar que a depravação (corrupção) do homem é tamanha que ele não tem liberdade de escolha, estando totalmente desprovido da graça de Deus, estão, por exemplo, Pv 30.12; Jr 13.23; Jo 5.21; Rm 3.11,12; 8.7-9; 1Co 1.9; 2.14. Com efeito, o profeta Isaías utiliza uma hipérbole que demonstra bem que valor teriam, segundo os calvinistas, as nossas obras aos olhos de Deus: “trapos de imundícia” (“pannus menstruatae”). [6] “Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como o vento, nos arrebatam. [7] E não há quem invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o teu rosto e nos consumiste, por causa das nossas iniqüidades.” (Is 64.6-7) O homem, neste estado, não tem livre-arbítrio, dizia Lutero, mas “servo-arbítrio”. O homem é um escravo do pecado, todas as suas obras são más. Nas palavras de Paulo, toda a criação geme até agora, “porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” (Rm 8.20-21) Santo Agostinho, o artífice dessa doutrina, já havia feito distinção entre “livre-arbítrio” (“liberum arbitrium) e “liberdade” (“libertas”), atribuindo ao “livre-arbítrio” a capacidade de eleger um determinado propósito, seja bom ou mau, mas a “liberdade” seria algo diferente, pois radicaria no bom uso do livre-arbítrio. Para Santo Agostinho, o homem, no estado de natureza decaída, tem livre-arbítrio para fazer o que quer, mas não tem liberdade para fazer o que deve ser feito. Tal é a diferença que os jansenistas faziam entre liberdade de coação e liberdade interior. Uma das proposições heréticas tiradas do “Augustinus” de Jansênio dizia, por exemplo, que, para merecer e desmerecer no estado da natureza decaída, não era necessária liberdade interior, mas bastava a isenção de coação extrínseca. Ora, dada a corrupção da nossa natureza, produzida pelo pecado, o bom uso do livre-arbítrio ou liberdade, não pode dar-se sem a intervenção divina. A Bíblia, por sua vez, está cheia de referências a essa dependência absoluta de Deus para a salvação: [16] Não vos enganeis, meus amados irmãos. [17] Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. [18] Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.16-18) A leitura que Lutero e os outros Reformadores fizeram de Santo Agostinho e do seu sistema, levou-os, no entanto, a negar o arbítrio livre, sendo que alguns teólogos calvinistas até admitem o ponto de vista agostiniano de que o homem natural possui livre-arbítrio, mas, como resultado do pecado original, só quer fazer o mal. Aponta-se para o fato das obras não serem a base da salvação (Rm 11.6; Ef 2.8,9), mas serem a base da condenação (Ap 20.13). E, “porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência” (Rm 11.32), qualquer realização humana, ainda que debaixo de uma aparente capa de bondade, é pecado aos olhos de Deus (Is 64.6). Segue-se, então, os famosos “Trinta e Nove Artigos de Religião” da Igreja Anglicana dizendo: “As obras feitas antes da graça de Cristo, e da inspiração do seu Espírito, não são agradáveis a Deus, porquanto não procedem da fé em Jesus Cristo; nem fazem os homens dignos de receber a graça, nem (como dizem os autores escolásticos) merecem a graça de côngruo; muito pelo contrário, visto que elas não são feitas como Deus quis e ordenou que fossem feitas, não duvidamos terem elas a natureza do pecado” (Artigo XIII). O calvinismo, ao menos, desenvolveu a idéia de “graça comum”, que Deus estenderia a todos os homens, como se fosse um estímulo ao bem, mas que não teria o caráter salvífico nem regenerador da graça especial, reservada aos eleitos. Não sendo, portanto, a graça especial, nem alterando a natureza inteiramente corrompida da alma humana, contudo impediria os homens de pecarem tudo que podem, e, sem ela, seria impossível o convívio entre os homens e qualquer realização humana. Mas não são todos os calvinistas que aceitam a existência dessa “graça comum”. Realmente, se analisamos os fatos à luz da Revelação divina, o pecado original é uma realidade que, sem sombra de dúvida, não pode ser negada: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12). As Escrituras tratam desse assunto com muita clareza e em diferentes contextos. Por exemplo, atentemos para as palavras de Cristo: [20] “E prosseguiu: O que sai do homem , isso é que o contamina. [21] Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, [22] a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; [23] todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem.” (Mc 7.20-23) O pecado ou estado de pecado que aflige a humanidade decorre muito propriamente da culpa de Adão, que recaiu com uma mancha sobre a sua descendência. Isto porque, em razão dessa culpa, Deus, por ser justo e santo, retirou a Adão e seus descendentes Sua graça, permitindo-lhes viver com uma natureza corrompida, o que não nos impulsiona a aceitar a tese de uma total depravação. É sugestivo que a Escritura revele que nem todos pecaram à semelhança da transgressão de Adão, embora a culpa e a sentença caiam também sobre eles. Não se indica aqui que o homem caído vive numa tremenda necessidade de cometer pecados, mas que a mancha do pecado de Adão foi, de certa forma, imputada aos seus descendentes, mesmo para aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão (Rm 5.14). O Apóstolo também nos remete ao fato de que Deus encerrou a todos debaixo da desobediência – porque este foi o pecado de nossos primeiros pais –, para a todos fazer misericórdia (Rm 11.32), o que significa que ninguém nessa “massa damnata” está desprovido inteiramente da graça de Deus. O próprio calvinismo, embora defenda a tese da depravação total, muitas vezes se exime de colocar o homem, a rigor, nesse estado, pois, no fundo, o suaviza, admitindo muito amplamente a existência de uma “graça comum”. Afinal, continua a chover sobre justos e injustos (Mt 5.45). O próprio Sínodo de Dordrecht reconheceu a existência de uma certa “luz natural”: “É verdade que há no homem depois da queda um resto de luz natural. Assim ele retém ainda alguma noção sobre Deus, sobre as coisas naturais e a diferença entre honra e desonra e pratica alguma virtude e disciplina exterior. Mas o homem está tão longe de chegar ao conhecimento salvífico de Deus e à verdadeira conversão por meio desta luz natural que ele não a usa apropriadamente nem mesmo em assuntos cotidianos. Antes, qualquer que seja esta luz, o homem a polui totalmente, de maneiras diversas, e a detém pela injustiça. Assim, ele se faz indesculpável perante Deus.” (Terceiro e Quarto Capítulos de Doutrina, Artigo IV) A graça suficiente é, na verdade, resultante do sacrifício de Cristo em prol de todos, ao passo que, aos regenerados, os méritos de Cristo são também aplicados. É óbvio que, ao homem, não é facultado realizar o bem sobrenatural sem a graça, o que não extingue a possibilidade de se fazer algum bem somente com as forças naturais (At 17.26,27). Para muitos calvinistas, isto é possível, mas o pecado polui de tal forma todas as ações humanas, que, aos olhos de Deus, serão sempre como verdadeiros pecados. Como entender que esse bem também não provenha de Deus [8] ou que, na sua essência, também não seja bem (Jo 15.5)? Fica sem sentido dizer que, mesmo aqueles homens de quem o Antigo Testamento diz que Deus os queria destruir (conforme lemos em 1Sm 2.25) estivessem, por conta disso, totalmente desamparados (At 14.16,17). Assim, a Confissão de Fé de Westminster conclui que todo o bem advindo da “graça comum”, embora seja bem na sua essência e possa ser praticado pelos não regenerados, contudo não é suficiente, em si mesmo, dada a pecaminosidade do homem, para conduzi-lo efetivamente à vida eterna. À semelhança do Sínodo de Dort, considera que o homem polui a “luz natural”, de forma que todas as suas ações ficam manchadas pelo pecado. “As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena, e úteis tanto a si mesmos como aos outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas devidamente - segundo a palavra; - nem para um fim justo - a glória de Deus; são pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não obstante, o negligenciá-las é ainda mais pecaminoso e ofensivo a Deus.” (CFW, Capítulo XVI, 7) A Igreja do Norte dos Estados Unidos ainda fez a seguinte emenda, em 1903: “As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam quanto à matéria coisas que Deus ordena e em si mesmas louváveis e úteis, e embora o negligenciá-las seja pecaminoso e ofensivo a Deus, não obstante, em razão de não procederem de um coração purificado pela fé, elas não são feitas devidamente - segundo a Palavra - nem para um fim justo - a glória de Deus - e ficam aquém do que Deus exige e não podem preparar homem algum para receber a graça de Deus.” É verdade, ainda, que o pecado trouxe conseqüências drásticas sobre a humanidade, que não são eliminadas mesmo nos regenerados: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está” (Rm 7.18), confessa ainda o Apóstolo, a respeito da concupiscência que o assolava. Mas, ao contrário do que julgaram os Reformadores, a essência do pecado original transmitido não reside na concupiscência, e nem é esta propriamente pecado, mas tão-somente inclina ao pecado, de acordo com as palavras de Cristo, “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Cristo refere-se à libertação das amarras ocasionadas pela culpa do pecado que fora imputado a todos os descendentes de Adão, quando diz: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). Nisto, o ensino calvinista está corretíssimo, quando afirma que o pecado corrompeu de tal forma a espécie humana, que esta é incapaz de escolher crer em Deus, ao menos num primeiro momento (1Co 2.11-14). Mas Deus teve misericórdia, enviou Seu Filho para morrer por nós e nos deu Seu dom gratuito, Sua graça salvadora, sem a qual não podemos ser salvos (Sl 40.2; Jo 1.13; 3.19; Rm 8.33). Logo, nenhum ser humano é capaz de merecer a graça de Deus (Ef 2.1,5,8), do contrário a graça já não seria graça (Rm 11.6). A grande controvérsia que envolve os calvinistas é considerar esta graça reservada só aos eleitos. Com respeito ao livre-arbítrio (que também se denomina liberdade física), este tem sido conceituado como a liberdade de se manter neutro, ou seja, liberdade de indiferença. Para a Igreja, essa capacidade foi debilitada pelo pecado original, mas não extinta. A mim me parece apropriado associar a liberdade humana a uma capacidade que os homens tenham, movidos por Deus, de resistir a impulsos externos e internos, em suma, aos “determinismos” de qualquer espécie. Ainda que, na prática, o homem não resista, terá sempre essa capacidade e será responsabilizado por ela (Rm 2.1-4). Se a graça de Deus impulsiona a resistir ao mal nos irregenerados (Rm 2.4), é certo que Deus não retira, aos regenerados, a concupiscência que os faz resistir ao bem – partindo, inclusive, do pressuposto de que somente o homem desprovido de qualquer auxílio da parte de Deus, seria um ser totalmente depravado. Em todos os aspectos, a graça concorre para o livre-arbítrio. Nenhum homem é perfeitamente livre, em todos os sentidos. A liberdade perfeita e absoluta está vinculada à onipotência e é atributo do Senhor Deus. É inquestionável, todavia, que o homem tenha livre-arbítrio, no sentido de poder fazer escolhas com base na sua própria vontade, do contrário o homem seria uma espécie de “robot” e não teria responsabilidade pelas suas ações. Ao mesmo tempo, não poderia ser julgado pelos seus atos, porque, embora a soberania de Deus permanecesse intocável, Ele seria injusto se assim procedesse. A liberdade da vontade, por sua vez, é a liberdade, não de ação, mas de querer fazer o bem, que, de acordo com Santo Agostinho, está perdida no homem caído. A solução do problema encontra a soteriologia luterana (conforme o “Livro da Concórdia”) e arminiano-wesleyana na chamada “graça preveniente” (que os católicos chamam “graça atual”), a qual restaura, de certa forma, essa liberdade, porque embora o homem irregenerado não seja livre para querer, uma vez estimulado, é livre para negar o dom gratuito de Deus. Tal idéia de liberdade não está baseada em conceitos filosóficos, mas na própria vontade de Deus, que deseja que todos sejam salvos (1Tm 2.4), na própria expiação de Cristo em prol da justificação de todos (Rm 5.18) e no próprio “Ide e pregai” de Jesus (Mc 16.15). Graça preveniente, portanto, não é outra coisa senão a graça necessária para a conversão. É possível que essa graça entre em atuação no exato momento em que a pessoa ouve a pregação do Evangelho. Paulo fala sobre isso em Romanos: “Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?... Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.” (Rm 10.14,17). Mas a Bíblia também deixa claro que nem todos os que ouvem a pregação do Evangelho são “incomodados” pelo Espírito, e que nestes a palavra da pregação não chegou “unida com a fé” (Hb 4.2). O problema é que, muito embora os teólogos calvinistas repitam diversas vezes que o homem não é um “robot”, sua soteriologia leva a que se veja o homem, como bem coloca o Concílio de Trento, comportando-se, diante da graça de Deus, como “uma coisa inanimada” (Cânone IV sobre a justificação), ou como um animal de carga que pode ser montado ora por Deus, ora pelo diabo, conforme sugeriu Lutero. Ainda que se diga que a graça determina infalivelmente a vontade do homem [9], a Bíblia, porém, deixa claro que o homem ainda tem livre-arbítrio para acolher ou para rejeitar esta graça, quando diz: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Este é um ponto de vista bíblico, pois pode ser provado pelas Escrituras: Is 30.9,11,12,15; Lc 10.16; Jo 12.18; At 7.51; 13.46; Rm 1.28; 1Ts 4.8. Cabe, pois, ao homem cooperar com Deus, cooperar com esta graça (1Co 3.9; 2Co 6.1), uma vez que o primeiro passo já foi dado: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores, e vós de duplo ânimo, purificai o coração.” (Tg 4.8). Aqui, Tiago parece aludir ao Salmo 24, onde se lê: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl 24.3,4a), fazendo, talvez, uma referência ao sumo-sacerdote que precisava estar “puro” para entrar no Santo dos Santos. Ao empregar estas palavras, Tiago não retira a responsabilidade humana em buscar a santificação, que é a responsabilidade que o cristão tem de se achegar a Deus, na medida em que Ele se achega a nós. É certo que a carta de Tiago não estava direcionada a pagãos, mas a judeus convertidos (Tg 1.1), mas a inclinação de Tiago parece ser bem clara em favor da liberdade humana (Tg 5.20). Vejamos também o que Deus falou a Caim (a quem os calvinistas, pretensamente baseados em 1Jo 3.12, dizem ter sido predestinado ao inferno): “Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar” (Gn 4.7). Os calvinistas retrucam, dizendo que, no caso de Caim, ele tinha um “livre-arbítrio” que somente podia praticar o mal, pois o livre-arbítrio do homem, completamente corrompido pelo pecado original, só faz pecar, e que a eleição consiste, na verdade, do indivíduo ser liberto do governo desse “livre-arbítrio”, ou seja, de sua vontade corrupta e escravista. Outros insistem ainda que o mesmo só tinha “livre agência” – ou seja, ele teria uma certa liberdade de ação, que é diferente da liberdade para aceitar ou rejeitar a salvação. Na verdade, são esforços no sentido de negar a validade desta passagem, onde o próprio Deus dá um conselho a Caim a fim de que o mesmo evite o pecado. O rigorismo dos “Trinta e Nove Artigos de Religião” e das teses jansenistas, em afirmar que todas as ações dos infiéis são verdadeiros pecados, poderia se apoiar, todavia, em Rm 14.23: “Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque o que faz não provém da fé; e tudo o que não provém da fé é pecado”. Entretanto, o próprio contexto no qual este versículo está inserido deixa claro que “fé” aqui é sinônimo de retidão de consciência. De acordo com a nota de rodapé de “A Bíblia de Jerusalém”, outras traduções possíveis seriam: “porque ele não age por convicção” ou “porque sua ação não se inspira numa convicção de fé”. Da mesma maneira, quando diz que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11.6), a Escritura não quer com isso dizer que a graça não possibilite aos homens sem fé praticar o bem, mas que essas obras não são suficientes para salvá-los, por conta do reato do pecado original, mas somente são úteis e segundo a lei de Deus, deveras faltando-lhes algo, a fé, dom cujo recebimento marca verdadeiramente o início da amizade com Deus. Não podemos considerar, como os “Trinta e Nove Artigos de Religião” da Igreja Anglicana, que toda a obra que não procede da fé seja verdadeiramente pecado, ainda que tais obras se tornem insuficientes para a salvação, porque “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). E, muito embora, o homem caído seja, por si mesmo, totalmente incapaz de buscar a Deus, sem que Deus o incite e chame, ou que por Ele seja antes atraído, ele ainda pode realizar obras boas ou evitar o pecado, sustentado pela graça de Deus, como foi o caso de Cornélio, em At 10.2. A Bíblia dá mesmo indícios de que existe uma “graça comum” que serve de refreamento do pecado no mundo, quando ensina que “toda boa dádiva e todo dom perfeito” provém “do alto, descendo do Pai das luzes” (Tg 1.17). Logo, Caim tinha forças para resistir ao pecado, do contrário, Deus nunca haveria dito a ele: “A ti cumpre dominá-lo” (Gn 4.7). O próprio Deus o encorajou a fazer isso, mesmo sabendo que ele invalidaria totalmente estas palavras. A Bíblia, contudo, não dá margem a várias das especulações feitas pelos calvinistas, e, entre elas, a suposta distinção entre “graça comum” (não-justificadora) e “graça especial”. Tal noção é semelhante à noção tomista de graça suficiente e graça eficaz, contudo, ainda que se possa comparar a “graça comum” dos calvinistas com a “graça suficiente” dos tomistas, as duas só são comparáveis nos seus efeitos, não na sua própria razão de ser. O que muitos calvinistas fazem é trair a si mesmos, pois, uma vez crendo que Cristo morreu estritamente pelos eleitos, propõem a existência de uma graça que, absurdamente, não resulta do sacrifício de Cristo. Loraine Boettner, em “A doutrina reformada da predestinação”, pelo menos é coerente em não visualizar a “graça comum” como tendo origem na criação, mas na expiação de Cristo, o que reduz a idéia de uma expiação estritamente particular: “Os arminianos sustentam que Cristo morreu da mesma forma por todos homens, enquanto que os Calvinistas sustentam que na intenção e no secreto plano de Deus, Cristo morreu somente pelos eleitos, e que Sua morte tem somente uma referência incidental para os outros até que eles sejam participantes da graça comum.” Negar a graça suficiente, contudo, também não é um bom negócio, pois é negar que se possa encontrar claramente, na Bíblia, que o chamado de Deus pode ser recusado: “[24] Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção; [25] antes desprezastes todo o meu conselho, e não fizestes caso da minha repreensão; [26] também eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o vosso terror” (Pv 1.24-26). Também em outra passagem: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!” (Mt 23.37). Não se trata aqui de fazer diferença entre um convite sincero à salvação e um chamado interno irresistível, pois o que estas palavras mostram é que Deus quis salvar os reprovados. É certo, porém, que há uma cooperação: Deus endurece o coração daqueles que endurecem o coração para Ele. Este foi o caso do Faraó, endurecido em sua “livre agência” (confronte Êx 4.21 com 8.32). A parábola do semeador também ilustra bem isso (Mt 13.3-23). Veja Mt 13.10-15; Mc 4.11,12; Rm 11.7,8. Deus não induz ativamente ninguém a pecar. Deus pune o pecador afastando-Se dele, retirando-lhe o Seu Santo Espírito (Sl 51.11), deixando-o no próprio estado de pecado que ele mesmo procurou para si (Rm 1.28). Este é o “endurecimento” de que fala a Escritura. Aos “sábios e entendidos” (isto quer dizer, aos soberbos, aos orgulhosos), Ele retira a Sua luz. Este endurecimento tem sua causa inicial no próprio indivíduo, conforme podemos conferir nos versículos abaixo: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11.25) “pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.” (Mt 13.12) “Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6) Deus nos chama à responsabilidade: “Quem pode fazer o bem e não faz comete pecado” (Tg 4.17). E se isto não tem valor algum para nos fazer mais próximos de Deus, se o homem é elemento totalmente passivo na salvação, de que adiantaria obedecer? Ou, se ele obedece porque é salvo, de que adiantaria tal recomendação? E, se ele não é salvo, de que adiantaria curvar-se ante à Sua “graça comum”? O livre-arbítrio humano, embora prejudicado pela queda, não foi extinto, conforme se expressou o Sínodo de Arles, em 473 (Is 55.6,7; Mt 23.13; At 17.30; Ap 22.17). Para salvar-se, é necessário que haja ainda uma cooperação da parte do homem: “Entrai pela porta estreita” (Mt 7.13). Para Tiago, isto parecia ser bem claro (Tg 5.20). Não nos esqueçamos, contudo, que o nosso “liberum arbitrium” é uma liberdade doada pela graça, é um livre-arbítrio doado por Deus, que o move e o excita, como bem coloca o ensino de Trento. É Cristo quem bate à porta, não é o homem que convida Cristo a cear em sua casa (Ap 3.20). Desta forma, o livre-arbítrio humano é a liberdade de rejeitar a graça de Deus. Isto está fundamentado no próprio pensamento de Agostinho. Diz, corretamente, o artigo décimo dos trinta e nove do Anglicanismo (Artigo VIII dos vinte e cinco da Igreja Metodista), intitulado “Do livre-arbítrio”: “A condição do homem depois da queda de Adão é tal que ele não pode converter-se e preparar-se a si mesmo por sua própria força natural e boas obras, para a fé e invocação a Deus. Portanto não temos o poder de fazer boas agradáveis e aceitáveis a Deus, sem que a graça de Deus por Cristo nos previna, para que tenhamos boa vontade, e coopere conosco enquanto temos essa boa vontade”. Tudo o que somos também devemos a Ele (1Co 4.7) e isto independe da queda do homem, conforme Rm 9.20,21. A razão nos obriga a aceitar que todo o bem seja causado por Deus. Se todo o bem tem n’Ele a sua causa, não é o mesmo com o mal, pois o mal nada mais é do que uma privação parcial do bem. Que todo bem provém de Deus, isso é bíblico (Tg 1.16-18), mas não o mal (Tg 1.13-15). Desta forma, a salvação é inteiramente fruto da graça de Deus, e o homem nada faz, nenhum esforço pode fazer para ser salvo nem para aperfeiçoar a salvação, sem que isso, na realidade, provenha de Deus. O homem, na realidade, não tem, em si mesmo, poder para fazer o bem, só o tem para fazer o mal, ou seja, o homem não faz nada de bom senão pela graça de Deus (Concílio de Cartago, 417, cânone V). Por isso, disse o Apóstolo Paulo: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1Co 15.10), como também diz: “Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1Co 4.7) e “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto” (2Co 3.5,6). Resumindo, o homem não tem livre-arbítrio para convidar Jesus a entrar no seu coração, só o tem para negá-lo e rejeitá-lo (Ap 3.20). Desta forma, que os homens se salvem é obra de Deus, que eles se percam é obra deles mesmos, conforme está escrito: [13] Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. [14] Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; [15] então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. [16] Não vos enganeis, meus amados irmãos. [17] Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. [18] Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.13-18) Mas a teologia arminiana aceita tudo isso. Contudo, ensina que a graça é oferecida a todos e pode ser resistida. A teologia arminiana, em tese, não nega a depravação total, apenas nega a graça irresistível. Mas, daí decorre um grave problema. Que o homem pode resistir à graça de Deus, isso não se discute. O problema é: se uns resistem e outros não, o que impedirá o homem de resistir? Para Santo Agostinho, a resposta só poderia ser uma. O homem só não resistirá se for vencido pela graça. De fato, teria que residir algum bem nele para que ele pudesse querer não resistir à graça de Deus por sua própria natureza. O raciocínio é muito lógico: Se o homem é um ser totalmente depravado, com todos os potenciais para resistir à graça de Deus, e não resiste, só pode ser por força de um poder infinitamente maior, do contrário, alguma nesga de bem teria que ter restado em sua natureza e que possibilitasse a ele até mesmo não querer resistir. Este argumento torna a doutrina da resistência à graça incompatível com a depravação total, muito embora o uso desse termo não seja questionado por muitos arminianos, principalmente os da linha wesleyana. Os arminianos wesleyanos, no entanto, são do parecer que a graça capacita a todos a operar positivamente (= não resistir), ao mesmo tempo em que não os impede de operar negativamente (= resistir). Poder-se-ia argumentar que este ponto de vista coloca Deus e o homem num estado de neutralidade, um estado onde nada se acrescenta e nada diminui, até que o homem se decida por seguir a Cristo ou não. Poder-se-ia, ainda, argumentar, não sei se com razão, que a neutralidade entre o bem e o mal é algo impossível no cristianismo. Seria possível no maniqueísmo, onde há um equilíbrio de poder entre o bem e o mal. Todavia, uma vez que o bem e o mal se equiparam à luz e às trevas, e onde há luz não pode haver trevas, nenhuma neutralidade pode aí existir, tão-somente disparidade. Poder-se-ia também argumentar que a graça de Deus parece não corresponder à sua função, que, na Bíblia, é a de salvar o pecador, como Paulo disse “Pela graça de Deus, sou o que sou”, passando a agir como mero instrumento para restituir a liberdade ao pecador. Mesmo assim, não acho justo que somente esses argumentos sejam suficientes para impugnar a soteriologia wesleyana. Para melhor entendermos, poderíamos aplicar a seguinte analogia: Desde a queda, é como se o homem vivesse num mundo de trevas. Uma vez que o bem e o mal são equiparáveis à luz e às trevas, e as trevas nada mais são do que a falta de luz ou a carência de luz, assim também o mal nada mais é do que a carência do bem. Deus transmite à Sua criatura uma certa luz, dando poder a ela para manter essa luz acesa, ao mesmo tempo em que não a impedirá se esta quiser apagá-la totalmente. Não é uma questão de mérito “para que ninguém se glorie” (Ef 2.9), mas a própria Bíblia acentua o demérito daqueles que resistem à ação de Deus, quando se diz que os mesmos entesouram ira para si, por causa da sua dureza e do seu coração impenitente (Rm 2.4,5). Nisso se constitui o livre-arbítrio, a capacidade de decisão do homem: ele não tem a capacidade para querer o bem, sem a graça de Deus, mas diante da graça de Deus, nunca se comportará como uma coisa inanimada. Para concluir, diríamos que muitos teólogos ortodoxos (da Igreja do Oriente) acreditam que não é a culpa de Adão, que se propaga nos seus descendentes por imediata geração. A culpa de Adão seria somente dele. O que se propagaria nos seus descendentes resulta deste pecado original e é, além da mortalidade física, aquilo que os gregos chamaram “desejo” e os latinos chamaram “concupiscência”, e que não seria o pecado propriamente dito, mas a inclinação ou apetite pelo pecado. Este ponto de vista é semelhante ao do semipelagianismo, mas não idêntico, e, historicamente, não tem o apoio da Igreja de Roma, que sempre defendeu a necessidade do batismo para os recém-nascidos, nem seria uma opinião unânime dos teólogos ortodoxos. O semipelagianismo, por sua vez, e este sim condenado como heresia, defendia que o pecado original não trouxe para a raça humana a mortalidade espiritual, ou seja, a corrupção do homem não é de tal ordem que o homem irregenerado não possa ter o mínimo anelo por Deus, sem o auxílio da graça. A graça só se tornaria indispensável posteriormente, quando o homem já se tivesse disposto a recebê-la. Tal posição sugere que o homem não depende de Deus para fazer o bem, não está “morto” em seus delitos e pecados, conforme Ef 2.1, mas tão-somente doente e precisando de Médico (Mt 9.12; Mc 2.17; Lc 5.31). Os católicos romanos, por sua vez, embora afirmem como dogma tanto o pecado original, quanto a iniciativa e dependência absoluta de Deus em todo o processo de salvação, e, por isso, não sendo semipelagianos, não obstante inclinam-se, à decisão do Sínodo de Arles, que considerou que o livre-arbítrio, embora prejudicado pela queda, não foi extinto. Para esses, a queda do homem não foi total, no sentido em que propuseram os protestantes. O semipelagianismo dizia que o homem pode responder positivamente a Deus antes da graça. Não é isso o que a Igreja Católica ensina. A Igreja ensina que Deus é o autor de todo o bem e que a graça é necessária mesmo para o início da fé e obras boas agradáveis a Deus – exatamente por isso não pode ser acusada de semipelagianismo –, todavia ensina que nem o pior dos homens está totalmente desamparado, totalmente desprovido da graça de Deus, como também crêem os protestantes sinergistas. É essa graça que o permite cooperar, aceitando ou rejeitando a salvação. Não é a fé a primeira graça, visto que a bondade, a paciência e a longanimidade de Deus estão sempre impulsionando os homens ao arrependimento (Rm 2.5). Por outro lado, nem a perseverança na fé é fruto dos nossos méritos, mas unicamente do amor gratuito de Deus por nós. 8.2 – ELEIÇÃO INCONDICIONAL – Deus escolhe arbitrária e soberamente os eleitos, ou seja, aqueles a quem Ele decidiu salvar, e abandona os outros à própria sorte (tese da preterição). A teologia católica também ensina a eleição incondicional como forma de preservar a soberania divina e a gratuidade da salvação, mas os molinistas discordam. Esta é a clássica discordância entre tomistas e molinistas. Para os tomistas e calvinistas, a eleição incondicional dos eleitos implica necessariamente numa reprovação incondicional dos não-eleitos. Alguns calvinistas, entre eles o próprio Calvino, defendiam que Deus predestinava (ou preordenava) alguns – anjos e homens – para o céu e outros para o inferno, independente mesmo da queda do homem (dupla predestinação). Seus adversários, por sua vez, advogam que isto torna Deus o autor do pecado, porque sugere que Deus impele esses homens para o mal. Este ensino da dupla predestinação, aparentemente, encontra ecos no Antigo Testamento (Pv 16.4,9; 20.24; Jr 10.23). Confronte, todavia, com Pv 1.23-26; Is 55.7; Ez 18.23; 33.11. Para a Igreja, os “praedestinati” são só os predestinados à vida eterna. Embora o Concílio de Valença, em 855, tenha feito menção a essa dupla predestinação, não se esquivou de dizer que a predestinação negativa estava subordinada à previsão dos deméritos, o que significava dizer que Deus reprova ninguém ativamente. Teólogos calvinistas posteriores passaram a defender o que se chamou infralapsarianismo, estabelecendo uma ligação do propósito de Deus em eleger ou reprovar com o pecado original. Desta forma, os divinos decretos de eleição e de reprovação não precederiam logicamente a ação de Deus em permitir a queda. Uma tendência infralapsariana também aparece nos escritos de Calvino, de forma que há uma intensa discussão nos meios reformados de qual seria, na verdade, a posição do reformador francês. O infralapsariano foi afirmado pelo Sínodo de Dort e pelas confissões de fé reformadas. Seja qual for o enfoque, de uma predestinação incondicional para o inferno (dupla predestinação ou supralapsarianismo) ou de uma arbitrária não-eleição à vida eterna, sem que se leve em conta o nosso livre-arbítrio (infralapsarianismo), isso contraria definitivamente o ensino bíblico de que “Deus não faz acepção de pessoas”, embora os calvinistas entendam esta sentença, com alguma base bíblica, como que significando que Deus escolhe pessoas de todos os povos e de todas as classes sociais – por conta disso, veja especialmente 1Pe 1.17 –; e de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Com relação a este último versículo, bem como a muitos outros da Sagrada Escritura, são os calvinistas que o impugnam, interpretando-o segundo uma exegese artificial, que lança objeções ao significado que possui a palavra “mundo” neste e em alguns outros versículos: Jo 1.29; 3.17; 6.33; 12.47; 2Co 5.19; 1 Jo 2.2. Veremos mais adiante se esta exegese tem fundamento. Sendo assim, qual é a doutrina bíblica da eleição? Que quer dizer, então, o verbo “proorizô” que aparece conjugado em Rm 8.29,30 (“proorisen”); Ef 1.5,11 (“proorisas”, “prooristhentes”)? Não existe eleição incondicional que nos impeça de exercer o nosso “liberum arbitrium” doado por Deus (Is 55.6,7; Ap 22.17). É certo, contudo, que há uma eleição (Mt 22.14; 24.22,24,31; Mc 13.22; Lc 18.7; Rm 8.33; 2Tm 1.9). A teologia dos arminianos ensina que a eleição incondicional visa, principalmente, a Igreja, a Noiva de Cristo (1Pe 2.9; 5.13; 2Jo 1.1,13), e todos os que ingressarem nela podem se considerar eleitos para a vida eterna (Mt 24.22; Lc 18.7; Rm 8.33; Ef 1.4-5,11; 2Ts 2.13; etc.). Concernente a isto, alguns textos bíblicos usados na defesa dessa eleição ainda poderiam ser entendidos como claras declarações acerca do pré-conhecimento de Deus (Jo 10.14-16,26,27; 2Tm 2.19). O principal problema, entretanto, com este segundo dogma calvinista, não é propriamente a eleição incondicional, mas o que se deriva dele: a idéia de uma reprovação positiva, que, mesmo sendo um ensino alheio ao das confissões de fé reformadas, não deixa de ser partilhado por muitos calvinistas, os quais, nesse sentido, interpretam Rm 9.13-16,19-23; 1Ts 5.9. O contexto dessa primeira passagem é a eleição e “rejeição” de Israel enquanto povo escolhido (que é, aliás, o contexto geral de todo o capítulo nono, e até o décimo-primeiro) e não diz respeito necessariamente à eleição para a salvação. O fato é que tudo não passa de uma justificativa de Paulo para a sorte dos judeus, por causa dos mesmos haverem rejeitado o Messias. O próprio Paulo admite que desejaria estar “separado de Cristo” por amor ao seu povo. A partir de então, Paulo desenvolve a idéia de que “nem todos os que são de Israel são israelitas”, ou seja, não é pela filiação da carne, ou seja, por pura descendência, que se pertence ao verdadeiro Israel. Nas palavras do Apóstolo: “não são os filhos da carne que são filhos de Deus; mas os filhos da promessa são contados como descendência”. Poderiam ser todos descendentes de Isaac, “mas em Isaac será chamada a tua descendência”. Para ilustrar sua tese, o Apóstolo se remete ao caso dos gêmeos: [10] “E não somente isso, mas também a Rebeca, que havia concebido de um, de Isaque, nosso pai [11] (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor.” (Rm 9.10-12) Pois bem, “não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme”. Que eleição seria essa? A eleição da graça ou a eleição da nação de Israel no tempo do Antigo Testamento? A profecia “O maior servirá o menor” cumprir-se-ia não nos irmãos, mas em sua descendência, porque a descendência de Israel havia sido escolhida, conquanto a de Edom não. Identificar indivíduos com sua descendência não é algo estranho ao linguajar do Apóstolo Paulo: [22] “Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. [23] Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. [24] O que se entende por alegoria: pois essas mulheres são dois pactos; um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a servidão, e que é Agar. [25] Ora, esta Agar é o monte Sinai na Arábia e corresponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos.” (Gl 4.22-25) Em Rm 11.5ss, a “eleição da graça” é vista em contraposição à eleição de Israel no Antigo Testamento, por isso a ressalva do Apóstolo: “se é pela graça, já não é pelas obras” (as obras da Lei mosaica). Neste momento, Paulo faz uma comparação entre a graça que elegeu Israel para ser luz das nações, com a mesma graça que o teria “rejeitado” em prol das nações: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.15). Ou seja, Deus é livre e não tem que dar satisfações. Para que estas palavras não sejam aplicadas no sentido de que haveria alguma arbitrariedade na oferta de salvação, evocamos um texto onde Jesus usa linguagem parecida: “Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?” (Rm 21.22). Pois bem, o Apóstolo conclui, sempre tendo como referência a eleição da nação israelita: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia”: [30] “Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça, mas a justiça que vem da fé. [31] Mas Israel, buscando a lei da justiça, não atingiu esta lei.” (Rm 9.30-31) Logo, não depende do que quer (Israel), nem do que corre (os gentios), mas de Deus usar Sua misericórdia. Mas, se Deus quisesse condenar a todos, ainda assim estaria sendo justo. É este raciocínio que norteia o pensamento de Paulo a partir de então. O ponto alto da polêmica estaria em Rm 9.19-23 – uma obscura passagem bíblica –, onde se lê: [19] “Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade? [20] Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? [21] Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para, da mesma massa, fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? [22] E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; [23] para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória”. Estes versos, com certeza, aplicam-se a uma afirmação da soberania de Deus, mas apenas apontam para o direito que Deus tem de fazer o que quiser com suas criaturas, o que não significa que Ele não aceite a cooperação humana. A expressão “vasos da ira preparados para a perdição” deve ser entendida à luz de inúmeras outras passagens bíblicas como Rm 11.32, onde se diz que Deus é misericordioso para com todos (judeus e gentios) e Ez 18.23; 33.11, onde se diz não ter o Senhor “prazer na morte do ímpio”. O texto de Rm 9.22 deve ser confrontado com o capítulos I e II da mesma epístola, onde é dito que os vasos de ira são inescusáveis (Rm 2.1) e se explica também como Deus suportou esses vasos de ira com tanta “paciência”, tanto que é dito que é essa paciência, bondade e longanimidade de Deus que conduz os vasos de ira ao arrependimento (Rm 2.4). O texto também diz que são os vasos de ira, segundo a sua própria dureza e coração impenitente, que entesouram para si mesmos ira no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus (Rm 2.5). Quanto o mais, diz a Bíblia terem sido outrora, também os eleitos, “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3), estando, desta forma, “preparados para a perdição”, a quem Deus “suportou”, sem dúvida, “com muita paciência”. Vasos de ira podem ser quebrados pelo Oleiro e refeitos como vasos de misericórdia: [1] “A palavra que veio do Senhor a Jeremias, dizendo: [2] Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras. [3] Desci, pois, à casa do oleiro, e eis que ele estava ocupado com a sua obra sobre as rodas. [4] Como o vaso, que ele fazia de barro, se estragou na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme pareceu bem aos seus olhos fazer. [5] Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: [6] Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel. [7] Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, [8] e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe. [9] E se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação e acerca dum reino, para edificar e para plantar, [10] se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que lhe intentava fazer. [11] Ora pois, fala agora aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Eis que estou forjando mal contra vós, e projeto um plano contra vós; convertei-vos pois agora cada um do seu mau caminho, e emendai os vossos caminhos e as vossas ações. [12] Mas eles dizem: Não há esperança; porque após os nossos projetos andaremos, e cada um fará segundo o propósito obstinado do seu mau coração.” (Jr 18.1-12) É possível que Paulo tivesse em mente justamente também esta passagem do livro de Jeremias quando trouxe aquelas frases que parecem ser de tão difícil compreensão, ou seja, é possível se fazer essa associação, apesar dele ter feito, na verdade, uma alusão ao texto de Is 45.9: “Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou dirá a tua obra: Não tens mãos?”. Note que ambos (Jeremias e Paulo) utilizam a mesma ilustração: o vaso nas mãos do oleiro. Entendamos também que, se essas palavras de Paulo pudessem ser tomadas literalmente, teríamos o “supralapsarianismo”, ou seja, Deus como autor do pecado, algo que agride e repugna a santidade de Deus, sendo que grande parte dos calvinistas nem apóia esta heresia. Vejamos, por exemplo, o que disse Charles H. Spurgeon, a respeito desse texto de Rm 9.22: “Esta passagem não diz coisa alguma sobre Deus destinar homens à destruição. Os homens se preparam a si mesmo para a destruição. Deus nada tem a ver com isso. Quando os homens são salvos, é Deus quem os destina à salvação. Toda a glória pela salvação de qualquer homem pertence a Deus. Toda culpa pela condenação de qualquer homem pertence àquele homem.” Com efeito, a Bíblia também diz: [12] “Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. [13] Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. [14] Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; [15] então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” (Tg 1.12-15) É perigoso o uso que se pode fazer de textos isolados, sem harmonizá-los com o contexto mais amplo das Escrituras. Há, inclusive, um texto que, se posto isoladamente, sem levar em consideração todo o resto das Escrituras, parece supor que a expiação por Cristo foi incompleta: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). A respeito de pontos obscuros nas cartas de Paulo, faz referência a Segunda Carta de Pedro (2Pe 3.15-17). Parece ser este o caso daquela passagem, apesar do uso que dela fazem os calvinistas, ou fizeram mesmo grandes doutores da Igreja como Agostinho e Tomás de Aquino, mesmo com a reconhecida autoridade que sempre se concedeu à opinião desses grandes doutores. O profeta Isaías, apesar de não desprezar a dependência operativa em relação a Deus, no que se refere às obras humanas (Is 26.12), não se exime de responsabilizar os homens pela sua rebeldia e faz a mesma comparação anteriormente citada: o povo de Deus como vaso nas mãos do oleiro: [9] “Pois este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor; [10] que dizem aos videntes ‘Não vejais’; e aos profetas ‘Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e profetizai-nos ilusões; [11] desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda; fazei que o Santo de Israel deixe de estar perante nós’. [12] Pelo que assim diz o Santo de Israel: Visto como rejeitais esta palavra, e confiais na opressão e na perversidade, e sobre elas vos estribais, [13] por isso esta maldade vos será como brecha que, prestes a cair, já forma barriga num alto muro, cuja queda virá subitamente, num momento. [14] E ele o quebrará como se quebra o vaso do oleiro, despedaçando-o por completo, de modo que não se achará entre os seus pedaços um caco que sirva para tomar fogo da lareira, ou tirar água da poça. [15] Pois assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Voltando e descansando, sereis salvos; no sossego e na confiança estará a vossa força. Mas não quisestes; [16] antes dissestes: Não; porém sobre cavalos fugiremos; portanto fugireis; e: Sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; portanto hão de ser ligeiros os vossos perseguidores. [17] Pela ameaça de um só fugirão mil; e pela ameaça de cinco vós fugireis; até que fiqueis como o mastro no cume do monte, e como o estandarte sobre o outeiro. [18] Por isso o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós; porque o Senhor é um Deus de eqüidade; bem-aventurados todos os que por ele esperam.” (Is 30.9-15) As expressões “filhos da ira” ou “filho da perdição”, como aparece em Jo 17.12, com relação a Judas, não representam mais do que um hebraísmo, são expressões peculiares ao modo de falar hebraico. Não devem ser tomadas literalmente, no sentido em que Deus o tenha predestinado à perdição. Diz a nota de “A Bíblia de Jerusalém” relativa a este versículo: “Em hebraico, quando se quer exprimir a relação íntima entre alguém e um objeto, usa-se esta expressão ‘filho de tal coisa’.”. O mesmo acontece quando a Bíblia que Deus endureceu o coração do Faraó ou quando se diz que Ele endurece alguém. É tão-somente uma forma de expressionismo hebraico. De igual modo, “odiar”, quando é dito “Amei a Jacó e odiei Esaú”, também é um hebraísmo e significa “amar menos”, “preterir” (Lc 14.26). Significa que Deus preferiu Jacó a Esaú para ser o herdeiro da bênção e da promessa, e para ser aquele que daria continuidade à linhagem messiânica, e não que Esaú esteja no inferno, por conta de Deus tê-lo odiado de antemão, como tem sido interpretado, ao longo dos séculos, pelos defensores da predestinação. Se a própria Bíblia nos ensina a amar o próximo, amar a todos, até os inimigos, como deveríamos, então, agir diante de alguém a quem Deus odeia? Teríamos base bíblica para odiar tremendamente estas pessoas, conforme escreveu o Salmista: “Oxalá que matasses o perverso, ó Deus, e que os homens sanguinários se apartassem de mim... Odeio-os com ódio completo; tenho-os por inimigos” (Sl 139.19-22). Por sua vez, o texto bíblico de 1Ts 5.9, onde está escrito “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo”, não indica que ninguém esteja predestinado à perdição. É um louvor ao grandioso amor de Deus, que não tratou os homens segundo as suas iniqüidades (Sl 103.10), mas propiciou-lhes uma tão grande salvação. Em nenhum momento, a Bíblia dá as bases para que se ensine uma predestinação para a perdição. Os precitos são todos aqueles que recusarão o convite da graça: “também eu escolherei as suas aflições, farei vir sobre eles aquilo que temiam; porque quando clamei, ninguém respondeu; quando falei, eles não escutaram, mas fizeram o que era mau aos meus olhos, e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer”. (Is 66.4). Isto porque Deus não destinou ninguém à ira, mas é o homem que, por causa da sua dureza e de seu coração impenitente, entesoura para si mesmo ira no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus (Rm 2.5). Quanto a estar escrito: “E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina, e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.” (1Pe 2.8), devemos admitir que Deus não criou ninguém para o mal, mas, a partir do momento em que alguns se inclinam para o mal, Ele os “destina” ao mal, não ativamente, mas abandonando-o no seu próprio pecado, conforme está escrito em Rm 1.20-24: [20] “Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; [21] porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. [22] Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, [23] e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. [24] Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si” Sobre o fato do Espírito Santo ter literalmente impedido Paulo e os que o acompanhavam de pregar na Ásia e na Bitínia (At 16.6,7), certamente isso não se deu em razão dos habitantes dessas regiões serem indignos de ouvir a pregação do Evangelho ou estarem predestinados à perdição. Se assim fosse, o Espírito Santo teria contrariado uma ordem dada pelo próprio Jesus de se pregar o Evangelho a toda criatura, em testemunho de todas as gentes (Mc 16.15). A Providência divina teve seus motivos para impedir tal viagem e não cabe a nós tentar discernir seus motivos, mas, muitas vezes, o Espírito age para nos livrar de situações adversas. Bitínia foi evangelizada logo (talvez por Pedro, 1Pe 1.1; a carta de Plínio, 112 d.C., revela o sucesso alcançado lá) e Paulo voltou para Éfeso donde irradiou o Evangelho para toda Ásia. É certo que Deus escolhe quem Ele quer (Mt 11.27; Jo 5.21), mas decidiu escolher a todos quanto, movidos pelo Seu Espírito, cooperarem livremente com Sua graça (2Co 6.1), desejando serem salvos, já diziam os Remonstrantes naquele primeiro de seus cinco artigos. O Espírito Santo incita todos quanto ouvem a Palavra (At 7.51, Rm 10.17), mas não rejeita ninguém (Sl 51.17; Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23), sendo o homem totalmente responsável por suas escolhas (Dt 30.19). Bem sabemos que Deus, pelo Seu Espírito, é Quem opera “tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13), é O que prepara o coração do homem para o arrependimento e a conversão, todavia, por que Deus comunicaria Sua graça a todos (Rm 3.23,24; 5.18; 11.32; 1Co 15.22), negando a alguns a possibilidade de salvação? Por outro lado, devemos tomar ciência de que, se até de pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão (Mt 3.9), de maneira nenhuma poderemos também negar a poderosa operação de Deus na salvação do homem. Ao homem é impossível salvar-se, mas, para Deus, nada é impossível (Mt 19.26; Mc 10.27). Não logro dizer que a tese do monergismo seria válida, senão por um aspecto: este influxo divino operante é também passível de ser resistido. Contra os jansenistas, dizemos que não há irrestibilidade da graça interior (At 7.51). Pois bem, se Deus opera, opera então pela metade? Como conciliar isto com a afirmação de Is 43.13: “Operando eu, quem impedirá?”? Respondo da seguinte forma: Deus opera o querer, pois Sua ação é independente de qualquer iniciativa da parte do homem, dispondo-o para receber a graça (At 13.48). A partir de então, o homem coopera, “aceitando” ou rejeitando a graça para a qual havia sido disposto. O homem não opera, mas “co-opera”. Não é à toa que, no versículo anterior, é dito: “Efetuai a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12). Algum sentido poderia haver nesta recomendação, se o homem não pudesse em nada cooperar? Desta forma, o Apóstolo dá forte apoio à tese do sinergismo (esforço conjugado), quando diz: “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar” e “Efetuai a vossa salvação com temor e tremor”. A Igreja admite a predestinação incondicional à vida eterna a despeito de crer e ensinar a graça suficiente. Se todos recebem uma certa parcela do amor divino e, conseqüentemente, uma certa porção da graça, uns podem receber mais do que outros e assim a graça merecer realmente a denominação de eficaz. Mas as controvérsias existem. Alguns preferem pensar num concurso simultâneo (Luís de Molina). Afinal, uma graça que dá potência para o ato sem nunca levar ao próprio ato não merece bem a denominação de suficiente, seria até algo de incompreensível. Até agora, o sistema molinista não mereceu a condenação da Igreja. Os problemas maiores do molinismo seriam que, nesse sistema, a gratuidade da salvação e a Providência divina ficam um tanto abaladas. A tese da eleição condicional dos arminianos, por sua vez, embora sem querer negar a predestinação nem a causalidade universal de Deus (Jo 1.3; Ef 1.11), subordina a predestinação à previsão – embora não sem dificuldades – e distingue em Deus uma “vontade explícita” (2Pe 3.9; 1Tm 2.4) e uma “vontade permissiva” (Mt 10.29,30). Em favor da eleição condicional, talvez possamos as seguintes palavras de Paulo: “Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que há em Cristo Jesus com glória eterna” (2Tm 2.10). Mt 11.27; Jo 5.21; 6.37,65; Rm 11.5,6; Ef 1.4-5,11; 2Tm 1.9 estão entre os versículos bíblicos que mais bem afirmam a eleição incondicional. Mas será que também não encontramos na Bíblia passagens que mostram ser o homem responsável, ele próprio, pelo seu próprio destino eterno (Mt 18.8,9; 25.14-30; Rm 2.5,6; 1Tm 4.16)? Se a eleição incondicional não pode ser negada, sem prejuízo para a fé, o livre-arbítrio também não o pode. O que faremos? Guardamos o mistério ou aniquilamos o livre-arbítrio? Aqui a solução tomista me parece mais adequada do que a calvinista, pois não nega nem a universalidade da vontade divina da salvação e redenção, nem a alocação das graças suficientes para o reprovado (Rm 10.21) e nem a liberdade arbitrária do homem, ainda que submissa à vontade de Deus. Acredito que a melhor atitude a se tomar não é negar a predestinação, nem Deus enquanto causa primeira, mas tão-somente diminuir a ênfase dada à predestinação. O homem sente que é livre, a Bíblia diz que Deus chama todos ao arrependimento (At 17.30; Rm 10.17) e que homens resistiram ao Espírito Santo (At 7.51). Ao mesmo tempo, a predestinação e a presciência são atos simultâneos de Deus, uma vez que Deus não está sujeito às regras do tempo, nem do espaço, mas trata-se, obviamente, de um mistério para nós. Se não há predileção, como pode a graça anteceder a fé, sendo a própria fé um dom de Deus? Ainda assim, seria possível a Ele negar qualquer auxílio àqueles que sabe de antemão que não fariam proveito, conforme sugere o molinismo. [32] “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. [33] profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! [34] Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? [35] Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? [36] Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Rm 11.32-36) Passemos à análise de algumas passagens bíblicas que expõem mais claramente a questão da predestinação, procurando dar-lhes uma interpretação condizente com a opinião dos arminianos: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22.14). Alguém que compre produtos de uma loja não faz suas escolhas sem nenhum critério. Antes, leva em conta a qualidade, bem como, na maioria dos casos, o preço do produto. Por que, então, as escolhas de Deus deveriam ser arbitrárias, sem nenhum critério? Ainda que Deus não eleja ninguém pela previsão de seus méritos, não reprova ninguém sem antever os seus deméritos. Se Deus obedecesse a algum critério além de Sua própria vontade, mesmo que desconhecido para nós (Dt 29.29), pela lógica calvinista, Ele não seria soberano. Alguns, baseados em Rm 9.22-23, chegam a sugerir que Ele predestina homens ao inferno para maior louvor de Sua glória, o que se constitui numa blasfêmia à santidade e à benignidade de Deus. “e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). Esta passagem lucana, dos Atos dos Apóstolos, é um dos textos bíblicos mais usados pelos calvinistas e demais defensores da predestinação. Para muitos, este texto justificaria uma predestinação individual e não coletiva (da Igreja), e seria um forte argumento a favor da predestinação incondicional e da ruína do livre-arbítrio. Os arminianos, no entanto, podem inserir este texto num contexto que lhe é próprio, e penso eu que o mesmo se relaciona diretamente com um versículo anterior, o de número 46: “Então Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Era mister que a vós se pregasse em primeiro lugar a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos viramos para os gentios”. Quem seriam, portanto, os “destinados para a vida eterna”? Isto parece ser uma referência óbvia à rejeição de Israel e a sua “substituição” pelos gentios. Os gentios, que antes não estavam destinados à vida, agora podiam experimentar da boa-nova do Evangelho. Todos os que creram, naquele momento, estavam agora destinados à vida eterna. Lucas parece tê-los inserido, com estas palavras, num grupo maior. Não eram os que creram os destinados à vida eterna, mas tão-somente creram aqueles que estavam agora destinados à vida, isto é, todos os que creram e que faziam parte dos gentios. Em favor dessa interpretação, o termo grego traduzido por “destinados” (“tetagmenoi” e não “protetagmenoi”) permite a tradução: “todos quanto estavam dispostos para a vida eterna”. Passemos agora a algumas afirmações do Evangelho de São João: “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.” (Jo 1.13). Não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, pois, para serem filhos de Deus, não precisaram ser gerados em útero, como no caso de uma filiação natural humana. Não nascer da vontade da carne também nos mostra a iniciativa de Deus em prover salvação ao pecador perdido. O homem, de sua própria vontade, não pode voltar-se para Deus, desde que é a graça de Deus que o capacita a crer. “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37) Este versículo, bem como vários outros do Evangelho de João, não deve ser posto isoladamente, mas interpretado à luz do conjunto das Escrituras. Para aqueles que crêem que a predestinação não anula o livre-arbítrio e que preferem ver o assunto não como uma contradição, mas como um mistério, um “mistério insondável”, como se diz, pode-se aceitar estas palavras na exata ordem em que aparecem no versículo. Aqueles que preferem subordinar a predestinação à presciência e que crêem que predestinação incondicional só diz respeito à Igreja como um conjunto, devem, no entanto, aceitar que todas as coisas estão sujeitas à vontade de Deus (aos decretos divinos determinantes), na exata medida em que Ele as faz ou permite. Haja vista que as palavras de Cristo em Jo 6.37 afirmam a predestinação, mas não delimitam o mecanismo da predestinação, e, nem Arminius, nem seus seguidores, negaram a predestinação, apenas supunham que os eternos decretos de Deus estavam de algum modo relacionados previamente com a onisciência divina. Criam, acima de tudo, que a salvação é dom de Deus, ou seja, não provém em nada das obras do homem, mas tão-somente de uma ação misericordiosa da parte de Deus. É possível a todos pelo simples fato de que todos recebem uma certa parcela de Sua graça (suficiente), afinal Deus nunca ordenará o impossível. Mas todo o bem só pode provir de Deus. O mal é o único fruto legítimo da liberdade humana, porque só é permitido por Deus, embora sirva ao bem supremo, uma vez que Deus utiliza-se dele em Seu plano. Resumindo-se, pois, a ação humana a uma atitude que, no fundo, é justamente privar-se da ação, deduz-se que ninguém pode vir a Cristo (o que equivale a crer) sem ter sido antes movido pelo Pai, ainda que se atribua ao Espírito a obra do convencimento – note-se o presente do verbo “dar” em Jo 6.37. Numa análise arminiana, a salvação é dada a todos, mas aos que não a rejeitam, ela é realmente dada. Neste sentido, eles vêm a Cristo, porque Deus os salvou. São dados a Cristo pelo Pai, uma vez que antes não fecharam seu coração à operação do Espírito e creram (Jo 3.36; 17.6). “Ninguém pode vir a mim sem que o Pai que me enviou o arraste (exatamente como está no original grego)” (Jo 6.44). Não há dificuldade alguma com essas palavras. Somente Deus é capaz de chamar os homens das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2.9). O versículo, portanto, não repudia o argumento molinista e arminiano da “graça preveniente”. O fato dos arminianos crerem em uma graça que apenas persuade mas não regenera não anula as passagens bíblicas onde se mostra de que maneira o homem, mesmo depois de regenerado, pode opor-se a Deus, e voltar às trevas, exatamente como a porca lavada pode voltar ao espojadouro de lama (2Pe 2.22). Pode-se, pois, conciliar aquelas passagens bíblicas com essas, sem distorcer nenhuma. “E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.” (Jo 6.65). Este é um argumento fortíssimo em defesa da predestinação. De fato, o Senhor pode vedar a porta da salvação a quem quer que seja, mas não o faz arbitrariamente, e faz retirando Sua graça e por um justo juízo sobre o pecador (Is 63.17; Ap 17.17). Cristo referiu-se, nos Evangelhos, a um pecado que fecha definitivamente a porta da salvação (Mt 12.31,32; Mc 3.28,29; Lc 12.10). Há ainda aquelas passagens bíblicas onde se afirma a realidade da graça suficiente (Rm 2.4) e da vontade salvífica universal de Deus (1Tm 2.4). “As minhas ovelhas ouvem a minha voz” (Jo 10.16,27; 18.37). Estas afirmações do Evangelho de João podem ser entendidas em termos de uma presciência (pré-conhecimento) de Deus, e talvez ainda em termos da necessidade de uma “graça preveniente” (Jo 6.44), aqui representada pela voz de Cristo. “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste; e guardaram a tua palavra.” (Jo 17.6). Semelhante ao que fizemos com Jo 6.37,65, dizemos que até mesmo a liberdade do homem em aceitar ou rejeitar a graça está sujeita a um decreto “permissivo” da parte de Deus. Se alguém pensa que essas interpretações são extravagantes, precisa conhecer as interpretações extravagantes que os defensores da expiação limitada dão a textos como Rm 5.18; 11.32; 1Co 8.11; 1Tm 4.10; Tt 2.11; Hb 2.9; 2Pe 2.1; 1Jo 2.2. Devemos, no entanto, reconhecer que uma interpretação agostiniana encaixar-se-ia mais perfeitamente nesses versículos. E não são hereges os que defendem a soberania de Deus na salvação, só são hereges aqueles que fazem derivar de Deus a maldade humana. Não devemos, pois, deixar de levar em consideração que, quanto à exata ordem em que os decretos de Deus aparecem, em relação à queda do homem, os calvinistas estão divididos em duas vertentes: supralapsarianos ou supralapsários (“altos calvinistas”), dentre eles o próprio Calvino e seus sucessores Beza e Turrettini, Gomarus (o principal opositor de Arminius), etc., e infralapsarianos ou infralapsários. Os primeiros crêem que a eleição precede à queda do homem, já os outros entendem a eleição em função da queda. O ponto de vista infralapsariano também pode ser defendido a partir de Calvino. A Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, defende o infralapsarianismo, sem condenar o supralapsarianismo. O supralapsarianismo nunca teve o apoio da Igreja, consistindo no predestinacianismo de Lucidus e Gottschalk, ao passo que a posição infralapsariana é a mesma agostiniana e tomista, aceita por Roma e pelos luteranos. 8.3 – EXPIAÇÃO LIMITADA – Este terceiro dogma calvinista corresponde ao segundo artigo dos Remonstrantes, que postulava que Cristo morreu por todos os homens. Para evitar ambigüidades quanto ao termo “limitada”, usa-se também “expiação particular” ou “redenção particular”, para dizer que Cristo morreu somente pelos eleitos e que essa expiação foi eficaz. Desta forma, a graça salvífica, que os calvinistas consideram sobretudo “eficaz”, não se estenderia a toda humanidade, mas tão-somente aos eleitos, aqueles por quem Cristo morreu. Não são todos os calvinistas que sustentam essa opinião de Cristo ter morrido somente pelos eleitos. Louvável é ainda a Confissão de Fé Westminster, quanto à sua moderação, não só em relação a essa questão, como a muitas outras. Ainda assim, muitos dos que se dizem calvinistas, como os chamados batistas particulares, defendem uma expiação estritamente particular. Sustentam eles que, se Cristo tivesse morrido por todos os homens, ninguém iria para o inferno, porque a morte de Cristo realmente redime e salva o pecador, tendo-o substituído na cruz do Calvário, num sacrifício perfeito e definitivo, e que Deus não iria punir duas vezes pelo mesmo crime: primeiro punindo Jesus, depois punindo o pecador pelo qual Ele morreu. O grande pregador batista Charles H. Spurgeon, que era calvinista, assim se expressa: “Se Cristo morreu por você, você nunca poderá perecer. Deus não irá punir duas vezes uma mesma coisa. Se Deus puniu a Cristo pelos seus pecados, Ele não pode te punir. O pagamento da justiça de Deus não pode ser demandado duas vezes; primeiro, da mão sangrenta do Salvador, e então da minha. Como pode Deus ser justo se Ele puniu Cristo, o substituto, e então o próprio homem mais tarde?” Isso pode parecer até muito lógico, mas não resiste ao exame das Escrituras. A nós interessa saber o que a Bíblia diz: Cristo morreu por todos, sob a condição de que todos O aceitem como Salvador (Jo 3.16). Os adversários dessa doutrina dizem ainda que “mundo”, no contexto do versículo citado, seria, logicamente, a totalidade dos eleitos de Deus, mas, se atentarmos para o versículo dezenove do mesmo capítulo, veremos que tal exegese parece forçada: “E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más”. Quanto à morte de Cristo ser substitutiva, digo que é mais lógico pensar que Ele tenha substituído a humanidade inteira e não somente uma parte dela, e que essa substituição é potencial, o que não a supõe condicional. Se Adão foi o “cabeça federal”, ou seja, o representante legal, de toda a humanidade, conforme expressa a dita teologia dos pactos, aceita pelos puritanos, Cristo, chamado o “cabeça federal” dos eleitos, não poderia ser chamado convenientemente de “o segundo Adão” não tendo derramado Seu sangue pela humanidade. Sabemos que o segundo Adão foi até a morte por obediência, assim como o primeiro Adão foi até a morte por desobediência. Logo, preferimos o termo “satisfação vicária” ao conceito protestante de “substituição penal”. Este não é apropriado, tendo em vista a voluntariedade com que Cristo se entregou. De posse do fato que o Filho do Homem ofereceu um resgate condizente com o tamanho da falta cometida por Adão (Rm 5.20), entendemos que Cristo nunca poderia ter sido, de fato, o “segundo Adão” (1Co 15.45) se não pudesse redimir toda a humanidade. Isso é o que se chama de universalidade da graça salvadora, ou universalismo da graça. Paulo escreveu: “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Mais explicitamente, lemos em 1Jo 2.2: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Com certeza, Cristo morreu eficazmente por todos os eleitos, conforme expôs o Sínodo de Dort, mas a morte de Cristo foi em proveito, não somente dos eleitos, mas de todos os homens, desde Adão até o último que nascer (Jó 19.25; Jo 1.29; 4.42; Rm 5.18; 1Tm 4.10; Tt 2.11; Hb 2.9; 1Jo 2.2). Sabemos que muitos destes versículos citados são impugnados pelos calvinistas particulares (Ver Apêndice I – Passagens bíblicas que comprovam o desejo de Deus na redenção universal). Advogam que a palavra “todos” aparece na Bíblia referindo-se, em muitos casos, à Igreja tão-somente (Jl 2.28; At 2.17); e de que a crença numa expiação universal implicaria na idéia de que a morte de Cristo, na realidade, não assegurou a salvação de ninguém. Também Lc 2.1; Jo 12.32; Cl 3.11 demonstrariam que, na Bíblia, a linguagem universal nem sempre é absoluta. O texto de Rm 5.18, no entanto, é bem claro em favor da universalidade da graça: “Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida”. Se, sobre outros textos bíblicos, os calvinistas podem lançar dúvidas sobre o uso da palavra “todos”, este texto mostra de forma muito coerente que “todos” se aplica a toda a humanidade. Confronte também com Rm 3.23,24; 11.32; 1Co 15.22; 1Tm 4.10. Isto representa a extensão da misericórdia de Deus à toda humanidade. Aí está, na minha opinião, o “calcanhar de Aquiles” dos que defendem a expiação estritamente particular. Não é à toa que estes calvinistas estão sempre caindo em contradição por causa destes versículos, dizendo até que houve um certo sentido pelo qual Cristo morreu por todos, mesmo que seja o da “graça comum”. À luz destes versículos, negar a expiação universal (desejo de Deus na redenção universal) é o mesmo que negar a depravação universal. Há outras provas nas Sagradas Escrituras que continuam apontando nesta direção, como por exemplo, 1Co 8.11: “Pela tua ciência, pois, perece aquele que é fraco, o teu irmão por quem Cristo morreu”. Este versículo permanece como prova de que a expiação foi feita também pelos fracos, por aqueles que perecem. Vejamos ainda 2Pe 2.1: “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”. Bem sugestivo também é 1Tm 4.10: “...porque temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem”. Alguns calvinistas que seguem a interpretação dada por John Gill (1697-1771), um batista particular, autor do livro “A causa de Deus e da verdade”, explicam este último versículo dizendo que o termo “Salvador”, neste contexto referindo-se a todos os homens, poderia significar Deus como provedor e sustentador da vida, uma alusão à graça comum, uma vez que se refere a Deus Pai e não à pessoa de Cristo explicitamente, do contrário, dizem eles, também teria que ser admitido o universalismo irrestrito. Salvação pode até ter, em algum outro lugar, o sentido de provisão (Lm 3.26), mas esta interpretação não me parece muito convincente, pois o termo “Salvador”, tendo em vista a teologia paulina, não parece identificar-se com “provedor”, e não poderia ter aqui dois significados distintos, sendo que foi grafado uma só vez: para todos os homens, uma coisa, para os crêem, outra. Na mesma epístola, Paulo exorta a que se ore por todos os homens, porque Deus “quer que todos os homens sejam salvos”, em 1Tm 2.4. Há quem defenda que “todos os homens” aqui são todos os eleitos de Deus. Não pode, um pouco mais adiante, em 1Tm 4.10, adquirir um sentido diferente. Também não nos parece propício que Paulo esteja se referindo a “todos os homens” como todos os eleitos de Deus, incluindo aqueles que ainda iriam crer pela pregação da Palavra. Por conseguinte, “especialmente dos fiéis” se referiria àqueles que, fazendo parte do grupo dos eleitos, tinham já passado pela experiência de regeneração e exerciam fé pessoal no Deus vivo. É lógico que a idéia que este versículo traz é que Jesus Cristo, que é o mesmo que Deus – o Deus vivo –, é potencialmente o Salvador de todos os homens, ao passo que, dos que crêem, Ele é o Salvador de fato. Isso sim se amarra harmonicamente à ordem dada por Jesus: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.15). Em um artigo intitulado “Que tal II Pedro 3.9?”, o calvinista Wayne Camp faz a seguinte adução: “Considere a promessa de Deus dada em Joel 2:28-29 e cumprida em Atos 2. No versículo 17, de Atos 2, Lucas registra a citação de Pedro acerca da promessa de Deus assim: "Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne". Deus quis dizer a totalidade de toda e qualquer carne? Deus quis dizer a carne dos homens, a carne dos peixes, a carne das aves e a carne dos animais (I Cor. 15:39)? Quis Deus dizer cada homem, menino, mulher e menina desde a mais jovem até a mais velha? Ele se referia a todo e qualquer bode, babuíno, urubu e sardinha? O mundo dos não Cristãos não pode receber o Espírito. "O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita com vós, e estará em vós." (João 14:17). Essa promessa se limita significativamente a aqueles que Deus chama à salvação. "Porque a promessa vos diz a respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar" (Atos 2:39). É muito evidente que a palavra "toda" nos versículos 17 e 39, de Atos 2, tem aplicação limitada. É limitada aos Cristãos. É limitada "a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar" e "vede irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados." (I Cor 1:26). A frase "toda a carne", de Atos 2:17, é limitada aos "que são chamados" (I Cor 1:24). A promessa mencionada no versículo não aponta aos judeus que vêem o Cristo crucificado como um "escândalo ", ou para os gregos (Gentios), que vêem o Cristo crucificado como "loucura" (I Cor 1:23). A promessa é "para os que são chamados, tanto judeus como gregos" que vêem "Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus" (I Cor 1:24). Por favor lembre-se que esse é um caso onde a palavra "toda", de fato, refere-se à uma porcentagem pequena da totalidade da carne do homem, de ave, de peixe e de animais. Aqui, a frase "toda a carne" se refere a todos daqueles que fazem parte de uma classe ou grupo em particular – todos os Cristãos, todos os chamados.” Wayne Camp aponta para as palavras de Joel (Jl 2.28), aludidas em At 2.17, como prova de que “todos os homens” não são todos, só que estas palavras foram escritas, indiscutivelmente, num estilo profético (velado). Talvez por isso não possam ser tomadas literalmente, no sentido de que “toda a carne” pudesse significar toda a humanidade, o que nós sabemos que não significa, ao passo que as de Paulo, quando diz “todos os homens”, são palavras de quem escreve uma epístola para ser lida diante de uma congregação e para todos entenderem. Entre o “todos os homens” de Paulo e o “toda a carne” de Joel há, sem dúvida, uma diferença também de estilo literário. Os calvinistas que crêem no dogma da expiação particular também gostam de afirmar que o arminianismo limita o poder da expiação e a eficácia da morte de Cristo. Com efeito, sua lógica não os permite distinguir entre aquilo que é potencial e aquilo que é efetivo. Logo, Cristo teria derramado muito do Seu sangue em vão, ao morrer também pelos réprobos, e a cruz não teria salvo ninguém. Ora, a morte de Cristo não somente assegurou a salvação dos eleitos, como também obteve graça suficiente para salvar todos os perdidos. Isso é ineficácia? Melhor seria dizer que a morte de Cristo foi mais do que suficiente. Devemos, pois, distinguir entre “vontade salvífica universal” (vontade antecedente) e “vontade salvífica particular” (vontade conseqüente e eficaz), de forma semelhante a de como distinguimos entre o “querer” de Deus e o “permitir”. De certo, o ensino de Sínodo de Dort somente salienta a eficácia da morte de Cristo, estendida a todos os eleitos: “Muitos que têm sido chamados pelo Evangelho não se arrependem nem crêem em Cristo, mas perecem na incredulidade. Isto não acontece por causa de algum defeito ou insuficiência no sacrifício de Cristo na cruz, mas por culpa deles próprios.” (Segundo Capítulo de Doutrina, Artigo VI) O fato de Cristo ter morrido “inutilmente” pelos réprobos só agrava a situação deles (Hb 10.26-31), entendendo-se que, realmente, houve uma intenção de Deus em que essa expiação se fizesse também por eles potencialmente. Faço analogia com as palavras do Apóstolo: “De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor... come e bebe para sua própria condenação” (1Co 11.27,29). Devemos nos resguardar, é claro, de transformar a graça de Cristo num verdadeiro mal, porque nos veio trazer vida, mas os que rejeitam a graça estão pisando o Filho de Deus e tendo por profano o sangue do Pacto. Temos aqui, inclusive, outra prova bíblica que atesta ter Cristo morrido pelos réprobos, em Hb 10.26: “Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”. A parábola dos dez talentos (Mt 25.14-30), embora, na interpretação de muitos, dê conta somente de dons ministeriais, simbolizados por “talentos” ou “minas” (Lc 19.13), pode servir de analogia para se pensar a graça suficiente. Vemos que o “servo mau e preguiçoso” recebera um talento só, mas que era suficiente para ser entregue aos banqueiros e render juros para o seu Senhor. Acabou se perdendo por sua própria responsabilidade, uma vez que teve condições de agradar o seu Senhor, mas não o fez (Mt 25.27). Estes são alguns versículos também usados pelos calvinistas e que favoreceriam a tese de uma expiação particular: Is 53.11,12; Mt 1.21; 20.28; 26.28; Mc 10.45; 14.24; Jo 10.15; 15.13; 17.6,9; At 20.28; Rm 5.8; Ef 5.25; Tt 2.14; Hb 9.12,28; Ap 5.9. É só puxar um pouquinho pela razão. Qual palavra tem maior peso: “muitos” ou “todos”? “Muitos” podem ser “todos”, mas “todos” não podem ser “muitos”. Além disso, observemos a diferença numérica das passagens que afirmam ter Cristo morrido por muitos para aquelas onde o “todos” aparece. Devemos consentir também (e isso é importante) que há uma diferença entre expiação limitada e redenção limitada: estes versículos tratam de uma expiação que só se torna limitada por conta do livre-arbítrio dos homens (Rm 5.17; 2Co 5.15). Não me arriscaria a dizer ainda, que temos, concernente a isto – a que pese a opinião que Santo Agostinho possa ter tido em sua última fase, se é que a teve –, o peso da tradição a nosso favor. Até mesmo Calvino reteve a idéia de expiação universal, o que pode ser depreendido, por exemplo, a partir do seu comentário a Rm 5.18. O jansenismo, por sua vez, que foi uma forma de agostinianismo extremado pós-tridentino, acusava de semipelagianismo qualquer um que defendesse que Cristo morreu por todos os homens. Na verdade, o concílio de Trento antes já tinha afirmado que Cristo morreu por todos os homens, mas deu a impressão de aceitar, embora sem intenção real, uma espécie de “dupla” expiação: uma expiação universal e potencialmente feita por todos os homens e uma expiação eficaz e limitada aos eleitos. Isto pode ter favorecido o surgimento do jansenismo: “Ainda que Jesus Cristo tenha morrido por todos, nem todos participam do benefício de sua morte, mas somente aqueles a quem sejam comunicados os méritos de sua Paixão porque, assim como nasceram os homens, efetivamente impuros, pois nasceram descendentes de Adão, e sendo concebidos pelo mesmo processo, contraem por esta descendência sua própria impureza, e do mesmo modo, se não renascessem por Jesus Cristo, jamais seriam salvos, pois nesta regeneração é conferida a eles, pelo mérito da paixão de Cristo, a graça com que se tornam salvos. Devido a este benefício nos exorta o Apóstolo para dar sempre graças ao Pai Eterno, que nos fez dignos de entrar juntamente com os Santos na glória, nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao Reino de Seu Filho muito Amado, e é Nele que logramos a redenção e o perdão dos pecados.” (Concílio de Trento, Sessão VI, Decreto sobre a salvação, cap. III) A dificuldade maior com essa doutrina é dizer que Cristo pagou por todos, mas que nem todos recebem a eficácia dessa expiação, o que, em última análise, é dizer que a expiação é limitada pela vontade humana. Na verdade, isso não agrediria a soberania de Deus, pois nada acontece sem o Seu consentimento. Mas a expiação não é limitada, é condicional. Diríamos que a expiação por Cristo foi potencialmente feita por todos os homens criados, mas só tem efeito nos que não resistem à graça, ou seja, naqueles que não fazem prevalecer sobre a graça de Cristo a sua vontade corrompida. “Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada” (Mt 12.31). Com efeito, os teólogos luteranos, crentes na expiação universal, deduzem que este é o único pecado pelo qual Cristo não pagou: a incredulidade. Portanto, quando dizemos que Cristo morreu por todos, estamos defendendo, como ficou explícito, a universalidade da graça, não o universalismo da salvação (apocatástase). Podemos distinguir ainda entre redenção objetiva e redenção subjetiva. A morte de Cristo não beneficiou de fato a todos (Ap 5.9), embora Deus tenha amado todos, desejado a salvação de todos e entregue Seu Filho para morrer por todos. De certo modo, a redenção torna-se particular, a expiação torna-se limitada. Certamente que a redenção não é, em princípio, particular, mas torna-se. Neste sentido, podemos dizer que a morte de Cristo beneficiou os homens, mas sob condição. Aos homens é facultado rejeitar esta graça. Passemos a analisar agora estes eventos relatados no livro do Êxodo: [4] “Depois disse Moisés a Faraó: Assim diz o Senhor: ë meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; [5] e todos os primogênitos na terra do Egito morrerão, desde o primogênito de Faraó, que se assenta sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da mó, e todos os primogênitos dos animais. [6] Pelo que haverá grande clamor em toda a terra do Egito, como nunca houve nem haverá jamais. [7] Mas contra os filhos de Israel nem mesmo um cão moverá a sua língua, nem contra homem nem contra animal; para que saibais que o Senhor faz distinção entre os egípcios e os filhos de Israel.” (Êx 11.4-7) “Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios; e, ao ver o sangue na verga da porta e em ambos os umbrais, o Senhor passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas para vos ferir.” (Êx 12.23) Esses dois trechos selecionados podem servir, para os defensores do calvinismo, para respaldar a eleição incondicional e, mais especificamente o segundo, a expiação limitada. Contudo, será que Deus não estaria castigando os egípcios pelas suas próprias injustiças cometidas contra o povo de Israel? O texto bíblico diz: “Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida.” (Êx 1.22) Logo, todo o povo egípcio colaborou com o Faraó nas aflições causadas por este ao povo de Israel. Como Deus não faria distinção entre os egípcios e os filhos de Israel? Tomemos o exemplo das parteiras egípcias, Séfora e Fua. As parteiras temeram a Deus, pouparam os recém-nascidos e Deus lhes foi favorável, dizem as Escrituras (Êx 1.17,20). Assim é que o sangue nas vergas e nos umbrais das portas não simbolizam o alcance da expiação, mas a sua aplicabilidade, a qual depende do homem: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” (Ap 22.14) 8.4 – GRAÇA IRRESISTÍVEL – Este quarto dogma calvinista corresponde ao quarto artigo dos Remonstrantes, que trata muito propriamente da graça preveniente. Para a graça irresistível, usa-se também o termo mais apropriado “graça eficaz” (ou “chamada eficaz”), a qual se distingue da chamada “graça comum” – não eficaz, não salvadora – esta última, de acordo com os calvinistas, oferecida a todos os homens, sem distinção. [10] A graça irresistível talvez seja o único significativo ponto de discordância entre o calvinismo e o arminianismo. Os defensores do “sinergismo” podem aceitar, sem dúvida, a depravação total, quiçá, de certa forma, até a eleição incondicional. Não obstante, tal concordância é impossível com respeito à graça irresistível, e dela se farão depender, como elos de uma corrente, a expiação limitada e a perseverança dos santos. Os calvinistas ensinam que os eleitos não podem resistir à graça de Deus. Além da chamada externa à salvação, que é feita de modo geral a todos que ouvem o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos uma chamada especial interna, a qual inevitavelmente os traz à salvação. A chamada externa (que é feita indistintamente a todos) pode ser rejeitada; ao passo que a chamada interna (que é feita somente aos eleitos) não pode ser rejeitada, uma vez que move eficazmente a vontade da criatura, de sorte que esta não é violentada, mas levada a cooperar livremente (CFW, III,1; X,1). Em suma, os calvinistas ensinam que, quando Deus escolhe alguém, essa pessoa nunca dirá “não” a Deus. Este ensino parece harmonizar-se com as seguintes palavras de Jesus: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12.32). Poderíamos citar também, de acordo com os calvinistas, At 2.39; Rm 1.17; 9.11; 1Ts 5.24; 2Tm 1.9. Verdade é que se pode entender a expressão “a quantos o Senhor nosso Deus chamar” em At 2.39 como sendo dirigida a todos os homens (At 17.30) ou entender esta chamada como sendo segundo a presciência (Rm 8.29; 1Pe 1.2). Contrariando o ensino de Trento (sessão VI, cânone IV sobre a justificação), segundo o qual o homem pode resistir à graça de Deus (embora o concílio não afirme que ele, de fato, resista) os jansenistas afirmavam também que, em estado de natureza decaída, o homem nunca pode resistir à graça interior, e que o homem nunca pode resistir à graça de Deus. Duas proposições tiradas do “Augustinus” de Jansênio refletiam esse ensino e foram condenadas pelo Papa Inocêncio X. Em primeiro lugar, considerando que é o Espírito Santo Quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), ninguém se arrepende, senão por total operação do Espírito Santo (Pv 1.23). Isto é verdade, porque a iniciativa é sempre de Deus (Is 43.1), o que nos impulsiona a crer que o homem não tem, por si só, a capacidade de se arrepender dos seus pecados (Is 65.1; Jo 1.13; 6.44; 15.5,16; 1Co 2.9-12; Ef 1.19; Fp 2.13; Tg 1.17,18). Se disséssemos que uma pessoa perdida pode ser salva por iniciativa própria, sem a intervenção do Espírito, estaríamos defendendo o semipelagianismo, e a Bíblia diz que “ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor!’ senão pelo Espírito Santo” (1Co 12.3). Creio ser neste sentido que se deve entender o ensino do Apóstolo Paulo que diz: “não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual também nos capacitou para sermos ministros dum novo pacto” (2Co 3.5,6). A graça não pode ser merecida, do contrário não seria graça (Rm 11.5,6; Ef 2.8). Nisto estou de pleno acordo com o calvinismo. O problema é: a quantos se estende esta graça? Os arminianos aceitam plenamente o fato de que a salvação é pela graça, não se aceita, contudo, uma “graça soberana” que não trabalhe em comum acordo com o nosso livre-arbítrio (1Ts 2.13). Afinal, fazendo uso das palavras do próprio Agostinho, que o predestinacianismo toma por seu grande advogado, “Qui fecit sine nobis, non salvabis nos sine nobis”, ou seja, “Aquele que nos criou sem nós, não nos salvará sem nós”. Analisemos ainda o caso de Lídia: “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.” (At 16.14) Este e outros versículos não servem como prova para o dogma reformado de graça invencível pela seguinte razão: os arminianos não negam que a fé seja dom de Deus. Inclusive, a Escritura chama Cristo “o autor e consumador da nossa fé”. Os arminianos também não negam que Deus opera em nós o querer e o efetuar. O arrependimento é obra do Espírito Santo que cria em nós o desejo de amar a Deus. A vontade é criada em nós pela graça preveniente. Isto é feito de um modo que seja possível ao homem resistir, embora muitos teólogos (católicos e protestantes) admitem que a ação de uma graça eficaz é que acaba por determinar infalivelmente a vontade do homem, embora não lhe tire a liberdade (Pv 21.2; Ez 36.26,27). Resistir a essa graça seria, nesse sentido, absurdo. Mas o fato de ser um dom não impede a sua recusa e, como isto é possível, além dos motivos e razão dessa recusa, foram discutidos mais amplamente no tópico anterior em que tratamos da “depravação total”. Acontece que Deus, sendo infinitamente mais poderoso do que nós, mesmo assim nos dá permissão para resistir a essa operação do Espírito Santo (Mt 23.37; Rm 10.21; Hb 12.15). Essa operação do Espírito, contudo, não é igual para todos. Paulo, por exemplo, não resistiu, ou é certo que quase não pôde resistir. O Espírito opera em cada um de maneira diferente, do contrário não haveria qualquer razão em se orar pela conversão de determinada pessoa, contudo, a todos em quem opera, dá a mesma oportunidade de salvação. Alguns, segundo o propósito de Deus, são privilegiados, porque recebem uma infusão maior de Sua graça. A parábola dos dez talentos (Mt 25.14-30) nos dá também a entender que Deus não distribui igualmente a Sua graça, mas tem liberdade para conceder a certas almas favores especiais. Alguns teólogos (tomistas) admitem que seriam esses favores especiais que, mesmo sem violentar a liberdade do indivíduo (isto é, este podendo resistir, segundo Trento), e sem merecimento algum da parte dele, acabariam por tornar a graça eficaz. Uma graça, portanto, eficacíssima, que teria feito sentir seus efeitos em Paulo, quando Jesus lhe disse: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14), embora isso possa parecer até uma advertência a Paulo (no caso, Saulo) para que parasse de perseguir o povo de Deus. É verdade, ainda, que o Senhor se refere a ele como um “vaso escolhido” para levar o Seu nome perante os gentios, os reis e os filhos de Israel (At 9.15; 22.14). Talvez possamos aplicar aqui a seguinte ilustração: Alguns pensam a graça suficiente da seguinte forma: Certo homem está a se afogar num rio e alguém tenta socorrê-lo. Para isso, joga-lhe uma corda. O homem terá que se agarrar à corda e tentar subir, ao mesmo tempo em que o outro, em terra, faz de tudo para puxá-lo. Mas, ainda assim, pode ser que a força da correnteza o arraste para longe e ele se afogue. Da mesma forma, Cristo a todos lança uma corda, que aqui está simbolizando a chamada “graça suficiente”, e, se o homem puder se manter preso a essa corda, Ele o puxará (Fp 1.6). A salvação preserva-se-ia, dessa forma, absolutamente gratuita, pois o ato de se agarrar à corda não significa outra coisa, senão que alguém, na realidade, se deixou puxar por Deus. Nós também, com certeza, não teríamos chance alguma se Ele não tivesse tido por iniciativa nos jogar uma corda, que, para molinistas (católicos) e arminianos (protestantes), se apresenta também como “graça preveniente”. Segundo esta perspectiva, a salvação seria um ato de pura misericórdia da parte de Deus, ao mesmo tempo em que resulta num esforço conjugado (sinergismo) entre Deus que nos puxa e o homem que se mantém agarrado à corda. Obviamente que isso é apenas uma ilustração e tem lá as suas falhas. Se o homem, em estado de completa miséria espiritual, está morto em delitos e pecados, conforme Ef 2.1, e não apenas se afogando, tem, no entanto, sua capacidade de escolha “vivificada” por meio duma graça preventiva que o próprio Deus lhe envia. A situação seguinte é a de um homem que também cai no rio e está a se afogar. Alguém passa, vê, e, nadador experiente, decide se lançar ao rio para salvá-lo. Agarra o homem e o arrasta até um lugar seguro. Todo esforço foi feito pelo homem que decidiu se jogar no rio e salvar aquele que estava se afogando. Seria um favor especial concedido por Deus livremente a alguém e, como no primeiro caso, sem nenhum merecimento da parte dele. No entanto, o homem, cego pelo pecado, luta contra o seu ajudador, preferindo ser levado pela correnteza. Seria necessário grande força e disposição por parte do ajudador para conduzi-lo até a margem. Esta é a diferença estabelecida por muitos teólogos entre “graça eficaz” e “graça suficiente”. Vemos, através desses dois exemplos, como tomistas e molinistas discordam acerca da natureza da graça suficiente. Os molinistas pensam que a graça suficiente pode tornar-se eficaz se o homem lhe dá assentimento, o que os tomistas, preocupados em defender a soberania divina nas ações humanas e a gratuidade absoluta da salvação, negam. É certo que pode-se dizer que resistir à graça de Deus não a exime de seu caráter absolutamente gratuito, posto que não é ação, mas é justamente privar-se da ação, e o pecado é a negação do ser. Um dos problemas que acabam por ser colocados seria o seguinte: se o homem não foi capaz de resistir à tentação no Éden, não foi capaz de resistir ao diabo, como, pois, resistirá a um poder tão infinitamente maior, como a graça de Deus? No entanto, a questão não é se a graça de Deus pode ser vencida. O homem resiste à graça porque Deus assim o permite, como também poderia ter resistido no caso da tentação no Éden. É certo que há calvinistas que talvez não aceitam que o homem pudesse ter resistido à tentação no Éden; são supralapsarianos e agridem a santidade de Deus ao fazerem de Deus o autor do pecado e, na realidade, o único pecador. O próprio Calvino ensinava que o livre-arbítrio era uma prerrogativa de Adão – o “poder de pecar” e o “poder de não pecar” – perdido quando ele pecou contra Deus. Os calvinistas, pois, que usam este argumento, caem, como Calvino, em horríveis contradições. Mas se todos resistissem à graça, os planos de Deus ficariam frustrados e isso é impossível porque o mesmo é Soberano, Senhor, Onipotente, Onisciente e Onipresente. As tentativas de solução para esse problema se apresentam como se segue: 1 - Todos tem a permissão de Deus para resistir à graça, mas Deus os conhece desde a eternidade, de tal forma que os planos de Deus nunca seriam frustrados (solução sinergista). 2 – Deus, efetivamente, não permite que todos resistam à graça, conduzindo-os eficazmente à vida eterna (os predestinados), ao passo que, aos outros (os precitos), a graça é oferecida, conquanto Deus sabe que resistirão (esta parece ser a solução tomista e também da chamada teoria infralapsariana de expiação universal). 3 - Para alguns, Ele não oferece uma graça eficaz e para outros oferece (aqui se enquadram os tomistas e jansenistas, sendo que estes últimos, a semelhança da maioria dos calvinistas, crêem que Cristo só morreu pelos eleitos. Em termos calvinistas, tratar-se-ia de uma teoria infralapsariana de expiação limitada). 4 - Deus é a causa suprema da reprovação (é o que sustenta a versão supralapsariana. Calvino, Beza e Gomarus estavam entre os que defenderam que Deus predestina ao inferno como um ato explícito de Sua vontade). Na verdade, o fato de alguns homens resistirem e outros não está completamente em conformidade com os planos de Deus, de tal forma que Deus nunca é pego de surpresa, nem é retirada a liberdade humana. Em outras palavras, isso nunca significará que não há nenhum controle da parte de Deus ou que toda responsabilidade da salvação esteja vinculada ao livre arbítrio humano, pois Deus não seria soberano. Por outro lado, todos nós seríamos responsáveis pela perdição de alguém, por não pregar-lhe o evangelho, conforme foi ordenado por Cristo. Wesley pensava, no entanto, que a “graça preventiva” está em atuação no coração de todos os seres humanos, ao lado de sua consciência, a própria presença de Deus em ação, por sua misericórdia, procurando levar o ser humano ao arrependimento: “Parece ser esta faculdade a que se referem usualmente aqueles que falam de consciência natural, expressão encontradiça amiúde em alguns dos nossos melhores autores, contudo não estritamente certa, pois, embora possa ser chamada natural, por achar-se em todos os homens, não é, todavia natural, propriamente falando-se, mas um dom sobrenatural de Deus, acima de todos os seus dotes naturais”. De acordo com John Gill, os talentos da parábola de Mt 25.14-30 não podem ser usados para pensar a graça suficiente, mas representam dons ministeriais. Não deixam, contudo, de serem dons de fato, distribuídos livremente e sem nenhum merecimento da parte humana. Ainda assim, diz o texto sagrado: [28] “Tirai-lhe, pois, o talento e dai ao que tem os dez talentos. [29] Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.” O fato é que a graça é chamada “dom” nas Escrituras, como em Rm 5.15,16. Para muitos, um dom espiritual que seria como qualquer dom natural, não dependendo da vontade dos predestinados. Evocam, talvez, este versículo: “Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis” (Rm 11.29). Mas, com estas palavras, São Paulo está tratando de uma eleição geral e não particular, no caso, a eleição da nação de Israel no Antigo Testamento. Refere-se ele à promessa feita a Abraão sobre a sua descendência (Gn 17.7-9), pela qual, um dia “todo o Israel será salvo” (Rm 11.26). Não obstante às interpretações dos calvinistas, se dissermos que a graça de Deus é irresistível, estaríamos realmente abrindo mão do livre-arbítrio. Se a graça salvífica fosse irresistível, também esta não teria sido oferecida a toda humanidade, porque são muitos os que se perdem. Contrariando este ensino, diz a Bíblia em definitivo que é possível resistir ao Espírito Santo (At 7.51), do contrário também não teríamos uma oferta genuína e sincera de salvação aos não-eleitos (At 17.30). Por isso, creio que o Espírito Santo convence, mas não constrange (1Ts 5.19). O Espírito Santo toma a iniciativa de nos salvar, mas só convence aqueles que, de fato, abrem o coração para Jesus: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.20). Contra aqueles que dizem que estas palavras são apenas uma exortação à comunidade cristã em Laodicéia, em meio à sua mornidão espiritual, observemos que Cristo diz: “Se ALGUÉM ouvir... entrarei em sua casa, e COM ELE cearei... ” Jesus diz “COM ELE”, não diz “com a igreja”. Logo, se refere à uma igreja local, mas também às pessoas individualmente. Note também a partícula condicional “se”. Jesus sabe que as suas ovelhas ouvirão a sua voz (Jo 10.16,27; 18.37), mas não forçará a entrada; Ele espera a nossa resposta e respeita nossa liberdade. Por hora, tem sido argumentado pelos calvinistas que as palavras “Eis que estou à porta e bato” são dirigidas a crentes salvos, já que é uma exortação feita à igreja de Laodicéia. Não temos motivos para duvidar disso, uma vez que o Senhor declara que repreende e castiga a todos quantos ama, contudo, as palavras descritas nesta carta somente evidenciariam uma segurança condicional da salvação, caso se entenda estas palavras dirigidas a crentes salvos: [16] “Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca. [17] Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; [18] aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.” (Ap 3.16-18) À mesma igreja, ele diz “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te” (Ap 3.19), mas também diz “Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3.16). 8.5 – PERSEVERANÇA DOS SANTOS – Os calvinistas ensinam, neste último dos cinco pontos, que, uma vez recebendo-se a graça da justificação, não se pode decair do estado de graça, de forma que se precise ser de novo reconciliado com Cristo. Costuma-se usar, inclusive, certos chavões: o salvo não perde a salvação, ou: uma vez salvo, salvo para sempre. Geralmente se crê que aquele que foi justificado pela fé, está preservado de cometer pecado mortal. Mas há quem declare que não importa que o quanto peque, se o homem foi justificado, está garantida a sua salvação (CFW, XVII,3). É claro que, se ele apostatar, permanecendo definitivamente neste estado, é porque não tinha sido realmente salvo. O salvo, por sua vez, estaria sujeito a perder a “alegria da salvação” (Sl 51.12) e até mesmo apartar-se da graça (CFW, XVII,3), não totalmente (CFW, XVII,1), e permanecer algum tempo nesse estado, mas mesmo assim a sua salvação estaria assegurada (Sl 37.24; 145.14; Pv 24.16). Usa-se, inclusive, a parábola das cem ovelhas, para ilustrar esse ensino (Lc 15.4-6), embora não se coadune com a própria explicação de Jesus no versículo 7. São muitas passagens bíblicas usadas por quem defende a “perseverança dos santos”: Jo 6.37-39; 10.28,29; Rm 8.38,39; 14.4; Fp 1.6; 2Tm 2.13; Jd 24. Os próprios discípulos de Arminius tiveram dúvidas com relação a esta questão, deixando claro que ela precisaria ser melhor estudada. Porém, muitas das chamadas provas bíblicas acerca dessa doutrina acabam por ser textos fora do contexto. Esta doutrina é de índole totalmente calvinista, mas, mesmo assim, muitos arminianos, em particular de confissão batista, também professam a crença de que o salvo não perde a salvação. Consideram eles que alguém que tenha nascido do Espírito (Jo 3.6,8) não pode “desnascer”. Afinal, não foi Cristo a dizer que as portas do Hades não prevaleceriam contra a Sua Igreja (Mt 16.18)? Em um certo sentido, a salvação não pode ser perdida, uma vez que a salvação ou perdição de cada um é do pleno conhecimento de Deus e está fixada nos Seus decretos eternos (Jo 17.12; Ap 13.8; 17.8), todavia alguém pode receber a graça e depois perdê-la definitivamente. Os eternos decretos de Deus não anulam o livre-arbítrio próprio das criaturas racionais. Veja, por exemplo, At 13.43; 1Co 9.27; Hb 10.38; 2Pe 2.20-22 e Ap 3.11. A grande dificuldade, todavia, para os que defendem esta suposta “perseverança” é admitir que alguém possa receber a graça da justificação e terminar não sendo salvo. Em Hb 10.26-29 encontramos justamente este tipo de situação. Não há dúvida de que o texto em questão trata de crentes que haviam experimentado a graça redentora de Jesus Cristo e caíram definitivamente na apostasia. Como pode alguém ter sido santificado pelo Espírito da graça (Hb 10.29), sem ter sido realmente justificado? Além disso, se o crente não pode cair da graça, que sentido há na Bíblia mencionar que há pecados que são “para a morte” (1Jo 5.16,17), e cujo sentido claro no texto não é o da morte física e sim espiritual? Se não se pode cair definitivamente da graça, que dizer de Hb 2.1-3: “[1] Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas. [2] Pois se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda transgressão e desobediência recebeu justa retribuição, [3] como escaparemos nós, se descuidarmos de tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi- nos depois confirmada pelos que a ouviram”? O autor da carta aos Hebreus não parece compartilhar da tal doutrina da “perseverança dos santos” pois encontramos lá incansáveis recomendações contra a apostasia. Cf. Hb 3.12,13; 4.1; 10.38; etc. Aqueles a quem Deus, desde toda a eternidade, predestinou à vida eterna, serão, efetivamente, os que perseverarão até o fim, mas não os únicos a receber a graça. A dificuldade que muitos protestantes têm em compreender essa doutrina advém muito propriamente do conceito luterano de justificação, que reduz a justificação a uma mera declaração forense, segundo a qual o crente recebe tão-somente a imputação da justiça de Cristo. Haja vista que Arminius nunca negou a doutrina da justificação forense, seus seguidores tiveram grande dificuldade em negar que os justificados pudessem decair do estado de graça. Lutero e os protestantes em geral não vêem a graça como um influxo divino que nos move a obrar, nem como um estado, mas como uma disposição favorável de Deus em relação ao homem. A graça seria o próprio Cristo. É interessante notar as diferenças entre os pontos de vista do catolicismo romano e da teologia reformada, no que diz respeito a essa questão. Os católicos ensinam que alguém que receba a graça justificadora ainda pode apartar-se dela, cometendo pecado mortal, e precisando ser novamente reconciliado com Cristo, mediante o sacramento da penitência. Aqueles a quem Deus predestinou à vida eterna acabariam por ser, em última análise, os que perseverariam até o fim (Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13). Diz-se que os mesmos receberiam o “dom da perseverança” ou “dom da perseverança final”, isto é, a felicidade de, quando morrerem, se encontrarem em estado de graça. Esta disposição da Providência divina estaria oculta no mistério da divina predestinação. Mas, se os eleitos recebem o “dom da perseverança”, os outros também podem receber a graça e perdê-la simplesmente. A certeza, no entanto, do recebimento dessa “perseverança final”, o que equivale à certeza de predestinação, é algo que só pertenceria a Deus, não cabendo ao homem julgar-se salvo antes do tempo, a não ser no caso de uma revelação especial (Mt 26.29). Não deveria, portanto, estar firmada em critérios puramente subjetivos. O certo é que, contra uma pretensa segurança, as Sagradas Escrituras também declaram: [1] “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor. [2] Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto. [3] Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. [4] Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim” (Jo 15.1-4). [18] “não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. [19] Dirás então: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. [20] Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu pela tua fé estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme; [21] porque, se Deus não poupou os ramos naturais, não te poupará a ti. [22] Considera pois a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, a bondade de Deus, se permaneceres nessa bondade; do contrário também tu serás cortado. [23] E ainda eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os enxertar novamente.” (Rm 11.18-23) [5] “E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, [6] e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, [7] e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor. [8] Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, elas não vos deixarão ociosos nem infrutíferos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. [9] Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, vendo somente o que está perto, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. [10] Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme [= assegurar] a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. [11] Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2Pe 1.5-11) [24] “Portanto, o que desde o princípio ouvistes, permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai. [25] E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (1Jo 2.24-25) “Todo o que odeia a seu irmão é homicida; e vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele.” (1Jo 3.15) Jesus falou acerca de certo homem, servo de um rei, que foi por este perdoado de uma dívida, mas que depois, encontrando seu companheiro e, esquecendo-se da graça que ele mesmo tinha recebido, agrediu-o violentamente, terminando por encerrá-lo na prisão, pois este lhe devia. O rei indignou-se então e anulou o perdão que tinha dado ao servo malvado (Mt 18.23-35). O próprio Cristo nos manda vigiar (Mt 24.42; 25.13; 26.41; Mc 13.33-37; Mc 14.38; Lc 21.36). Cf At 20.31; 1Co 16.13; 1Pe 4.7. O apóstolo Pedro também escreve: “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar” (1Pe 5.8). Raciocemos sobre isso: Se o crente não pode, de maneira nenhuma, decair do estado de graça, e, uma vez que o Espírito Santo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus e temos certeza da salvação, poderíamos, então, esquecer todas essas exortações à vigilância. A salvação não é um fato consumado enquanto se caminha nesta terra. A graça pode ser comparada, aos nossos olhos, como uma corda que é arremessada. À medida que o homem agarra a corda que lhe foi arremessada, o Senhor o puxa, isto é, o ajuda de todos os modos. Mas se o homem faz a loucura de soltar a corda, antes de ter sido resgatado, ainda tem esperança de que consiga de novo ver a corda, embora seja mais difícil (Mt 12.43-45; Lc 11.24-26; Hb 10.26-27), ou morrerá afogado. Por isso mesmo, é que se fez distinção entre predestinação para a graça e predestinação para a glória. A primeira seria independente de qualquer mérito, porque, do contrário, a graça não seria graça. A segunda é grandemente discutida pelos teólogos. Com efeito, o texto de Rm 8.28-30 só fala dos predestinados para a glória, isto é, daqueles que perseveram até o fim na graça do Cristo. Concluímos, portanto, que, sem dúvida, Deus está sempre auxiliando Seus filhos para que não lhes sobrevenha tentação maior do que as suas próprias forças para resistir (1Co 10.13). Por causa disso, nada nem ninguém, nenhuma força demoníaca, pode arrebatar um crente das mãos de Deus, com exceção dele próprio (Jo 10.28,29; Rm 8.38,39). Os defensores da doutrina de que o crente não pode decair do estado de graça fazem de tudo para enfraquecer as exortações de Cristo às sete igrejas de Ásia, através de interpretações artificiais e vagas. Dizem que as exortações são sempre dirigidas a uma comunidade de salvos, que nada tinham a perder, senão a alegria do Espírito. Se fosse assim, poderiam ter muito bem negligenciado as exortações de Cristo, sem grandes danos: [4] “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. [5] Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres.” (Ap 2.4-5) Se eram salvos, sem possibilidade alguma de se perder, qual o sentido das palavras abaixo? Carta a Igreja de Éfeso: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.” (Ap 2.7) Carta a Igreja de Esmirna: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte.” (Ap 2.11) Carta a Igreja de Pérgamo: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” (Ap 2.17) Carta a Igreja de Tiatira: “Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (Ap 2.26) Carta a Igreja de Sardes: “O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Ap 3.5) Carta a Igreja de Filadélfia: “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome.” (Ap 3.12) Carta a Igreja de Laodicéia: “Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono.” (Ap 3.21) Como já dissemos, quando tratamos da tese da graça irresistível: À mesma igreja, ele diz “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te” (Ap 3.19), mas também diz “Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3.16). Será esta igreja uma comunidade de salvos sem nenhuma possibilidade de perderem a salvação? Quanto à certeza de salvação que os calvinistas cultivam, isso se torna uma doutrina perigosa (por estar baseada em critérios subjetivos), uma vez que eles crêem que não há risco de perderem a salvação. O apóstolo Paulo nos manda trabalhar a nossa salvação com temor e tremor (Fl 2.12). “Aquele que pensa estar de pé, cuide para que não caia” (1Co 10.12). Certeza de salvação? A ênfase que os calvinistas dão à predestinação traz é insegurança ao cristão, na medida em que o mesmo não pode saber se é ou não um dos eleitos. A certeza que eles dizem possuir é baseada toda em critérios subjetivos. Que eles procuram viver uma vida santa, do tipo “pelos seus frutos, os conhecereis” (Mt 7.20), disso eu sei muito bem. Afinal, quem, cheio de vícios, teria a coragem de se declarar eleito de Deus? Quanto a Paulo, teve várias revelações especiais, mas será que o mesmo tinha certeza absoluta de sua eleição? – 1Co 4.4; 9.27; 10.12; Fp 3.11-14. Dizer que tem certeza infalível da salvação é usurpação, pois é Cristo quem irá julgar os vivos e os mortos (Mt 25.31-46; At 10.42; Rm 2.5-11; 2Tm 4.1; 1Pe 4.5). Quando digo “certeza infalível de salvação”, estou me referindo a uma certeza de predestinação. Podemos e devemos ter certeza de que estamos em estado de graça (salvos, mas sem garantias de que não iremos cair) e que devemos zelar pela nossa salvação (Jo 5.24; Rm 8.16; 1Jo 3.14,19; 2Jo 1.8,9). O homem pode cair do estado de graça, mas a perseverança final não é, em absoluto, fruto dos nossos méritos, pois, sem um auxílio especial de Deus, é impossível perseverar. Trataremos ainda deste assunto adiante, no próximo capítulo, “A justificação pela graça, por meio da fé”. X. A TRADIÇÃO REFORMADA E OS ARMINIANOS Assim como, entre os católicos, houve a questão dos jansenistas, fala-se muito que também há, dentro do protestantismo, duas tradições com respeito ao entendimento da predestinação. O século XVII, mais ainda que o XVI (com exceção, quem sabe, dos séculos V e VI), talvez tenha sido o século das controvérsias a respeito da predestinação, e foi precisamente neste século que afloraram as questões do jansenismo e do arminianismo. A tradição calvinista é a única que corresponde às idéias originais dos reformadores do século XVI, Lutero, Calvino, Zwinglio. A respeito da liberdade humana, Lutero polemizou com Erasmo de Rotterdam, Calvino com Alberto Pighius. Herdeira de Santo Agostinho ou, mais precisamente, do augustinismo rígido professado desde a Idade Média, a teologia protestante está baseada no reconhecimento da pecaminosidade do homem e na absoluta soberania de Deus. A teologia de Lutero é, por excelência, a “Theologia crucis”. A tradição arminiana, cujo nome deriva de Jacobus Arminius, remonta a Pelágio (que foi condenado pela Igreja), mas também a alguns Padres da Igreja, no entendimento de uma predestinação que tem por base a presciência. Pode-se dizer, ainda, que a mesma Igreja que condenou Pelágio nos Concílios de Cartago (418) e de Milevis, de Éfeso (431) e de Orange (529), condenou também as idéias de Lucidus no Sínodo de Arles (473) e Gottschalk (Gotteschalcus) nos Sínodos de Mayence ou Menz, ou Mogúncia (848) e Quiercy (849 e 853), assumindo uma postura “nem tanto ao mar nem tanto à terra”, chamada de augustinismo mitigado, até os dias de hoje. O arminianismo foi, por sua vez, condenado pela Igreja Reformada Holandesa no Sínodo de Dort, em 1618-9. Arminius Jacobus Arminius, na verdade, Jacob Hermann ou Hermensen, ou ainda, Hemanson, nasceu em Oudewater (Holanda), em 1560, e estudou em Leiden e em Genebra na gestão de Teodoro Beza, sucessor de Calvino. Em 1588, tornou-se um dos ministros de Amsterdam. O consistório de Amsterdam havia solicitado ao jovem teólogo, a refutação das teses liberais de Coalhaes, um professor de Leiden que se dera a atacar a visão calvinista da predestinação. Mas Arminius se deixou convencer pelos argumentos de que ele fora incumbido de combater. Em 1603, foi indicado como professor de teologia em Leiden, em substituição a Franciscus Gomarus (1565-1641), um dos grandes teólogos calvinistas da época e que, inclusive, tomou parte, mais tarde, no Sínodo de Dort. Quando foi nomeado professor em Leiden, já não mais acreditava na predestinação e bem depressa entrou em conflito com seu colega Gomarus, de temperamento irascível, e que ensinava, como Calvino, que Deus quisera a queda de Adão (é a tese do supralapsarianismo). Arminius pôs toda a força de sua dialética no ataque à dupla predestinação (para salvação e para perdição), a qual nunca apareceu com nitidez nos escritos de Agostinho, mas depois passou a atacar também a predestinação simples, na forma como havia sido entendida por Agostinho e pelos escolásticos. Arminius morreu em 1609, em Leiden, mas seus discípulos – os arminianos – buscaram apoio junto às autoridades civis contra a maioria da Igreja holandesa, fiel à tradição reformada. Foram defendidos por homens famosos como os teólogos Vorstius (1569-1622) e Episcopius (153-1643), o velho conselheiro e amigo de Guilherme, o Taciturno, Jan van Oldenbarnevelt (ou Olden Barnaveldt), principal negociador da trégua dos Doze Anos, João Uitenbogaard (1557-1644), um pastor de Haia, e um jovem jurisconsulto, Hugo Grotius (1557-1644), pensionista de Rotterdam. Líderes arminianos dessa época também se tornaram vigorosos defensores das teses erastianas – as mesmas defendidas por Thomas Liebber, dito Erastus (1524-1583) em Heidelberg – de controle da Igreja pelo Estado. Os arminianos dirigiram, em 1610, uma “Exprobação” (“Remonstrantia”) aos Estados da Holanda, à qual os seguidores de Gomarus responderam com uma “Contra-Remonstrantia” e conseguiram, em novembro de 1617, a convocação de um sínodo que definiria a doutrina oficial da Igreja. O príncipe Maurício de Nassau, filho de Guilherme, o Taciturno, e stadtholder hereditário, deu seu apoio aos gomaristas contra os arminianos. No Sínodo de Dort começaram as inúmeras controvérsias “qüinquarticulares” ou dos cinco artigos, nos quais fundamentalmente divergiam arminianos (ou remonstratenses) e calvinistas (ou contra-remonstratenses). A controvérsia já antes havia surgido em Cambridge, em 1549 (Pedro Baro), mas os reis ingleses proibiram que se pregasse sobre os cinco pontos, o que nem sempre foi observado. O Sínodo de Dort condenou algumas das teses arminianas. Depois disto, os arminianos foram cruelmente perseguidos na Holanda, sendo Oldenbarnevelt executado, tendo sido acusado de estar “vendido aos espanhóis”, e o ilustre Grotius (Grócio) condenado à prisão perpétua, mas conseguiu fugir. A rigor, não deveria existir uma tradição arminiana separada da tradição calvinista, sendo o arminianismo clássico, na realidade, um cisma da Igreja Reformada Holandesa. O certo é que a história do calvinismo está marcada por essa crise político-religiosa que se desenvolveu na Holanda na primeira metade do século XVII, o cisma arminiano. Não esqueçamos que o próprio Arminius era calvinista, diferindo da Igreja Reformada apenas quanto aos cinco pontos. A Arminius seguiram Episcópio (Episcopius), Limborch e Tomline, entre outros, e modernamente, Wesley. Ao contrário do que pensam alguns calvinistas, o ensino de Arminius não tem nada a ver com o pelagianismo ou com o semipelagianismo. Arminius era completamente ortodoxo quanto ao pecado original e aceitava a idéia de graça preveniente. Rejeitava, contudo, a doutrina da graça irresistível e da predestinação incondicional. Os cinco artigos dos Remonstrantes, por sua vez, opuseram-se firmemente ao semipelagianismo. A acusação, pois, de que alguns discípulos de Arminius teriam sido semipelagianos, por terem negado a depravação total, não deve refletir para uma avaliação equivocada de sua teologia. As palavras abaixo, por exemplo, foram escritas pelo próprio Arminius: “A respeito da graça e do livre arbítrio, ensino conforme as Escrituras e o consentimento ortodoxo: o livre arbítrio não tem a capacidade de fazer ou aperfeiçoar qualquer bem espiritual genuíno sem a graça. Para que não se diga que eu, assim como Pelágio, cometo uma falácia em relação à palavra “graça”, esclareço que com ela me refiro à graça de Cristo que pertence à regeneração: afirmo, portanto, que a graça é simples e absolutamente necessária para a iluminação da mente, para o devido controle das emoções e para a inclinação da vontade ao que é bom. É a graça que [...] força a vontade a colocar em prática boas idéias e os bons desejos. Essa graça [..] antecede, acompanha e segue; ela nos desperta, assiste, opera para que queiramos o bem, coopera para que não o queiramos em vão. Ela afasta as tentações, ajuda e oferece socorro em meio às tentações, sustenta o homem contra a carne, o mundo e Satanás, e nessa grande luta concede ao homem a satisfação da vitória. [...] A graça é o princípio da salvação; é o que a promove, aperfeiçoa e consuma. Confesso que a mente [...] do homem natural e carnal é obscura e escura, que suas afeições são corruptas e imoderadas, que sua vontade é obstinada e desobediente e que o próprio homem está morto em pecados.” (A letter addressed to Hippolytus A. Collibus, in: Works of James Arminius, 2.701) [6] Wesley John Wesley (1703-1791), por sua vez, foi uma das grandes figuras da história inglesa e da história do protestantismo. Assim como Arminius, enfatizou a crença na graça preveniente. Não nos demoraremos aqui discorrendo sobre sua vida, mas é bom que se diga que o filho de Susana Wesley e irmão de Charles foi responsável por um maravilhoso despertamento espiritual no coração da Igreja Anglicana, bem como no Puritanismo. Wesley é considerado o “Príncipe dos Arminianos”, mas ganhou também o respeito dos calvinistas e sua figura influenciou tanto os puritanos, quanto os metodistas. Estes últimos, depois, se separaram em dois ramos, o arminiano e o calvinista. Para muitos calvinistas, como Augustus Toplady, Wesley estava retornando a Roma, o que não deixa de ser verdadeiro, num certo sentido. Wesley também propugnava um conceito de santificação semelhante ao do catolicismo romano e que diferia do conceito de Lutero do crente enquanto “simul justus et peccator”. É notável que tinha um amigo calvinista, George Whitefield. Wesley e Whitefield permaneceram amigos até o final de suas vidas, mesmo separando-se quanto às suas vidas ministeriais, por motivos teológicos. Célebre é a frase em que, numa certa carta de Whitefield para Wesley, escreveu ele com todo o respeito: “No, dear Sir, you mistake”. Os calvinistas exaltam muito a soberania de Deus e se fazem remontar a Agostinho e a Paulo (isto é bastante discutido), e crêem numa predestinação absoluta. Para os calvinistas, Calvino, Agostinho e Paulo parecem fundir-se numa só pessoa. As expressões “Ordo Salutis” (expressão cunhada por um luterano) ou “ordem da salvação”, “teologia federal”, que é o mesmo que “teologia pactual”, “TULIP”, são muito usadas pela linguagem calvinista, e foram concebidas no desenvolvimento de sua teologia desde Lutero e Calvino até os dias atuais. Das igrejas que sustentam essa teologia calvinista (também conhecida como reformada), muito bem elaborada, diga-se por sinal, poderíamos citar – muito embora esta teologia esteja bastante diluída entre as várias denominações: as igrejas presbiterianas (calvinistas por excelência) e uma boa parte das igrejas batistas (particulares), congregacionalistas (puritanos), etc. A Igreja Anglicana (“39 Artigos”) parece assumir uma posição não tão rígida (predestinação dos eleitos), e que poderia ser chamada de um calvinismo mitigado. Por outro lado, a concessão do livre-arbítrio está presente nas igrejas luteranas, anglicanas, metodistas, a maioria das pentecostais e nas igrejas batistas ditas arminianas, sem contar a Igreja Católica (tanto latina, quanto oriental). A Igreja Católica Romana, por exemplo, flutua entre uma espécie de monergismo e sinergismo, sem, contudo, afirmar categoricamente nenhum dos dois sistemas. Numa perspectiva católica, sempre se prezou para o termo “predestinação” fosse entendido como sinônimo de eleição. Já para o calvinismo, com sua “Ordo Salutis”, o termo “predestinação” passou a funcionar como um sinônimo tanto para eleição quanto para reprovação, ou ainda, como a conseqüência imediata tanto da eleição quanto da reprovação. Desta forma, o calvinismo compreende a questão do ponto de vista de uma dupla predestinação. Mas o calvinismo defende isto mais explicitamente em sua vertente supralapsária, porque cabe definir se Deus “predestina” os réprobos ao inferno ativamente ou permissivamente. Entre os calvinistas, os supralapsários e infralapsários discutem a respeito da ordem dos decretos de Deus, não esquecendo, contudo, que Deus é Aquele que a tudo determina. Muitos dos que detêm o nome de calvinistas têm dado terríveis exemplos de intolerância religiosa, declarando que o livre arbítrio é doutrina inventada por Satanás e que o Sínodo de Dort tachou as idéias arminianas de heréticas, embora muitos pastores presbiterianos de hoje sejam também dados ao ecumenismo. O calvinista Loraine Boettner, em seu livro “The Reformed Doctrine of Predestination”, diz que “um corpo lógico e sistemático de teologia” nunca foi desenvolvido pelos arminianos. Na verdade, o “arminianismo” não é algo tão desprovido de autoridade, perante a tradição cristã, como muitos calvinistas têm declarado. Vejamos, por exemplo, o artigo XI do Livro da Concórdia, que foi publicado em Dresden em 25 de junho de 1580, um dos monumentos da dogmática luterana, o qual explana a delicada questão da predestinação eterna e da eleição divina, condenando aqueles que apresentam esta doutrina de molde a perturbar e desesperar os cristãos. Aqui são visados os calvinistas. Ainda de acordo com esse documento, a predestinação apenas atuaria para a salvação, “Cristo morreu por todos os pecadores” e, por último, a condenação não deve ser atribuída senão à resistência voluntária dos maus. Não devemos esquecer que a teologia de Arminius não representou um retorno ao pelagianismo nem ao semipelagianismo; pronunciou-se, contudo, eficazmente contra um desvio teológico na teologia protestante, que vinha desde o tempo dos Reformadores e acabava por tornar Deus o autor do pecado. Muitas das acusações que os calvinistas fazem contra os arminianos são falsas e indignas. Hoje em dia, há muitas igrejas protestantes que renegam a tese de Lutero, que diz ter sido o homem totalmente desprovido de livre-arbítrio por ocasião da queda. XI. APÊNDICE II: PASSAGENS BÍBLICAS QUE COMPROVAM O DESEJO DE DEUS NA REDENÇÃO UNIVERSAL (E NÃO PARTICULAR) Não há, de fato, uma redenção universal, porque a morte de Cristo não se torna eficaz nos irregenerados, todavia há o desejo de Deus na redenção universal, que os que levam o nome do doutor de Genebra tanto negam. Para estes, as palavras TODOS e MUNDO nos versículos abaixo referir-se-iam somente à totalidade dos eleitos. Não nego que estas palavras possam ter, na Bíblia, outro sentido que não o universal (por exemplo, “mundo” em Jo 15.18 é o sistema corrupto dos homens que não estão sujeitos à lei divina), todavia, para estes versículos, defendo o sentido universalista, porque, se a Bíblia diz que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.23-24), negar a expiação universal e o desejo de Deus na redenção universal é o mesmo que negar a universalidade do pecado. “TODO AQUELE, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mt 7.24). “Portanto, QUALQUER que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32). “Vinde a mim, TODOS os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). “E disse-lhes: Ide por todo mundo, pregai o evangelho a TODA criatura. QUEM CRER e for batizado será salvo” (Mc 16.15,16a). “E dizia a TODOS: Se alguém QUER vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23). “...Se vos não arrependerdes, TODOS de igual modo perecereis” (Lc 13.36). “Respondeu-lhe o Senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a TODOS a entrar, para que fique cheia a minha casa” (Lc 14.23). “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus e TODO O HOMEM emprega força para entrar nele (Lc 16.16). “Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que TODOS cressem por ele” (Jo 1.7). “Mas a TODOS quanto o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que TODO aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.17). “e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4.42). “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6.33). “Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: que TODO AQUELE que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna...” (Jo 6.40a). “E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” (Jo 12.47). “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.23,24). “Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida” (Rm 5.18). “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (Rm 11.32). “Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1Co 15.22). “Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram” (2Co 5.14) “e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15) “pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação” (2Co 5.19). “Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens” (1Tm 2.1). “...o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4). “...o qual se deu a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo” (1Tm 2.6). “Pois para isto é que trabalhamos e lutamos, porque temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem” (1Tm 4.10). “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2Pe 3.9). “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1Jo 2.2). “E nós temos visto, e testificamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo” (1Jo 4.14). “vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2.9). Os Evangelhos declaram que “o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). Todos os homens, porque as Escrituras declaram que não há um justo, nem um sequer (Rm 3.10).

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